Cerca de cem índios de 20 etnias do Nordeste decidiram eleger como prioridade a ser reivindicada ao governo federal a demarcação e regularização dos territórios indígenas. Eles participam de conferência regional na capital pernambucana e alegam que a falta de delimitação acarreta diversos problemas. Por exemplo, a dificuldade de manutenção de rituais e hábitos da cultura indígena.
Segundo o vice-cacique da tribo Xukuru, de Pesqueira, José Barbosa, sem as terras, os índios não podem se beneficiar de programas sociais nas áreas de saúde e educação. Além das dificuldades de sobrevivência, eles enfrentam situações de tensão. "Muitas lideranças dos povos indígenas são vítimas de ameaças de pistoleiros contratados por fazendeiros", enfatizou. O cacique Akanauã Pataxó, do sul da Bahia relatou que, na luta pela terra, 19 lideranças indígenas do estado perderam a vida.
Valdelice Amaral, cacique da tribo Tupinambá, da Bahia, onde vivem 3.700 índios em 22 comunidades, disse que na região alguns indígenas trabalham em fazendas em regime de semi-escravidão, sem poder participar de rituais e festividades da cultura indígena. Destacou que a Fundação Nacional do Índio (Funai) reconheceu os Tupinambás em 2002, mas ainda não deu à tribo os direitos garantidos na constituição para melhorar as condições de vida do povo, porque a terra não foi demarcada. "Hoje vivemos em pequenas áreas, de dois hectares para oito famílias", declarou.
O antropólogo João Pacheco, que participa do evento, reconheceu que a questão da demarcação das áreas indígenas no Nordeste é preocupante. "É extremamente grave, diferente da Amazônia, onde existem terras que podem ser destinadas aos índios. Aqui no nordeste os índios recebem pressões pesadas. Uma coisa é discutir a questão de forma abstrata e outra é ver de perto que eles precisam de assistência e necessitam de recursos básicos", frisou.
Ele destacou que a exposição Índios – Os Primeiros Brasileiros, que reúne em Recife um acervo de fotos, vídeos e objetos da cultua indígena, realizada junto com a conferência, mostra que eles são produto do processo histórico de construção do Brasil. A idéia é chamar a atenção do governo para gerar políticas eficientes de assistência adequada à realidade da cultura indígena.
A Conferência, que prossegue até domingo, é promovida pela Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo.
Agência Brasil