Uma semana depois do desabamento no canteiro de obras da estação Pinheiros do metrô (zona oeste de São Paulo) e após a localização do corpo da sexta vítima soterrada, os bombeiros suspenderam as buscas nesta sexta-feira e aguardam orientações da Polícia Civil para retomar os trabalhos. Há a possibilidade de que uma sétima vítima esteja sob os escombros.
A família do office-boy Cícero Augustino da Silva, 58, que desapareceu no dia do acidente, diz acreditar que ele tenha sido soterrado a suspeita era que ele fosse um dos ocupantes do microônibus engolido pela cratera deixada com o acidente. A polícia ainda investiga o paradeiro de Silva.Moacyr Lopes Junior/Folha Imagem
O capitão do Corpo de Bombeiros Mauro Lopes disse à reportagem que as buscas só podem prosseguir caso haja uma "informação precisa" sobre a vítima. "Tínhamos a informação de seis vítimas [soterradas] e achamos as seis vítimas. Ele [o office-boy] não estava no microônibus", disse.
Segundo Lopes, as equipes de resgate permanecerão no local até que recebam uma orientação da Polícia Civil. "Foi feita uma pausa, haverá troca de equipe e vamos reavaliar o trabalho operacional", disse.
Vítimas
Os bombeiros resgataram no final da noite de quinta (18) o corpo do funcionário público Marcio Rodrigues Alambert, 31. Foi o sexto corpo retirado dos escombros.Victor R. Caivano/AP
Alambert e outras três pessoas estavam no microônibus soterrado. Os outros ocupantes eram o motorista do lotação, Reinaldo Aparecido Leite, 40, o cobrador, Wescley Adriano da Silva, 22, e a bacharel em direito Valéria Alves Marmit, 37.
Também morreram em conseqüência do desabamento a aposentada Abigail de Azevedo, 75, e o motorista de caminhão Francisco Sabino Torres, que trabalhava nas obras da linha 4-Amarela do metrô. Duas cadelas farejadores auxiliaram as buscas.
As famílias dos passageiros do microônibus da Transcooper serão indenizados em R$ 100 mil pela cooperativa. A empresa diz que as indenizações são referentes a danos morais e materiais. Já as famílias do motorista e do cobrador receberão R$ 29 mil cada uma.
Desalojados
As cerca de 120 pessoas desalojadas com o acidente ainda devem esperar alguns dias para voltar para suas casas. Elas permanecem em hotéis.André Porto/Folha Imagem
As cadelas farejadoras dos bombeiros, Anny e Dara (ao fundo), auxiliam as buscas
De acordo com a Defesa Civil, os imóveis residenciais que estão interditados só serão liberados após o desmonte da grua que ficou pendurada à margem da cratera. O equipamento tem 32 metros de altura e 120 toneladas.
A Odebrecht, líder do Consórcio Via Amarela, responsável pela obra, afirma que o procedimento dura cerca de uma semana. O consórcio afirmou que as vítimas serão ressarcidas.
Causas
O governador José Serra (PSDB) confirmou que o Metrô suspendeu os pagamentos, ao Consórcio Via Amarela pelas obras. O motivo seria uma inviabilidade técnica para medir o trecho que desabou. "À medida que essa obra já não existe, não se poderia pagar a medição dela. E as faturas chegam misturadas. Houve a suspensão para fazer essa separação."
O canteiro de obras que desabou no último dia 12 era usado como acesso de funcionários e equipamentos à obra. Do fosso partem dois túneis. O que desmoronou havia sido inaugurado há cerca de um ano, segundo informações do governo do Estado. O acidente ampliou o buraco, que passou a ter cerca de 80 metros de diâmetro.
O coordenador da Defesa Civil de São Paulo, Jair Pacca de Lima, afirmou que as conseqüências do acidente poderiam ser reduzidas, caso um plano de contingência tivesse sido elaborado. O plano deveria prever o isolamento das áreas afetadas pelas obras do metrô.
O IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológica) foi acionado pelo governo estadual para fazer um laudo sobre as causas do acidente.
No fim de semana, o Consórcio Via Amarela responsabilizou a chuva das últimas semanas pelo desabamento. O consórcio é liderado pela Odebrecht, a maior construtora do país, e integrado também pela OAS, Queiroz Galvão, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez.
Na segunda, o vice-governador e secretário de Desenvolvimento de São Paulo, Alberto Goldman (PSDB), responsabilizou as chuvas e o processo de engenharia pelo acidente. Ele, porém, não apontou culpados. "Se não tivesse havido um grande volume de chuvas, talvez não teria acontecido. Mas o grande volume de chuvas também é previsível. Qualquer episódio em que há uma tragédia desse tipo há uma responsabilidade do processo, da engenharia desse processo, ou seja, a engenharia em algum momento falhou indiscutivelmente", disse.
Folha Online