A polícia prendeu na manhã deste domingo o quinto e último suspeito de envolvimento no roubo que acabou com a morte de João Hélio Fernandes, 6, na noite da última quarta-feira (7), na zona norte do Rio. Carlos Eduardo Toledo Lima, 23, se entregou à polícia e negou participação no crime.
O menino ficou preso no cinto de segurança e foi arrastado por cerca de 7 km, depois que o carro em que estava foi roubado. Lima, que tem antecedentes criminais, teria dirigido o veículo com a criança pendurada.
Os outros quatro suspeitos detidos são um adolescente de 16 anos; Diego Nascimento da Silva, 18; Carlos Roberto da Silva, 21; e Thiago Abreu Mattos, 18. Mattos foi preso quinta (8) e liberado por falta de provas, mas voltou a ser preso na noite de sexta (9).
Para a polícia, os cinco foram ao local do crime, uma rua Oswaldo Cruz no subúrbio do Rio, no táxi dirigido por Thiago. Carlos Eduardo, Diego e o jovem teriam participado efetivamente do assalto.
Os três maiores de idade devem ser indiciados pelos crimes de latrocínio (roubo seguido de morte) e formação de quadrilha. O adolescente deverá cumprir medida socioeducativa por no máximo três anos.
Em depoimento à Polícia Civil, ao menos um dos suspeitos o Diego havia dito que não sabia que o menino havia ficado preso ao cinto de segurança. Uma testemunha do crime, porém, diz que alertou os ocupantes do carro de que havia uma criança pendurada do lado de fora, mas eles responderam que era "um boneco de Judas".
Crime
João estava na companhia da mãe, Rosa Cristina Fernandes Vieites e da irmã Aline, 13, quando o carro deles foi parado pelo grupo de assaltantes por volta das 21h de quarta.
Rosa e a filha conseguiram sair, mas, quando a mãe tentava retirar o menino do carro, os ladrões arrancaram com o veículo e a criança ficou pendurada do lado de fora, presa ao cinto de segurança.
João foi arrastado durante 15 minutos, por 14 ruas, e o carro acabou abandonado em uma rua de Cascadura. Os criminosos fugiram a pé. O corpo do menino foi encontrado dilacerado.
Repercussão
Após o crime, governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), defendeu que os Estados brasileiros tenham autonomia perante a União, inclusive em questões penais, e que o Rio reduza a maioridade penal que, atualmente, é de 18 anos.
A presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministra Ellen Gracie, disse ser contra a redução da maioridade penal no país. "Essa discussão sempre retorna cada vez que acontece um crime como esse, terrível. Não sei se é a solução. A solução certamente vem também com essa agilização dos procedimentos, com uma justiça penal mais ágil, mais rápida, com a aplicação de penalidades adequadas, inclusive para os menores infratores. A redução da idade penal não é a solução para a criminalidade no Brasil", disse.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva classificou o crime como um "gesto de barbaridade". "Esse conjunto de barbaridades que envolve o comportamento humano hoje, nós não resolveremos aumentando a punição", afirmou.
Preso
Após a prisão de Diego, na quinta-feira, pessoas atiraram pedras contra a casa de sua família, em Cascadura (zona norte). O pai do rapaz colaborou no encontro e prisão do filho e de dois supostos comparsas.
"Ele me entregou porque gosta de mim." Assim Diego justificou para a Folha a atitude do pai, Kerginaldo Marinho da Silva. Ele pediu desculpas para a família de João. "Eu não matei ninguém. Só queríamos levar o carro", declarou.
Diego voltou a negar que sabia que o menino estava pendurado do lado de fora, preso pelo cinto de segurança. Segundo ele, a intenção do grupo era roubar apenas os pneus do carro.
O jovem disse que há pelo menos um ano passou a praticar crimes, como roubo de carros, mas não soube explicar o motivo. Negou que tivesse matado alguém nesse período.
Fonte: Folha