À certa altura do show, depois de cantar Fly Me To The Moon e The Lady is a Tramp, Frank Sinatra apontou sua mão direita e seus olhos azuis em direção ao empresário sul-mato-grossense Henry Maksoud. "Senhor, este é um dos mais belos hotéis que já vi no mundo inteiro", disse Sinatra no seu microfone dourado, de gravata borboleta e lenço vermelho na lapela, na noite do dia 13 de agosto de 1981. "O único porém é que, quando saio do meu quarto, não consigo olhar para baixo… é muito alto!"
Palco de histórias que muitas vezes se confundem com a memória da cidade de São Paulo, o velho cinco-estrelas Maksoud Plaza pode estar com seus dias contados. Hoje, às 10h39, o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) vai leiloar o hotel localizado a um quarteirão da Avenida Paulista para pagar credores trabalhistas de uma empresa de Henry Maksoud, a Hidroservice Engenharia. Nos corredores do Maksoud, o assunto é considerado tabu – nem a Assessoria de Imprensa nem o empresário quiseram comentar a notícia. O lance mínimo para arrematar o arranha-céu de 22 andares e 416 apartamentos, com seu arrojado vão central que imperou na década de 80, é de R$ 47,5 milhões. O hotel segue funcionando normalmente, ainda que sem o glamour de outros tempos.
"O valor de mercado é de R$ 95 milhões, então esperamos atingir ou até mesmo ultrapassar esse preço", diz o juiz Wilson Pirotta, responsável pelo leilão que acontecerá no auditório do Fórum Rui Barbosa, na Barra Funda, zona oeste da cidade. Pirotta explica que há um pedido de liminar no TRT, impetrado no dia 8 de maio, para suspender os efeitos do leilão. "Ainda será julgado o mérito desse recurso, então o leilão vai ocorrer normalmente. Pela localização e importância do Maksoud, acreditamos que o interesse seja muito grande."
Inaugurado na manhã de 1º de dezembro de 1979 (antes o local abrigava um mosteiro de monjas beneditinas), o Maksoud ficou famoso por hospedar músicos do naipe de Sammy Davis Jr. e Buddy Guy. Sinatra encantou a platéia na inauguração do bar do hotel em 81. Líder da banda Guns N? Roses, Axl Rose atirou uma cadeira do 2º andar, em pleno lobby. Já Ângela Vidal, a malvada executiva interpretada por Claudia Raia na novela Torre de Babel, morreu no último capítulo ao despencar no mesmo lobby.
Com a penhora, o Maksoud se junta ao time de hotéis famosos da região central de São Paulo que sucumbiram ao peso do tempo. O Crowne Plaza, cinco-estrelas na Rua Frei Caneca, fecha as portas nesta semana para ser vendido ao Ministério Público Federal por R$ 42 milhões. O prédio vai passar por reformas, com objetivo de adequar as instalações – fica a cargo do violeiro Levi Ramiro encerrar a programação de shows no hotel, amanhã, às 21 horas.
Na Rua Augusta, o Ceasar Park está desativado desde o fim de 2003 e irá virar uma unidade da Faculdade das Américas (FAM) no ano que vem. O Hilton Hotel, na Avenida Ipiranga, inaugurado em outubro de 1971, é outro que segue com futuro incerto. Após quase três anos vazio, o antigo prédio na Avenida Ipiranga foi alugado no fim do ano passado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) por R$ 670 mil mensais. Seria a nova sede de cerca de 140 desembargadores de Direito Público da capital. O TJ-SP chegou a inaugurar as instalações em dezembro, mas até agora não transferiu os gabinetes para o local – segundo o Estado apurou, muitos desembargadores que iriam se mudar para o Hilton não gostaram da idéia e argumentaram que a vizinhança não era boa. E agora o Tribunal de Justiça diz oficialmente que está "revisando todos os termos do contrato".
"Tivemos um período de mais oferta do que demanda, e o fechamento de hotéis é um reflexo disso", diz Nelson Baeta Neves, proprietário do Crowne Plaza e presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis. "Há boatos também que uma incorporadora quer comprar um hotel histórico no centro, na Rua Augusta. Mesmo sendo boato, mostra que o mercado hoteleiro está precisando de um chacoalhão."
Fonte: Estadão