Misture o jeito de um carro de passeio com o tamanho de um utilitário esportivo. Adicione o desenho típico de um protótipo e utilize a gosto os 231 cavalos de potência do motor 3.5 litros V6. É como se fosse a receita de um bolo, mas esses são alguns dos ingredientes do Nissan Murano, modelo produzido no Japão para o mercado norte-americano, que acabou ganhando o mundo e desembarcou por aqui em outubro do ano passado.
Mostrado pela primeira vez no Brasil no Salão do Automóvel de São Paulo de 2004, o crossover (cruzamento, em português) foi o primeiro veículo lançado no país integrante do programa “Shift_Mercosul”, estratégia de mercado da montadora que visa elevar a participação da marca no Mercosul e, principalmente, mudar a imagem da Nissan.
E apesar das grandes proporções, o Murano mostra-se domável no cotidiano, disposto a ganhar velocidade a qualquer hora, fácil de estacionar (mesmo sem o sensor de estacionamento) e ágil, por incrível que pareça. Conforme as medições do Instituto Mauá de Tecnologia (IMT), o modelo apresenta números de dar inveja a muitos esportivos por aí.
Com um pé na lama e outro do asfalto, o veículo traz ângulo de ataque de 28º, ângulo de saída de 25º e vão livre do solo de 1,75 metro. Credenciais mais do que suficientes para encarar uma trilha — apesar de a suspensão não ajudar muito — ou (mais próximo da realidade dos consumidores do modelo) ruas esburacadas ou alagadas. O difícil mesmo é não chamar a atenção.
ESTILO
É um carro diferente, isso não se discute. Mas para se ter idéia dessa diferença, os designers da Nissan Design America, o centro de estilo da marca em San Diego (Califórnia, EUA), juram que a fonte de inspiração do Murano foi uma bola de futebol americano — dá para acreditar? Outra curiosidade: o nome de batismo, remete às peças de cristais produzidas em Murano, uma ilha do norte da Itália. Porém, o crossover não é o primeiro modelo da marca a “evoluir” de objetos. A Frontier também teve uma fonte inspiradora inusitada: uma luva de boxe.
Disponível no Brasil somente nas cores prata e preta (a cinza não veio para cá), à primeira vista o que mais chama a atenção são os itens cromados. A começar pela grade dianteira. Com dimensões generosas (4,77 metros de comprimento, 1,88 m de largura, 1,70 m de altura e distância entreeixos de 2,82 m), o modelo transporta com sobra de espaço cinco adultos. Com os bancos em posição normal, a capacidade do porta-malas é de 480 litros e, com o encosto rebatido, esse volume sobe para 880 l.
Todo esse tamanho é aliado ao requinte de carro de luxo. No mercado nacional, o modelo é oferecido apenas na versão SE, que traz bancos em couro, teto-solar de acionamento elétrico, ar-condicionado automático e som Bose com CD changer para seis discos, quatro alto-falantes, dois tweeters e um subwoofer.
Ambos os bancos têm ajuste elétrico de distância e de inclinação do encosto, mas só o do motorista conta com funções complementares (regulagem de altura e de apoio lombar), além de duas posições de memória que, além do banco, ajusta os pedais e os espelhos retrovisores. O acabamento interno é primoroso, abusando do couro e aplicações de alumínio. O motorista tem a seu dispor uma infinidade de botões, de forma que as teclas do computador de bordo chegam a lembrar um teclado do computador pessoal.
Na fusão de estilos, o quadro de instrumentos contém contagiros, velocímetro e indicadores de temperatura e do nível de combustível circulares, abrigados em uma caixa metálica formada por linhas retas, remetendo aos utilitários. Já o console central é formado por vários compartimentos cobertos por placas de alumínio, dignos de um sedã de luxo. Vale destacar também a enorme distância entre o volante e o pára-brisa.
DESEMPENHO
Não fosse a altura, os pneus de uso misto e a tração integral, o crossover poderia ser considerado uma minivan. Isso porque o modelo roda macio na cidade, mesmo no trânsito intenso. Não era para menos: o Murano esconde sob o capô um 3.5 l V6, que não se acanha em consumir gasolina — diga-se de passagem. Denominado VQ35DE, é (basicamente) o mesmo propulsor do 350Z, calibrado para atingir 300 cavalos de potência. Este motor também equipa outros modelos Nissan e Infiniti. No crossover, ele foi ajustado para oferecer 231 cv a 6.000 rpm e torque de 32,42 kgfm a 3.600 rpm.
Mesmo pesando 2.380 quilos (peso bruto mais carga), o Nissan impressiona quando o assunto é aceleração. Nos testes de 0 a 100 km/h realizados pelo IMT, o Murano precisou de apenas 9,84 segundos. E nas retomadas as surpresas continuam. Para acelerar de 40 km/h a 80 km/h foram necessários 5,97 s e, nas medições de 60 a 100 km/h, 6,98 s.
Um dos grandes responsáveis por esses números certamente é o câmbio CVT Xtronic (sistema semelhante ao utilizado na segunda geração do Sentra), de relações de marchas continuamente variáveis. Além do modo automático, o câmbio oferece trocas seqüenciais manuais. Basta deslocar a alavanca para o lado direito da guia. São seis marchas, indicadas no painel.
Voltando aos números, o Murano simplesmente ignora seu peso, tamanho e potência na hora das frenagens. A 60 km/h, o veículo pára em 22,9 metros e, a 100 km/h, precisa de 56,1 m. Em outras palavras, o Murano breca melhor que seu companheiro de montadora, o Sentra. A segunda geração do sedã – mais leve e bem menor que o crossover – freou em 23,4 m e 60,8 m, respectivamente.
O silêncio e isolamento acústico interno merecem destaque. O ruído do motor é tão baixo que um motorista mais distraído é capaz de dar na partida sem perceber que o carro já está ligado. E, em movimento, a situação é a mesma. A 120 km/h, o propulsor trabalha na casa dos 1.800 rpm.
Porém, nem tudo são flores. No consumo a coisa pega. O computador de bordo – de seis funções, informadas em um monitor de cristal líquido de 5.8 polegadas – registra 5,5 km/l na cidade e, na estrada, 10 km/l. Com a média de consumo combinado (estrada/cidade) de 7,75 km/l, o modelo conta com autonomia próxima de 640 quilômetros com o tanque de 82 litros.
Outro item que não poderia deixar de ser mencionado é a suspensão. As quase 2,4 toneladas dominam o conjunto, principalmente nas curvas, inclinando a cabine facilmente. Mesmo sendo muito confortável e oferecendo ótima dirigibilidade, o Murando peca quando o assunto é amortecimento, pois a suspensão é macia demais para quem deseja dirigir de forma mais agressiva.
Neste aspecto, a Nissan deixa claro que o veículo foi feito para proporcionar conforto em longas viagens (daí o nome crossover), apesar de trazer estilo e atributos de um off-road, como tração nas quatro rodas.
MERCADO
Produzido em Kyushu, uma das três unidades fabris da Nissan Motor Co, no Japão, o Murano foi lançado em 2003, nos Estados Unidos, mas ainda tem estilo atual. Equipado com rodas de alumínio de 18 polegadas, calçadas por pneus 225/65R18 103H, o modelo tem como público-alvo consumidores que buscam visual diferenciado, performance e custo-benefício, conforme destaca a marca.
Dotado de faróis de xenon auto-ajustáveis, controle eletrônico de estabilidade (ESP), seis airbags – dois dianteiros, dois laterais e cortinas laterais —, o Murano conta com garantia de dois anos, sem limite de quilometragem. E, mesmo com essas qualidades e este recheado pacote de equipamentos, não tem cativado muitos consumidores.
Desde outubro de 2006 a abril de 2007, apenas 52 unidades do modelo foram comercializadas, segundo informações da própria Nissan. Número abaixo da média de 10 unidades por mês estimado pela marca na ocasião do lançamento do Murano no Brasil. Mas para isso há duas explicações cabíveis. A primeira é o preço sugerido do veículo: R$ 226.490. Ou seja, é segundo Nissan mais caro vendido no país, perdendo somente para o esportivo 350Z, comercializado a R$ 230 mil.
O segundo motivo — e talvez o mais importante — é a concorrência. O Murano trava uma verdadeira “briga de cachorro grande” contra Volkswagen Touareg 4.2 V8 FSI, BMW X3 3.0 V6 e Volvo XC90 2.5 Turbo cinco cilindros. Estes são considerados pela Nissan como adversários diretos do modelo. Mas, como se não fosse o bastante, o segmento conta ainda com Subaru Outback, Mitsubishi Airtrek e Mercedes-Benz Classe R.
Ficha técnica Nissan Murano SE 3.5
Motor Dianteiro, transversal, V6, DOHC, 24 válvulas, a gasolina
Cilindrada (cm³) 3.498
Potência (cv) 231 a 6.000 rpm
Torque (kgfm) 32,42 a 3.600 rpm
Taxa de compressão 10,3:1
Câmbio Automático, tipo CVT Xtronic, com modo seqüencial de 6 marchas e tração 4WD
Comprimento (m) 4,77
Largura (m) 1,88
Altura (m) 1,70
Entre-eixo (m) 2,82
Porta-malas(l) 480
Peso (kg) 1,87
Ângulo de entrada(º) 28
Ângulo de saída (º) 25
Suspensão Independente nas quatro rodas com molas helicoidais e barra estabilizadora
Freios Dianteiro e traseiros com discos ventilados com sistemas ABS e EBD
Tanque (l) 82
Preço (R$) 226.490 mil
Uol