O sobrenome Alsaif, que significa “a espada”, pode até não ser tão conhecido no mundo das lutas, mas a jovem saudita de 23 anos segue fazendo história no esporte. Primeira mulher da Arábia Saudita a assinar com uma grande organização de MMA, Alsaif vai entrar no cage da PFL, em Riad, na próxima sexta-feira (29) na busca pela terceira vitória consecutiva na franquia.
A confirmação de que faria parte de uma franquia como a PFL despertou na atleta uma noção de representatividade e orgulho por estar abrindo portas dentro do esporte. Por isso, Alsaif não escondeu a alegria diante do anúncio:
– Receber um contrato da PFL é a realização de um sonho. Como a primeira mulher saudita a assinar um contrato global de MMA, não assumo a responsabilidade levianamente e estou empenhada em representar o meu país. Espero abrir caminho para aspirantes a lutadoras. Sou grata a Deus e a PFL por esta oportunidade incrível – contou Alsaif nas redes sociais da PFL.
Apesar de ter começado a competir na organização apenas em 2024, Alsaif precisou fazer jus ao seu sobrenome e empunhou a espada para superar a morte precoce dos pais e a resistência em seu próprio país. Pioneira, Hattan Alsaif fez história ao nocautear a egípcia Nada Faheem no segundo round na sua luta de estreia, em maio deste ano.
A atleta – que só fez lutas amadoras na PFL até agora – tem ainda mais uma vitória em sua curta carreira, mas teve que se acostumar a vencer muitos outros obstáculos até se tornar uma lutadora de MMA. Quando tinha apenas dez anos, ficou órfã depois que seus pais morreram em um curto espaço de tempo e passou a ser criada pela avó materna. A perda precoce a fez desenvolver um quadro de depressão, que só foi superado com a ajuda da fé islâmica e das artes marciais.
Apesar de ter causado problemas na escola e ter tentado diferentes atividades para dissipar sua angústia, foi só quando começou a frequentar uma academia de boxe em seu bairro que as coisas começaram a mudar. Depois, migrou para o muay thai e foi campeã nos Jogos Mundiais de Combate, em 2022, e no Campeonato Mundial da Federação Internacional de Associações de Muay Thai (IFMA), em 2023, onde recebeu o prêmio de revelação feminina do torneio. Além disso, também tem no currículo o primeiro lugar conquistado nos Jogos Sauditas.
Com 102 mil seguidores no Instagram, Alsaif compartilhou o momento em que recebeu sua medalha de ouro nas redes sociais com a seguinte mensagem:
– O sentimento da vitória depois de muito tempo de trabalho duro é a melhor coisa que posso sentir, obrigada treinador e família – escreveu.
Aliás, treinador e família são duas coisas que acabam se misturando na vida de Alsaif. Comandada por Feras Sadaa desde a época em que competia no muay thai, os dois acabaram desenvolvendo uma relação que vai muito além do esporte. Sadaa – que também é treinador da seleção nacional de muay thai da Arábia Saudita – contribuiu não apenas para seu sucesso profissional, mas também ajudou a preencher a lacuna deixada pelos pais da atleta.
Inspirada pelo também lutador de MMA saudita Abdullah Al-Qahtani, Alsaif acabou ela própria se tornando uma inspiração no mundo das lutas. Embora o cenário esportivo na Arábia Saudita tenha se transformado nos últimos anos, as mulheres ainda precisam lutar para conquistar seu espaço. Durante sua formação, Alsaif se acostumou a ser uma das poucas mulheres em sua academia e, por isso, chegou a treinar com homens mesmo sendo da categoria peso-átomo.
Vale destacar que a Arábia Saudita adquiriu uma participação minoritária da PFL, em 2023, como forma de desenvolver novos talentos na região e promover eventos como o que Alsaif vai participar nesta sexta-feira (29). Em busca de manter sua invencibilidade na organização, a atleta vai voltar a lutar em casa contra a argelina Lilia Osmani em um dos duelos do card da PFL Mena.
Fonte: Combate.com