A bancada do PT na Câmara deve mandar em breve um recado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva: os deputados do partido não pretendem ceder tão fácil, a partir de 2007, espaços conquistados no primeiro mandato do governo. Por espaço, leiam-se cargos e influência na discussão política e programática. Os deputados disseram ainda que o partido tem que brigar pela presidência da Câmara.
Em reunião fechada feita nesta quinta-feira (9) pela bancada de deputados atuais e os eleitos para 2007, os petistas defenderam que o partido deve ter uma postura de protagonista dentro do próximo governo Lula, evitando a ameaça, principalmente, do PMDB, que quer aumentar sua participação no primeiro escalão a partir de 2007. "O PT tem que disputar o espaço ideológico, político e de governo", disse o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP).
A posição da bancada é oposta às manifestadas nesta quinta-feira pelo governador do Acre, Jorge Viana, e pelo presidente interino do PT, Marco Aurélio Garcia. Viana disse que o partido deve procurar aliviar a pressão por cargos para evitar uma crise interna. Garcia defendeu a idéia de que o governo é de coalizão e que o partido não estaria preocupado com a perda de espaço na administração federal.
No encontro, os petistas não citaram explicitamente a briga por cargos, mas disseram que o partido precisa se firmar como a legenda do presidente da República e passar a discutir e elaborar o próprio programa de governo, e diminuir a postura "defensiva" adotada nos dois últimos anos de mandato de Lula por conta das acusações de corrupção.
Na avaliação dos petistas, por exemplo, a bancada do partido precisa dialogar com Lula sem a necessidade de ter Garcia como interlocutor no Palácio do Planalto. Secretário-especial da presidência, Garcia é visto por alguns deputados petistas como uma pessoa muito mais do lado de Lula do que da bancada. Ou seja, o ideal seria um interlocutor que defendesse mais os interesses dos deputados.
Por essa briga para ser "protagonista", passa a presidência da Câmara, acreditam os deputados do PT. Na reunião, o líder da bancada, Henrique Fontana (RS), chegou a citar o nome de Chinaglia como candidato do partido ao posto atualmente ocupado por Aldo Rebelo (PC do B-SP). Alguns deputados, porém, lembraram que o partido precisará, inicialmente, respeitar a tradição da proporcionalidade, em que a maior bancada indica o presidente da Câmara. No caso, o PMDB, com 89 deputados – o PT vem em segundo com 83.
Assim, os petistas querem evitar um conflito com o PMDB, que também deve postular a presidência do Senado, provavelmente com a reeleição de Renan Calheiros (PMDB-AL). Publicamente, os petistas evitam assumir, mas sabem que a exigência de um "protagonismo" a partir de 2007 é uma reação à ambição do PMDB em aumentar seu espaço no governo de Lula.
Fonte: Globo.com