Esta é a última semana em cartaz do filme A Concepção ((Drama, Brasil, 2005, 96 min), no Cine Bangüê do Espaço Cultural, com sessões de sexta a domingo, às 18h30 e 20h30. Os ingressos custam R$ 4,00 (inteira) e R$ 2,00 (estudante e pessoas acima de 60 anos).
Drama brasileiro, com direção de José Eduardo Belmonte, A Concepção conta a saga de três filhos de diplomatas que vivem juntos em Brasília num apartamento vazio, sem os pais e cheio de quinquilharias.
Trocam afetos variados alheios ao mundo. Entediados, tentam viver cada dia como se fosse único. O processo radicaliza quando X (Matheus Nachtergaele), uma pessoa sem nome e sem passado, entra na casa e propõe ir sem freios na idéia de viver apenas um dia.
No elenco estão: Juliano Cazarré, Milhem Cortaz, Murilo Grossi, Rosanne Holland, Gabrielle Lopes e Matheus Nachtergaele.
Rosanne Holland (Liz)
Agora com um novo equipamento, o Cine Bangüê dispõe de um sistema que permite uma leitura do som digital dos filmes produzidos atualmente, além de uma reforma no sistema de projeção.
Confira a opinião da crítica (Mix Brasil – Luffe Stefen) sobre o filme
Desde a chamada retomada do cinema brasileiro, com o estouro de “Carlota Joaquina” (94, de Carla Camuratti), a produção nacional vem resistindo em tocar nos temas da sexualidade, com poucas exceções. A tentativa mais forte de abordar essa questão veio com “Madame Satã” (02, de Karim Ainouz).
Agora, chega às telas um filme que busca invadir esse terreno, ainda que de forma indireta, pois a invasão proposta vai além da temática sexual e questiona a própria existência humana. “A Concepção”, longa brasiliense dirigido por José Eduardo Belmonte, é um filme brasileiro bem diferente do padrão nacional, em todos os sentidos.
O cenário é Brasília, terra estranha com gente esquisita. Um local construído, implantado no meio do país e até hoje misterioso. Ali, em meio ao vazio existencial, Alex (Juliano Cazarré) e Liz (Rosanne Holland), riquinhos filhos de diplomatas, gastam o tempo no apartamento dele, fazendo loucuras. Entra para o grupinho Lino
(Milhem Cortaz), formando um trio de doidinhos. Depois é a vez de Ariane (Gabrielle Lopes), uma garota perdida que acaba de tentar o suicídio, e Márcio (Murilo Grossi). Mas a vida começa a mudar de fato quando o grupo conhece X (Matheus Nachtergaele), uma figura excêntrica, meio travesti, meio psicopata.
O bizarro X instala no já desequilibrado grupo um desejo de transgredir as fronteiras. Começa um mergulho no mundo das drogas: remédios alucinógenos em geral. E mais a loucura sexual, incluindo orgias, transas gays, lésbicas e afins. O passo seguinte, proposto por X, é o manifesto concepcionista.
O movimento consiste em anular a individualidade, reinventando a personalidade a cada dia. Assim, os integrantes passam a viver um personagem por dia, pirando cada vez mais e levando a situação a um ponto-limite. Depois disso, ocorre a separação do bando.
É a partir daí, da metade da narrativa, que o filme realmente decola. A primeira parte, repleta de explosivas cenas de sexo, nudez total dos atores, uso de drogas e viagens psicodélicas, muitas vezes fica presa à plástica e ao ritmo de videoclipe. A segunda parte, justamente por ser mais discreta e psicológica, consegue penetrar de verdade nos personagens e finalmente revelá-los. Culminando com o final lírico e, pela primeira vez no filme, surpreendente.
Um dos trunfos do filme é o uso de diversas texturas e suportes cinematográficos. Misturando Super-8 com vídeo, 16 e 35mm, o resultado é um visual fascinante e frenético, que em muitos momentos é de uma beleza ímpar. Outra força reside na entrega do elenco. Apesar de momentos irregulares ao longo da história, os atores conseguem deixar sua marca em atuações corajosas que dificilmente seriam realizadas por astros típicos de novela. Destaque para Matheus Nachtergaele, Juliano Cazarré, Rosanne Holland e principalmente Milhem Cortaz.
O longa traz várias referências cinematográficas. A mais forte remete ao clássico de Stanley Kubrick, “Laranja Mecânica” (71), nos ambientes futuristas – uma decoração meio 60’s, meio espacial – e o uso da câmera em grande angular. Além do nome de um dos protagonistas – Alex, mesmo nome do “herói” do filme de Kubrick, interpretado por Malcolm McDowell.
O filme recebeu os merecidos prêmios de Melhor Montagem (de Paulo Sacramento e Belmonte), Melhor Trilha Sonora (que inclui David Bowie, Secos & Molhados e o duo Tetine), Prêmio Saruê e Prêmio Câmara Legislativa no 38º Festival de Brasília, em novembro de 2005. A estréia nacional acontece em 12 de maio.
Confira a programação nas salas de cinema em João Pessoa.
Redação