Investigação

Depoimentos de delegados reforçam suspeita de interferência de Bolsonaro na Polícia Federal

O interesse do presidente na superintendência é um dos pontos principais do inquérito aberto a partir das acusações do ex-ministro da Justiça Sergio Moro.

Depoimentos de delegados reforçam suspeita de interferência de Bolsonaro na Polícia Federal

O delegado Alexandre Saraiva contou que no ano passado foi sondado por Alexandre Ramagem, a pedido de Bolsonaro, para assumir o comando da instituição no estado. — Foto:Reprodução

Dois depoimentos prestados na terça-feira a investigadores da Procuradoria-Geral da República (PGR) e da Polícia Federal (PF) reforçam as suspeitas de que o presidente Jair Bolsonaro tentou interferir na PF do Rio. O ex-superintendente local Carlos Henrique Oliveira confirmou que o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente, era investigado pela PF fluminense, enquanto o delegado Alexandre Saraiva contou que no ano passado foi sondado por Alexandre Ramagem, a pedido de Bolsonaro, para assumir o comando da instituição no estado.

O interesse do presidente na superintendência é um dos pontos principais do inquérito aberto a partir das acusações do ex-ministro da Justiça Sergio Moro. O depoimento de Carlos Henrique Oliveira contradiz declaração de anteontem de Bolsonaro sobre a investigação de familiares seus pela PF. O presidente afirmou que “a Polícia Federal nunca investigou ninguém da minha família”, mas o ex-superintendente do Rio confirmou que havia uma investigação contra Flávio.

Este caso era a apuração dos crimes de lavagem de dinheiro e falsidade ideológico eleitoral por parte de Flávio por causa da diferença na declarações de seus bens à Justiça Eleitoral em 2014, 2016 e 2018. Como O GLOBO mostrou no último dia 1º, a PF pediu arquivamento do inquérito em março, sem ter solicitado quebra de sigilo dos envolvidos durante a investigação. O Ministério Público ainda não se manifestou sobre o caso.

Carlos Henrique deixou o comando da superintendência da PF-RJ no início do mês, sendo substituído por Tácio Muzzi. Seu cargo, porém, já havia sido oferecido no ano passado ao delegado Alexandre Saraiva, atual superintendente da PF no Amazonas, que também prestou depoimento ontem. Ele contou que foi sondado, no início do segundo semestre de 2019 para ocupar a chefia no Rio. O contato foi feito, segundo ele, pelo diretor da Abin, Alexandre Ramagem, o delegado que Bolsonaro tentou nomear na diretoria-geral da PF, em decisão barrada pela Supremo Tribunal Federal.

Saraiva relatou que no início do segundo semestre de 2019, recebeu uma ligação de Ramagem “perguntando se aceitaria assumir a superintendência da Polícia Federal no Rio”. O delegado conta que “prontamente aceitou”. A troca acabou não ocorrendo, mas o depoimento confirma declarações do próprio Bolsonaro desde o ano passado de que tinha interessa na superintendência fluminense.

Divulgação do vídeo

Na noite de terça-feira, terminaram os depoimentos dos ministros militares com cadeira no Palácio do Planalto. O titular da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, declarou que Bolsonaro reclamou da Polícia Federal na reunião ministerial do dia 22 citada por Moro como prova da interferência do presidente. Ontem, Bolsonaro afirmou que Ramos “se equivocou” no depoimento, e insistiu que não citou a PF.

No depoimento de Augusto Heleno, do GSI, foi registrado que, “no entender da PGR”, Bolsonaro falava da superintendência da PF no Rio quando disse na reunião da necessidade de proteger seus familiares e amigos.

Termina amanhã o prazo dado pelo relator do caso no STF, Celso de Mello, para que a Advocacia-Geral da União e a Procuradoria-Geral da República se manifestem sobre a possibilidade de que todo do vídeo da reunião, ou apenas trechos dele, sejam divulgados.

Ontem,a defesa de Moro argumentou a favor da divulgação integral do material. O presidente Bolsonaro, por sua vez, defendeu que apenas trechos ligados diretamente ao inquérito sejam tornados públicos, e não os que toquem em “assuntos comerciais, relações internacionais, ou questão pessoais”. A decisão caberá a Celso de Mello.

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