Márcio, 40 anos, olha desconfiado para a reportagem, não conta o sobrenome e só aceita tirar foto escondido atrás de um dos aviões infláveis que vende no Aeroporto de Congonhas, na Zona Sul de São Paulo. Na hora em que deu sua entrevista, em meio a passageiros aflitos aguardando vôos atrasados e buscando informações, ele já havia vendido “uns oito ou nove” aviõezinhos, sempre com o slogan infalível, repetido durante todo o dia no saguão do aeroporto mais movimentado do país: “Esse não atrasa, esse não atrasa”.
» Galeria de fotos
Constantemente retirado pela segurança do aeroporto, Márcio foi um dos vendedores ambulantes que insistiram em circular pelo aeroporto aproveitando a movimentação intensa ocasionada pela crise aérea nacional.
Sempre atento, ele passou a tarde vendendo seus aviões que não atrasam e tentando driblar os seguranças. “A gente tem que se virar, né? Eu estou trabalhando”, disse, segurando o avião com o símbolo da TAM, empresa cujos vôos foram os mais afetados pelos atrasos.
No fim da tarde, depois das 17h, enquanto Márcio vendia seus aviões, o sistema de som avisava que os problemas desta vez não estavam relacionados ao controle de tráfego aéreo. Os passageiros foram informados de que o mau tempo de quarta-feira (20) na região Sudeste, problemas no provedor da TAM no Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, e falhas em seis aeronaves da empresa, que precisaram de manutenção não programada, causaram o “efeito dominó” que afetou os vôos em todo o país.
Rotina?
“O atraso não vai mudar o movimento. Ninguém vai deixar de ir aos aeroportos por causa dos atrasos”, aposta Pérsio Bianco, que há oito anos ganha a vida numa loja no saguão de Congonhas. “A gente vê que há um aumento da demanda, mas a estrutura não comporta mais. Não adianta só reformar, São Paulo precisa de mais um aeroporto”, opina.
Segundo o último boletim da Anac, até às 17h, de 207 vôos de Congonhas deste dia 21, 77 atrasaram e três foram cancelados, o que motivou 17 reclamações de passageiros. “A gente já está se programando com base nos atrasos. Hoje eu vim mais cedo porque sabia que teria problemas no check in. A gente acaba chegando mais cedo para esperar mais”, afirmou Nilma Lopes de Souza, que veio do Maranhão para tratamento médico do filho Lucas, de 9 anos.
“Trouxe um lanche para ele, a gente vai esperando”, explicou, enquanto o menino corria pelo saguão lotado.
G1