A produção industrial brasileira surpreendeu e caiu 1,4 por cento em setembro ante agosto, após dois meses de crescimento.
O dado, apresentado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça-feira, deve levar o mercado a reduzir a estimativa de crescimento da economia no terceiro trimestre. Analistas consultados pela Reuters esperavam, em média, retração de 0,54 por cento.
"Além da greve das montadoras houve um conjunto de fatores, como a perda de ritmo das exportações e a concorrência dos importados eletroeletrônicos devido à desvalorização cambial", afirmou a jornalista Silvio Sales, economista do IBGE.
"Em setembro, repetiu-se o sobe-e-desce comum da indústria. A diferença é que o saldo desses movimentos vinha mostrando tendência positiva. Com o recuo de setembro observa-se agora uma clara estabilidade".
Apesar do indicador, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, acredita que a tendência da economia é de crescimento.
"A produção varia dependendo de uma série muito grande de fatores. Portanto, não podemos nos prender em dados pontuais", disse Meirelles a jornalistas após evento em São Paulo.
Das 23 atividades pesquisadas pelo instituto, 12 recuaram. Entre as indústrias que reduziram a produção, o movimento mais forte foi registrado no setor automotivo, com queda de 9,3 por cento. As greves nas montadoras foram cruciais para a diminuição.
"A primeira impressão é de queda generalizada, mas o setor automobilístico pesou bastante por conta das greves em montadoras", afirmou Giovanna Rocca, economista do Unibanco.
"Precisamos analisar melhor os dados, mas a primeira conseqüência do desempenho tão negativo da indústria deve ser a revisão do PIB (Produto Interno Bruto) do terceiro trimestre para baixo. Isso não quer dizer que será negativo, mas menor", completou Rocca.
EFEITO CAMBIAL?
Para o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), mais do que a queda da produção, chama atenção "a sugestão de que a excessiva valorização do câmbio, que já vinha afetando fortemente setores como têxtil, vestuário, calçados e madeira, estaria agora atingindo também outros segmentos".
No ano, até esta terça-feira, o dólar acumula baixa de 8 por cento frente ao real.
Na comparação com setembro do ano passado, a atividade das indústrias no país avançou 1,3 por cento.
De janeiro a setembro, a atividade industrial brasileira acumula avanço de 2,7 por cento. Nos últimos 12 meses, a evolução é de 2,3 por cento.
Reuters