O documentário "O Engenho de Zé Lins", de Vladimir Carvalho, levou dois Candangos no 39º Festival de Brasília. O anúncio foi feito na noite de encerramento do festival, que aconteceu no dia 28 de novembro. Melhor montagem (Renato Martins e Vladimir Carvalho) e Prêmio Especial do Júri. Além disso, ganhou o Prêmio Câmara Legislativa do Distrito Federal como melhor longa 35 mm, no valor de 50 mil reais.
O filme do paraibano radicado em Brasília tem fotografia assinada por seu irmão, o premiado Walter Carvalho. Ele recria passagens da vida e da obra do escrito José Lins do Rego (1901-1957), autor do romance Menino de Engenho.
Um filme afetivo, que mostra a literatura de José Lins, sobretudo a ambientada em Itabaiana (PB), cidade-natal de Carvalho, e compõe a memória de infância do diretor, que ouvia as histórias lidas por seu pai à família.
Premiações
No final, compensou a polêmica. "Baixio das Bestas", do diretor pernambucano Cláudio Assis, venceu na noite de terça seis prêmios no Festival de Brasília, inclusive o mais cobiçado, de melhor filme, no valor de 80 mil reais.
Desde o começo do festival, "Baixio das Bestas" era o filme mais esperado, porque já era conhecido o potencial de contestação deste diretor, que estreou em 2002 com "Amarelo Manga".
Nesta nova passagem por Brasília, Cláudio Assis levou, além do troféu Candango de melhor filme para o júri oficial, também os de melhor atriz (Mariah Teixeira), melhor ator (Irandhir Santos), melhor atriz coadjuvante (Dira Paes), melhor trilha sonora (para o músico Pupillo) e também o de melhor longa-metragem 35 mm para a crítica especializada.
A consagração de Cláudio Assis dividiu as reações da platéia do Teatro Cláudio Santoro, onde ocorreu a cerimônia de premiação. Houve aplausos, mas também fortes vaias. Alguns integrantes da equipe do filme "Batismo de Sangue", outro concorrente, retiraram-se ostensivamente quando foi anunciado o troféu de melhor filme para "Baixio das Bestas".
"Batismo de Sangue", do mineiro Helvécio Ratton, levou apenas dois troféus: melhor diretor e melhor fotografia (para Lauro Escorel). Agradecendo o troféu de direção, no valor de 20 mil reais, Ratton dedicou-o "àqueles que caíram nos porões da ditadura e nunca mais se levantaram". O filme retrata as memórias de Frei Betto e um grupo de outros jovens religiosos dominicanos, que aderiram à luta armada durante a ditadura militar, nos anos 1970.
No fundo do palco, ouviram-se, além das vaias, gritos de "júri safado" diante do resultado da premiação. Tranquilo no palco, Cláudio Assis apenas comentou ironicamente: "Obrigado pela educação". Uma reação até certo ponto surpreendente porque, quando passou por Brasília há quatro anos, Assis era conhecido por se expressar usando sempre muitos palavrões. Desta vez, chamou a atenção por sua serenidade.
O segundo filme mais premiado da noite foi o concorrente paulista "Querô", de Carlos Cortez, com quatro troféus: melhor som (Louis Robin), melhor direção de arte (Fred Pinto), melhor roteiro (Carlos Cortez, Bráulio Mantovani e Luiz Bolognesi) e melhor ator para o estreante Maxwel Nascimento, de apenas 16 anos.
O jovem teve uma das reações mais emocionadas. Desceu chorando os degraus que o separavam do palco, abraçado a três colegas de elenco e disse: "Este filme foi um avião que saiu. Agora eu só quero fazer cinema!".
Logo depois, ele e os colegas ensaiaram uma coreografia de hip hop.
A premiação de ator pode ser considerada uma das maiores surpresas da noite. A expectativa era que o troféu fosse para Caio Blat, que teve dois papéis de peso em dois concorrentes, "Batismo de Sangue" e "Baixio das Bestas".
O documentário "Encontro com Milton Santos ou a Globalização Vista do Lado de Cá", do carioca Sílvio Tendler, venceu, como era esperado, o troféu de melhor filme para o júri popular.
Entre os longas, só o documentário "Jardim Ângela", de Evaldo Mocarzel (SP), não recebeu nenhum prêmio.
Redação, com Uol