No meio da multidão que circula no entorno da Central do Brasil, onde há centenas de camelôs e três terminais rodoviários, traficantes de drogas se misturam a trabalhadores. São bandidos que descem diariamente o Morro da Providência, um dos mais rentáveis domínios da facção criminosa Comando Vermelho (CV). Chefiada por Evanilson Marques da Silva, o Dão, a quadrilha se aproveita do movimento frenético e já fatura R$ 1 milhão por mês com as vendas no “asfalto” e em seus pontos no alto da favela.
O morro é um dos mais bem armados – homens do bando desfilam à luz do dia com armamento pesado. Visados pela polícia nas imediações da Zona Portuária, os traficantes transferiram seus postos para o lado oposto, de frente para o eixo movimentado da Central.
Percebendo a mudança na atuação dos bandidos, policiais da 4ª DP (Central) montaram uma resistência contra os criminosos e chegaram a prender 19 integrantes da quadrilha em 2005. Entre os ‘esticas’ (traficantes no ‘asfalto’) estão algumas prostitutas.
Mas o mais comum são os homens, que circulam a pé ou de bicicleta oferecendo papelotes de cocaína (de R$ 1 a R$ 30) a quem vai para os terminais Américo Fontenelle e Procópio Ferreira e também para pontos de vans.
Usar mulheres é uma das estratégias dos bandidos. Elas são obrigadas a observar a movimentação da polícia, levar ‘encomendas’ aos usuários em bares ou no camelódromo e guardar armas e drogas. Exemplo disso é o que ocorre no Casarão, hotel invadido por 52 famílias próximo a um acesso ao morro. Quem mora ali e não atende aos pedidos dos bandidos corre risco de ser expulso, espancado ou até assassinado.
“Nossa ação aqui exige muita cautela, para não colocar a vida de inocentes em risco. Em alguns confrontos, eles chegam a usar mulheres com crianças como escudo. São covardes, audaciosos e perigosos com uma arma na mão. As prisões que fizemos foram resultado de uma longa e cuidadosa investigação”, explica a delegada Evanora de Moraes, titular da delegacia local, a 4ª DP.
O Dia
