Christopher Paolini começou a escrever o romance Eragon quando tinha 15 anos, e o publicou aos 18. É essa mais ou menos a faixa etária das pessoas que se interessarão pela versão da história para o cinema, numa trama que acontece há dois milênios, sobre um garoto e seu dragão voador.
O jovem escritor claramente estava impregnado das obras de J.R.R. Tolkien e muitos outros livros fantásticos e mitos europeus quando criou seu mundo. Mas trata-se de um mundo sem muitas nuances ou profundidade. Heróis, vilões, magia, amor, honra e destino há de sobra, mas há pouca complexidade na conformação social, cultural ou política desse mundo.
Assim, o longa, dirigido pelo mestre nos efeitos visuais Stefen Fangmeier, com roteiro de Peter Buchman, não tem como escapar do banal nesse tipo de filme fantástico.
Eragon (o jovem Ed Speleers, que parece um pouco assustado em seu primeiro longa) descobre uma estranha pedra azul enquanto caçava nas montanhas. Ele não consegue trocá-la por comida, e pouco depois a coisa racha e de dentro dela sai um dragãozinho fofo, uma raça que se acreditava estar extinta, graças ao malvado rei Galbatorix (John Malkovich).
O rei e seu mago, Durza (Robert Carlyle), que sabem muito bem o que o nascimento do dragão significa, enviam homens para matar o menino e o animalzinho, que recebera o nome de Saphira.
Os terríveis Razacs que caçam o menino matam o tio dele, e Eragon foge com Brom (Jeremy Irons), um velho guerreiro cínico e aparentemente acabado. Brom conta a Eragon que ele é o cavaleiro do dragão, previsto por uma profecia, e que terá participação importante numa guerra entre o exército do rei e o exército humano e secreto dos varden, comandado por Ajihad (Djimon Hounsou).
O filme (Eragon, Aventura, EUA, 2006, 110 min) usa bem as locações pedregosas na Hungria e na Eslováquia, áreas que Eragon e Brom têm de atravessar até chegar ao refúgio montanhoso dos varden. O centro do longa, no entanto, é Saphira, uma criatura criada por computador com características clássicas de uma feminilidade marcante. Como o dragão é dublado por Rachel Weisz na versão original e por Fernanda Vasconcelos em português, há um certo "clima" entre o cavaleiro e o animal.
Para o público jovem, os vôos da dupla, enquanto aprende a lidar com os movimentos do outro, e a batalha final serão os momentos mais emocionantes. Para os adultos, esses mesmos vôos soarão meio decepcionantes, meio superficiais demais. A computação gráfica já criou coisas tão incríveis nos últimos dez anos que os cineastas precisam ser mais criativos para conseguir um impacto genuíno.
Os jovens atores, como Sienna Guillory, no papel da princesa Arya, e Garrett Hedlund, como um salvador de Eragon, mas com um passado negro, estão um tanto empenhados demais. Irons e Malkovich, superexperientes em papéis absurdos, dão a suas falas um tom aborrecido e autocrítico que provocam algumas risadas entre os espectadores adultos.
Confira a programação nas salas de cinema de João Pessoa.
Reuters