Clilson Júnior

Professor x rottweiler

No dia 15 do mês passado foi o dia dos professores. A coluna quase passou batida na data, mas já […]

No dia 15 do mês passado foi o dia dos professores. A coluna quase passou batida na data, mas já que sou filho de professora, minha mãe Edileuza foi logo me cobrando, “Não escreveu nada sobre os professores?” tentei justificar que havia falado no rádio no Debate Sem Censura da Sanhauá, e escrever seria ocupar mais uma espaço para falar do quanto tratam mal esses profissionais em todo Brasil. “Acho melhor você escrever”, veio a ordem de minha mãe que ensina “artes” há quase trinta anos.

 

Além de minha mãe ser educadora, também lecionei em escolas como Marista Pio X, Marista Santo Antônio de Natal, no Colégio Visão e em outros colégios. Dei minha contribuição por algum tempo, antes de falta a sensação de professor e de sistir da profissão. Lembrei de alguns de meus professores , lá no começo, Dona Ester, Dona Lia de Dona e Dona Carmem, três irmãs de Jaguaribe que ensinaram muita gente ler na avenida Capitão José Pessoa. Fez parte da minha infância a dedicação destas mulheres.

 

 

Outro dia fui visitar o Lyceu, escola que estudei. Não encontrei nenhum educador da minha época que faz muito tempo. Pessoas novas ensinando. Me bateu uma saudade. Encontrei alguém lendo seu jornal tranquilamente no horário do intervalo. Naquele momento rolou um dialogo entre um aluno e um professor com um ar meio abalado, mais ou menos assim:

 

– Bom tarde professor.

– Bom tarde meu filho, ta tudo bem?

– Mais ou menos, tenho uma notícia boa e uma ruim, qual você quer primeiro?

– Xiii, la vem, manda a ruim logo para seu professor aqui, pois noticias boas estão difíceis de ouvir hoje em dia.

– A ruim é que ouvi no rádio que o governador não vai dar aumento algum para vocês.

– Não acredito, você só pode estar tirando um sarro da minha cara, onde você ouvi isso menino?

– Não estou não professor, com salário de professor não se brinca.

– Você esta louco então? Estou ensinando a quase 23 anos e meu salário não passa de R$ 1.600,00, dou um duro danado, diga logo onde ouviu isso .

– Na rádio Correio, o governador disse que o a Paraíba passa por uma crise…

– Crise um cacete, crise passamos nos professores que nem condições de trabalho temos.

 

Nesse momento outro professor furioso, amassa o jornal, joga no chão e sai indignado em direção a porta quando da diretoria:

 

– E o senhor não vai querer nem ouvir a notícia boa, professor?

– Qual é a notícia boa?

– O governador autorizou a compra de computadores para os professores da rede pública. Todos, sem exerção, ganharão notebooks com ótima memória, de última geração, com características oficiais, duráveis com ótimas qualidades…

– E nossos salários? Sem aumento real a perder na memória, com uma defasagem real desde a última geração e sem perspectiva alguma de solução.

 

O aluno fez uma pausa, respirou fundo, caminha de volta a sala, apanha o jornal do chão, deu um abraço no professor e falou.

 

– Eu estava decidido cursar Letras e ser um professor.

– E não vai mais?

 – Pra que professor? Se hoje o senhor ganha igual a um cobrador de ônibus, daqui que eu me forme e comece a ensinar meu salário estará menor que um bom gari.

 – Calma filho, falta apenas pouco mais de um ano para essa Paraíba sair dessa buraqueira, onde professor vale menos que um filhote de filhote de rottweiler.

 

Feliz dia para todos os professores.

COMPARTILHE

Bombando em Clilson Júnior

1

Clilson Júnior

19 de março de 2017, Lula em Monteiro

2

Clilson Júnior

Vené, o senador de Lula

3

Clilson Júnior

E agora Ruy Carneiro?

4

Clilson Júnior

O Big Brother do Padre Egidio e as gravações que vão balançar o poder

5

Clilson Júnior

Padre Egidio na cadeia, viva o TJ da Paraíba