Eles tomaram a Internet. Milhares deles surgem em todo o mundo diariamente. Na verdade, muitos são abandonados por seus criadores ainda no primeiro mês. Outros, porém, permanecem atualizados e começam a se destacar pela rede. Quem ainda não fez o seu, certamente já visitou algum. O artista preferido, o político popular, o jornalista conceituado, o amigo escritor, a namorada apaixonada… São inúmeras as faces que se escondem por trás da tela do computador, para estampar na web aquilo que sempre quis divulgar. O assunto pode nem ser relevante, mas a idéia de propagar ao planeta suas opiniões ou, até mesmo, os simples detalhes de seu cotidiano, é uma atividade prazerosa para várias pessoas. E, embalados por esta força anárquica e libertadora, cada vez mais internautas vão se entregando a mania que atende por um nome bastante conhecido pela rede: Blogs.
Os diários virtuais, como também são conhecidos, ganharam uma notoriedade impressionante nos últimos anos. Para se ter uma idéia, de acordo com dados do Ibope/NetRatings, esta foi a área que mais cresceu na internet nacional em 2005. Além disso, o último mês de dezembro foi concluído com cerca de 53 milhões de blogs ativos pelo planeta. A partir daí, o que aparentava ser mais um modismo da Internet se consolidou como uma importante vertente para a Comunicação.
História – O termo blog foi criado por internautas em 1999, como uma abreviatura simpática da palavra inglesa weblog. Usado para designar sites de fácil atualização e grande dinâmica entre aspirantes a escritores e leitores curiosos, tal vocábulo foi o mais procurado no dicionário virtual Merriam-Webster, no ano de 2004.
A princípio, por ser estruturado em seqüência cronológica e, acima de tudo, oferecer um manuseio simples, os blogs caíram nas mãos da garotada, que os transformaram numa espécie de diário virtual.
Porém, bastante diferente dos livrinhos tradicionais, fechados a cadeado, as confidências na rede em nenhum momento prezavam pelo segredo. A intenção dos blogueiros, como são conhecidos os escritores destes sites, era justamente estampar suas histórias para amigos e desconhecidos, em busca de notoriedade.
Após o êxito com os jovens, os blogs também roubaram à atenção dos adultos, que viram neles um instrumento de interatividade surpreendente. A partir daí, o mundo finalmente percebeu que estes sites representam muito mais que uma simples brincadeira de adolescentes.
Excelentes ferramentas comunicacionais, podem atingir milhares de pessoas em fração de segundos. A mesma dinâmica é observada no caminho inverso: no momento em que lêem, os receptores tem a oportunidade de expressar suas opiniões a respeito da publicação em questão.
Essa funcionalidade fez com que os blogs se transformassem na marca que são hoje: panfletos virtuais que exprimem desde relatos sentimentais a textos com caráter jornalístico. São verdadeiros laboratórios de escritos criativos, que dão aos internautas uma força assustadora.
O poder da Blogosfera – Na última eleição para a presidência dos Estados Unidos, por exemplo, os americanos John Hinderaker, Scott Johnson e Paul Mirengoff, advogados e militantes do Partido Republicano, causaram uma turbulência na mídia. Através do blog Power Line (powerlineblog.com), eles provaram que o 60 Minutes, um dos noticiários mais populares do país, utilizou-se de uma reportagem fraudulenta para prejudicar a campanha do então candidato a reeleição, George W. Bush. O episódio acabou com a demissão de Dan Rather, âncora do jornal.
Já no Brasil, um caso recente da influência oferecida por estes sites, é o polêmico blog da jovem Raquel Pacheco, mais conhecida como Bruna Surfistinha. Ex-garota de programa, Surfistinha expunha na rede todos os detalhes de sua vida no mundo da prostituição, falando desde sua angústia em momentos de solidão até os pormenores das relações sexuais por ela vividas. O sucesso de seus textos foi tanto, que ela acabou escrevendo o livro O Doce Veneno do Escorpião, contando as principais narrações de seu blog. Semanas após o lançamento, a obra apareceu na lista de best-sellers brasileiros, ultrapassando as vendas de livros de famosos escritores como Luis Fernando Veríssimo e Arnaldo Jabor. Além disso, encontra-se em desenvolvimento um projeto para transformar a história da jovem – que na última semana ganhou uma reportagem de duas páginas no jornal The New York Times – num longa-metragem.
Com toda esta força, é notável que os blogs evoluíram não só no perfil de seus escritores, mas também em seus conteúdos. As melosas histórias do dia-a-dia adolescente cederam espaço para assuntos de “gente grande”. A política, a sociedade, a economia, o esporte e a cultura invadiram a temática destes portais, que antes só serviam como uma espécie de diário virtual.
E essa evolução atingiu proporções surpreendentes. Os blogueiros passaram a ser respeitados (ou odiados) por quem visita seus territórios. Aspirantes a escritores tornaram-se fenômenos na rede, justamente por, de maneira criativa, possuir a liberdade de criticar, ironizar, inventar ou informar tudo aquilo que desejarem.
Blogosfera x Jornalismo – Apesar do sucesso, os blogs ainda enfrentam críticas severas sobre seus objetivos. Por não se saber a procedência das informações que lá são apresentadas, a credibilidade de seus conteúdos é questionada por várias pessoas.
Grupos de jornalistas tradicionais, por exemplo, bateram de frente contra a “moda virtual”, simplesmente por compreender que ela pode representar uma afronta a sua área de trabalho.
Por outro lado, diversos profissionais da Comunicação vêm aderindo à moda, por encontrar nela uma forma ágil de publicar informações e opiniões, diferente da realidade dos jornais impressos. Em muitos casos, os jornalistas se aproveitam do blog particular para divulgar aquilo que não coube na edição do exemplar do jornal ou não possuía as características de redação da empresa.
O jornalista Ricardo Noblat é um exemplo deste time. Diariamente atualizando um blog sobre política, ele apresenta informações que estão em evidência no Planalto, estimulando a opinião pública e criando polêmica sobre o assunto.
Segundo Rossana Fischer, webdesigner e autora do livro virtual Blogs, Universos em Prosa, a blogosfera e o jornalismo não competem entre si. Ao contrário, eles trabalham juntos na disseminação da informação e do conhecimento, formando um conjunto midiático rico pela diversidade que apresenta.
Independente da visão dos profissionais conservadores, a verdade é que os “jornalistas de pijamas” vêm conquistando cada vez mais espaço. O número de blogs é 60 vezes maior do que há três anos e a quantidade de blogueiros continua dobrando a cada seis meses.
Estes números continuam a dividir opiniões e, pelo visto, a polêmica não está próxima de seu fim. Mas enquanto as divergências se propagam, a blogosfera segue forte em sua característica principal: dar espaço para que meros anônimos ganhem notoriedade, e banquetear uma legião de curiosos com as mais diversas e divertidas publicações.
Alysson Bernardo
ClickPB
Blogs: a trajetória dos diários infantis que se transformaram em coisa
Após o êxito com os jovens, os blogs agora ganham o mundo pelas mãos dos adultos
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