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Classe Média: economista descarta desaparecimento e garante que “fenôm

Economista Rafael Bernardino de Souza explica o processo de empobrecimento da classe média estudada por 20 pesquisadores de universidades paulistas

Em entrevista exclusiva ao Portal ClickPB o economista e consultor em Planejamento Estratégico e em Cooperativismo, Rafael Bernardino de Souza explica o processo de empobrecimento da classe média estudada por 20 pesquisadores de universidades paulistas. A pesquisa foi divulgada pelo Instituto de Economia da Universidade de Campinas (Unicamp) e repercutiu em todo o país por afirmar que o desaparecimento da classe média brasileira é uma questão de tempo.

O Estudo mostrou ainda, como a análise da desigualdade passa fundamentalmente pelo estudo do acúmulo de valores dos ricos e da acumulação de riqueza, e não apenas dos indicadores sociais. Nesta conversa exclusiva, Rafael Bernardino de Souza comenta as causas e comportamento deste fenômeno que fragiliza a classe média e coloca a classe baixa cada vez mais distante da alta sociedade brasileira.

ClickPB – Como se dá esse processo de “empobrecimento da classe média” ?

Rafael Bernardino – Quando ocorre a redução da renda média das pessoas. E para que isto seja percebido é necessário que se estude detalhadamente os dados estatísticos divulgados a partir das pesquisas do IBGE.

ClickPB – Quais os principais motivos?

Rafael Bernardino – Os motivos são vários. Por exemplo: aumento do desemprego; juros elevados que inibem investimentos no setor produtivo; substituição de trabalhadores mais experientes com salários mais elevados por jovens no início da carreira profissional e como tal aceitam salários mais baixos; falta de confiança na política econômica do governo e por isso medo do risco de realizar investimentos.

ClickPB – Com a redução ou desaparecimento desta classe, como fica a divisão econômica brasileira: classe alta X baixa, e só?

Rafael Bernardino – A classe média não vai desaparecer. Ela é formada por um grande contingente de pessoas como os gerentes, os supervisores, os administradores, os economistas, os contadores, os pequenos e médios empresários, os juízes, os advogados, os médicos, os funcionários públicos, os demais profissionais liberais, os professores universitários e essas profissões nunca desaparecerão.

ClickPB – O que é necessário para que uma família seja considerada de classe média: Limite de renda?

Rafael Bernardino – A classificação é realmente por limite de renda. Normalmente é considerado de classe média quem ganha acima de R$ 1 mil por mês. Alguns pesquisadores defendem a separação em faixas de salários. Por exemplo: Classe média baixa: Salário mensal de R$ 1 mil a R$ 2,5 mil. Classe média “média”: Salário de R$ 2,5 mil a R$ 5 mil por mês. Classe média alta: Salário mensal acima de R$ 5 mil. Sendo que alguns estudiosos estabelecem o máximo de R$ 14 mil. Acima desse valor de salário mensal as pessoas já deixariam de ser de “classe média” e passaria para a classe rica.

ClickPB – Como se configura a classe média baixa?

Rafael Bernardino – Como dito acima, é quem ganha entre R$ 1mil e R$ 2,5 mil por mês.

ClickPB – A pesquisa é nacional, como a Paraíba se comporta nesse processo?

Rafael Bernardino – A situação é mais grave, pois a economia paraibana ainda não emplacou. Não existem investimentos produtivos capazes de gerar novas oportunidades de trabalho para absorver o contingente de pessoas que atingem a idade de ingressar no mercado de trabalho e não encontram alternativas. Por isso o desemprego aumenta e reduz a renda média da PEA (População Economicamente Ativa) que é a parte da população com idade de trabalhar (a partir de 18 e até 60/65 anos de idade).

ClickPB – Essa situação é de responsabilidade apenas do poder público?

Rafael Bernardino – O poder público tem uma grande parcela de responsabilidade, mas não é apenas o poder público. As pessoas, principalmente as de classe média alta e das classes ricas também têm grande responsabilidade porque são essas pessoas que poderão investir no setor produtivo e gerar emprego. Não é possível que esta situação seja resolvida apenas pelo Governo porque Governo não gera riquezas. O Governo apenas arrecada impostos de quem produz e deve gastar com educação, saúde e segurança. Somente o trabalho e a produção geram riquezas e por isso as classes altas e ricas também são responsáveis.

ClickPB – O que poderia reverter esse fenômeno de empobrecimento?

Rafael Bernardino – A mudança somente poderia acontecer se houvesse políticas públicas integradas (governo estaduais e governos municipais) que estimulassem o investimento produtivo.

ClickPB – Quais as mudanças observadas no cotidiano destas famílias ex-classe média?

Rafael Bernardino – Ser “ex-classe média” significa que perdeu renda, isto é, perdeu salários, quer seja por ter ficado desempregado ou por ter perdido um emprego e arrumado outro com salário menor. A mudança é uma perda no poder de compra, ou seja, a pessoa vai consumir bem menos. No entanto, isto somente ocorreria se a pessoa já estivesse na faixa de classe média baixa porque nas demais, essa pessoa não seria “ex-classe média”.

ClickPB – E por último: Qual o recado para os consumidores de classe média? O que deve se evitar, por exemplo?

Rafael Bernardino – O recado mais importante é que eles devam controlar os seus gastos, procurando poupar pelo menos 10% do que ganharem porque é através da poupança que se gera recursos para investimentos e é o investimento que gera riqueza e empregos. O que deve ser evitado é gastar além do que ganha. Evitar comprar a crédito por prazos muitos logos, como também evitar parcelar compras com cartões de crédito porque os juros são muitos altos e juros altos levam a maior endividamento e dívidas levam ao empobrecimento.

ClickPB – Pessoalmente, o senhor deixaria quais alertas?

Rafael Bernardino – Lembrar que: Somente o trabalho é que gera riquezas. O empreendedorismo e o investimento produtivo devem ser estimulados, como também o cooperativismo que é uma forma muito importante de organização econômica da sociedade.


Lívia Falcão
ClickPB

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