Imagine o seguinte cenário: Simone Biles e Rebeca Andrade decidem não competir nas Olimpíadas de Paris para participar de um novo evento de ginástica, com premiação milionária, realizado na mesma data e cidade. Guardadas as devidas proporções, é o que está acontecendo no mundo da luta agarrada neste momento. Nesta quarta-feira, os irmãos Kade e Tye Ruotolo anunciaram oficialmente que não disputarão o Mundial do ADCC, torneio mais prestigiado do esporte, para participar do Craig Jones Invitational (CJI), marcado para a mesma época, também em Las Vegas, onde lutarão por um prêmio de US$ 1 milhão (cerca de R$ 5,4 milhões).
O ADCC, sigla para Abu Dhabi Combat Club, é uma organização fundada pelo xeique Tahnoun Bin Zayed Al Nahyan, dos Emirados Árabes Unidos, e pelo professor de jiu-jítsu Nelson Monteiro em 1998. Desde então, o campeonato se notabilizou por reunir praticantes das mais diversas formas de luta agarrada: jiu-jítsu, luta estilo livre, luta greco-romana, sambo, sumô e judô, entre outros. Nomes como Royler Gracie, Mark Kerr, Roger Gracie, Ronaldo Jacaré, Zé Mario Sperry, Ricardo Arona, Fabricio Werdum, André Galvão, Marcus Buchecha e Gordon Ryan foram campeões do Mundial.
A edição de 2024 está marcada para os dias 17 e 18 de agosto, na T-Mobile Arena de Las Vegas. Porém, é aí que entra Craig Jones, um lutador australiano que foi duas vezes medalhista de prata no Mundial do ADCC. O popular e polêmico competidor anunciou em maio que, em protesto contra as baixas premiações dadas pela organização, montaria seu próprio campeonato, o Craig Jones Invitational, marcado para os dias 16 e 17 de agosto, no Thomas & Mack Center, na mesma cidade. Com apenas duas categorias – até 80kg e acima de 80kg – o torneio terá 16 competidores em cada chave e promete pagar US$ 10 mil (cerca de R$ 54 mil), mesmo prêmio dado aos campeões do ADCC, só pela participação. Os campeões receberão US$ 1 milhão cada.
A premiação milionária, algo raríssimo no jiu-jítsu, fez vários grandes nomes da modalidade largarem o ADCC para se juntar ao CJI: campeões mundiais como Renato Canuto, Fellipe Andrew, Lucas Barbosa e Victor Hugo, e outros grandes competidores como Nicky Rodriguez, João Gabriel Rocha e Roberto Jimenez. Nomes consagrados no MMA, como Luke Rockhold e Mackenzie Dern (esta numa superluta contra Ffion Davies) também reforçaram o elenco.
Os irmãos Ruotolo, porém, são talvez a maior aquisição do CJI. Os dois estão entre os maiores astros do jiu-jítsu na atualidade: Tye foi campeão mundial na faixa-preta em 2022, e Kade venceu o Mundial do ADCC no mesmo ano. A dupla atualmente tem contrato com o ONE Championship, onde Tye é o campeão peso-meio-médio e Kade é o campeão peso-leve de luta agarrada. Eles têm liberação para competir nos Mundiais da Federação Internacional de Jiu-Jítsu (IBJJF) e do ADCC. Porém, citaram o prêmio milionário como um dos motivos para optar pelo CJI desta vez.
– Há alguns motivos. A primeira delas, não quero ser óbvio, mas um milhão de dólares é um milhão de dólares. É muito dinheiro. O ADCC tem a honra e o prestígio, mas com esse CJI chegando, muitos dos melhores nomes e competidores já saíram e foram para essa nova divisão. Outra coisa é que eu e meu irmão podemos competir na mesma divisão de lados diferentes – imagino que meu irmão vai estar de um lado da chave, eu estarei no outro, na (categoria) até 80kg, então se tudo der certo, nos encontraremos na final e fazer uma grande guerra – contou Kade Ruotolo ao podcast “The MMA Hour”.
Apesar das perdas, o organizador do Mundial do ADCC, Mo Jassem, se mantém otimista que o evento será um sucesso. Após realizar a edição de 2022 no Thomas & Mack Center, com capacidade para 13 mil pessoas, o torneio acontecerá em 2024 na T-Mobile Arena, um ginásio maior que costumeiramente sedia cards do UFC, e a expectativa é que 14 mil pessoas compareçam a cada um dos dois dias da competição.
Fonte: Combate