O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) encerrou 2006 com uma inflação de 3,14%, praticamente a metade da taxa apurada em 2005, que foi de 5,69%. Trata-se do menor índice oficial de inflação desde 1998, quando a alta havia sido de 1,65%, além de bastante inferior ao pico de 12,53%, de 2002.
O resultado fica bem abaixo do centro da meta de inflação para este ano, que era de 4,5%. É a primeira vez que isso acontece desde o início do regime de metas e reforça o discurso da política conservadora de juros do Banco Central.
Com o resultado, o Brasil passa a ocupar o terceiro lugar entre os países da América Latina com menor índice de preços, atrás apenas do Peru (2,4%) e do Panamá (2,8%). No ano anterior, o Brasil estava bem atrás, na 11ª posição entre os 19 países latino-americanos do ranking.
O levantamento foi elaborado pelo economista-chefe da consultoria Austin Ratings, Alex Agostini, a pedido da Folha Online e leva em consideração os índices de preço projetados pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) em setembro último relatório disponível.
Entre as economias emergentes, o Brasil ocupa em 2006 a 11ª posição, na frente do Equador (3,2%) e Chile (3,5%), por exemplo. Nessa comparação, a Argentina aparece em 33º lugar (9,8%). A Polônia tem a mais baixa inflação entre os emergentes, 0,9%, e é seguida pela Arábia Saudita, com 1%, e por alguns países asiáticos.
Entre os Brics grupo de economias emergentes formado por Brasil, Rússia, Índia e China, o Brasil aparece em segundo lugar, com o dobro da inflação da China (1,5%). A Índia fica em terceiro, com inflação de 5,6%, e a Rússia, com 9,7%.
Pressões
Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o real valorizado, a boa oferta de produtos agrícolas e os menores aumentos de tarifas públicas sustentaram a redução da inflação ao longo do ano passado.
Os alimentos tiveram alta de 1,22%, a menor desde 1997. Os artigos de residência, que abrangem mobiliário e artigos domésticos, registraram variação negativa de 2,72%. A energia elétrica teve resultado muito próximo da estabilidade no ano (0,28%) e as tarifas de telefonia fixa caíram 0,83%. "Em 2006 vemos se consolidar uma situação de desindexação", disse Eulina Nunes dos Santos, coordenadora do índice de preços do IBGE. Ela explicou que os preços administrados que antes retroalimentavam a inflação do ano subseqüente deixaram de ser aplicados em muitos casos.
O aumento dos combustíveis, de 2,30%, também ficou abaixo do índice geral. Embora não tenha havido reajuste da gasolina em 2006.
Outros itens que não pressionaram os preços devido a influências da queda do dólar foram higiene pessoal (0,65%), aparelhos de TV, som e informática (-12,07%) e artigos de limpeza (-2,29%).
Por outro lado, os itens que mais contribuíram para a inflação durante 2006 foram os planos de saúde, que subiram 12,30%, as mensalidades escolares, que tiveram um incremento de 6,76% e os ônibus urbanos que ficaram 8,11% mais caros. Além disso, outra influência importante ao longo de todo o ano foi o item empregados domésticos que cresceram 10,73% ao acompanhar o reajuste do salário-mínimo.
Dezembro
Em dezembro, a inflação medida pelo índice foi de 0,48%, acima do índice de novembro, que havia sido de 0,31%, e em linha com as previsões de mercado, que apontavam alta de 0,45%.
A principal pressão sobre os preços veio do reajuste dos transportes na região metropolitana de São Paulo, que tem um peso de 33% no índice. Os reajustes de trem, ônibus, táxi e metrô provocaram um aumento de 2,91% no grupo transportes em São Paulo, gerando uma contribuição de 0,24 ponto percentual na inflação geral. "Não fosse São Paulo, a taxa seria mais baixa", disse.
Além disso, contribuíram para a taxa o grupo vestuário, que subiu de 0,65% em novembro para 1,0% em dezembro. O condomínio também avançou para 0,81% ante 0,08% em novembro.
Por outro lado, a alta dos alimentos foi bem menor que em novembro. O grupo subiu 0,39%, contra 0,50% no mês anterior. As carnes, por exemplo, caíram de 1,63% para -0,43%. O frango, que tinha apurado alta de 5,77% em novembro, registrou uma deflação de 0,86% em dezembro.
INPC
O INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) fechou 2006 com inflação de 2,81%. Em 2005, o índice apurou alta de 5,05%. Os alimentos tiveram papel decisivo na redução do índice de preços, já que têm grande peso no índice. Eles alcançaram 0,94% no ano passado ante 1,43% em 2005. Em dezembro, o índice ficou em 0,62% ante 0,42% em novembro.
Veja abaixo o ranking de inflação dos países da América Latina:
Peru – 2,4%
Panamá – 2,8%
Brasil – 3,1%
Equador – 3,2%
Chile – 3,5%
México – 3,5%
Bolívia – 4,1%
El Salvador – 4,1%
Colômbia – 4,7%
Honduras – 5,8%
Uruguai – 5,9%
Guatemala – 6,9%
República Dominicana – 8,5%
Nicarágua – 8,6%
Paraguai – 8,9%
Argentina – 9,8%
Venezuela – 12,1%
Costa Rica – 13%
Haiti – 14,1%
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