Eduardo Varandas

A Parada do Orgulho Evangélico

A Marcha para Jesus demonstra o poder político dos evangélicos, nem sempre afinada aos ensinamentos do Cristo.

A Parada do Orgulho Evangélico

No dia 08 de junho passado, aconteceu em São Paulo a maior edição da “Marcha para Jesus”. O evento congrega diferentes igrejas evangélicas e chega ao 31º ano consecutivo no Brasil, reunindo aproximadamente 2 milhões de pessoas (segundo os organizadores).

A “March for Jesus” foi criada em Londres, em 1987, por um grupo de líderes religiosos locais como o pastor Roger Forster, da “Ichthus Christian Fellowship” e se alastrou pelo mundo, rapidamente: Argentina, Canadá, Colômbia, Cuba, Estados Unidos, Finlândia, França, Itália, Japão, Moçambique, Rússia e outros.

O organizador e presidente da “marcha”, no Brasil, é o autodenominado “apóstolo” Estevam Hernandes que declarou à imprensa que ela representa a comunhão de “todos que acreditam em Jesus Cristo” e saem às ruas para expressar sua fé.

Hernandes – aquele que foi preso em Miami pelo crime de evasão de divisas com 56 mil dólares escondidos numa bíblia falsa – equivoca-se ao conceituar o seu evento.

Ainda que extremamente numerosa, a Marcha para Jesus não representa toda a cristandade no Brasil nem sequer a maioria. A maior igreja cristã no país – a Igreja Católica de Roma – não se faz representar oficialmente no ato. Também há dissenso entre algumas denominações protestantes que não concordam com o rumo político que a solenidade tomou.

A “parada gospel de São Paulo” não é universalista e agregadora. Tornou-se um movimento político de extrema direita, preconceituoso, exclusivista, triunfalista, proselitista e que visa à demonstração de força e dominação e não necessariamente um ato de contrição e entrega espiritual.

Em 2019, o ex-presidente da República Jair Bolsonaro, no palanque da festa, sob aplausos e gritinhos de “mito”, fez gesto de uma arma na mão para uma multidão em êxtase. No mesmo ano, o cantor Fernadinho debochou da fé católica na padroeira do Brasil (Nossa Senhora Aparecida) ao vaticinar: “O Brasil não tem uma senhora, tem um Senhor”.

Obviamente, quando falo isso, não me refiro à concentração de fiéis que comparece ao evento. Acredito que muitos apresentam a legítima intenção de louvar a Jesus Cristo, através de artistas de renome da música religiosa.

Como sempre, neste ano, não faltaram políticos, ávidos por votos e holofotes, autoridades variadas, inclusive o Ministro do Supremo Tribunal Federal André Mendonça, aquele “terrivelmente evangélico” indicado por Bolsonaro à vaga deixada por Marco Aurélio. Na edição de Curitiba, o Senador Moro subiu no palanque para defender o deputado cassado Deltan Dallagnol.

A grande atração do “Dia do Orgulho Evangélico versão paulista” ficou por conta do governador de São Paulo Tarcísio Freitas, afilhado político de Bolsonaro, que foi anunciado pelo apóstolo Hernandes como “aquele que tem a Palavra de Deus dentro de si”.  O segmento, por óbvio, com sede de poder e saudoso da época bolsonarista, profetiza Freitas como futuro presidenciável e oponente ao “satânico governo do PT”.

Por falar nisso, o Governo Federal fez-se representar no evento pelo Ministro da AGU e pela deputada federal Benedita da Silva, amplamente vaiados ao mencionarem o nome do Presidente da República e falarem de paz. Bem-feito! Esqueceram de ler a Bíblia: “Ninguém pode servir a dois senhores; pois odiará um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro.” (Mateus, 6:24).

Para fins de reflexão dos crentes e descrentes, explicito as palavras do pastor e teólogo Zé Barbosa sobre a Marcha para Jesus: “Tenho a absoluta certeza de que o último lugar que o Jesus dos Evangelhos estaria seria nessa infame marcha que leva o nome dele. Se lá estivesse, somente se fosse para ser julgado como foi na Páscoa judaica que é narrada nos evangelhos. E certamente ouviria de novo, do mesmo povo “religioso”, a sentença de morte: ´Crucifica! Crucifica! ´”

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