Clilson Júnior

Troca de marcha – por Rubens Nóbrega

Por Rubens Nóbrega – Jornal da Paraíba Uma inusitada aliança entre chuva e esperteza teria determinado o adiamento do que […]

Por Rubens Nóbrega – Jornal da Paraíba

Uma inusitada aliança entre chuva e esperteza teria determinado o adiamento do que seria uma grande manifestação popular convocada desde o início da semana para o final da tarde de anteontem no Bairro dos Bancários, em João Pessoa. O que era pra ser uma ‘Marcha pela Segurança’ virou ‘Marcha pela Paz’ e foi reprogramada para hoje, sábado. A mudança de data justificou-se em boa parte pelo tempo chuvoso em boa parte da última quinta-feira. Já a mudança do nome lembra aquela cena do cara que arrisca sair de frente da vaga onde estacionou o carro, engata uma primeira, mas aí aparece um flanelinha esperto querendo se dar bem e convence o motorista a usar, primeiro, a ré. “Para não misturar as tintas, Doutor”, diz o auxiliar da manobra.

 

‘Marcha pela Segurança’ virou ‘Marcha pela Paz’  

No caso da manifestação de hoje, a mudança de marcha significou trocar um objetivo específico (a segurança) por um genérico (a paz). Com a troca, intencional ou não, livra-se a cara do governo. E não é porque da organização do ato participariam pessoas notoriamente vinculadas – política e administrativamente – ao poder estadual. Uma marcha pela segurança teria um sentido muito claro de indignação e revolta diante da violência crescente que assombra especialmente um Estado, a Paraíba. Violência essa tristemente ilustrada pela brutalidade que vitimou duas mulheres e uma criança há uma semana entre Bancários e um matagal de Goiana (PE). 


Com tamanha motivação – imediata, diga-se, a reforçar a especificidade do evento descaracterizado e reagendado – teríamos na quinta milhares de pessoas nas ruas gritando palavras de ordem contra a violência. Outro tanto, portando cartazes onde mui provavelmente estariam gravadas críticas duras ao governador e ao governo, aos quais seria cobrada um mínimo de segurança para os filhos deste solo. Evidente que o alvo dos manifestantes seriam as autoridades estaduais que se mostram incapazes de combater minimamente a criminalidade. Lógico que essas autoridades seriam expostas como incompetentes para oferecer um mínimo de garantia à vida, à integridade física e ao patrimônio da imensa maioria do povo paraibano.


Diante de tantos riscos à imagem do governante, diante de contraponto tão óbvio e desmoralizador da propaganda de governo, cedo da manhã de anteontem e desde a véspera, com as fogueiras de São João ainda crepitando, articulou-se um esforço de guerra não apenas para adiar a marcha pela segurança. Impôs-se urgência maior à desmotivação originária do movimento. Os operadores chapa-branca foram competentes e ágeis. Ligeirinho, vozes e argumentos até de cunho religioso ganharam espaços generosos na mídia assumidamente governista. Mais depressa ainda, tais discursos foram multiplicados freneticamente em redes sociais igualmente incorporadas à ‘causa’. 


Pelo visto deu certo a operação da qual pouquíssimos se deram conta. E ainda que um ou outro tenha notado e comentado, o que disse ou deixou de dizer sobre a ré na Marcha pela Segurança em nada deve alterar a disposição de muita gente boa de aderir e comparecer hoje à ‘Marcha pela Paz’. Seguramente não devem faltar gente e estímulo. E não se admirem se o dispositivo mobilizador de claques for acionado para encorpar a procissão, além da logística que deve ser oferecida aos carregadores desse andor. Não me surpreenderá se no percurso estiverem estendidas faixas de agradecimento ao governador. Muito menos se até o bispo aparecer por lá para dar uma forcinha. 


Aliás, graças ao dia e horário escolhidos, um número bastante reduzido de viventes tomará conhecimento de algum protesto que venha a ocorrer. Afinal, sábado é ‘morto’ para cobertura de imprensa. Jornais fechados, audiência de rádio e tevê em baixa e redes sociais em marcha lenta completam o cenário perfeito para alienar o maior número de gente possível de ocorrências do tipo que não interessa ao manda-sol da Paraíba. E o melhor de tudo: o dia seguinte é domingo de lazer e futebol, com a Seleção de Dunga tentando passar às semifinais na Copa América. Uma beleza para amortecer a repercussão de qualquer fato negativo. Fantástico para fazer o assunto entrar em agonia e chegar à segunda-feira respirando por aparelhos, quando não morto e sepultado.



A Disp prometida


Pra vocês verem como são as coisas… Na quinta-feira mesmo, zapeando blogs e portais na Internet deparei-me com a seguinte placa num sítio chamado Paraíba Já (paraibaja.com.br): ‘Marcha da paz é adiada e Leila Fonseca diz que haverá investimento em segurança nos bancários’. A fonte e protagonista da notícia é a Professora Leila, candidata a senadora na eleição 2014, que dissentiu do então candidato do seu partido ao governo, Major Fábio, para apoiar Ricardo Coutinho no segundo turno. Logo no primeiro parágrafo da matéria ela informa que “o governador Ricardo Coutinho (PSB), ‘abraçou’ a causa e apoia a mobilização”. Na sequência, pontua que “a marcha não tem cor partidária, não é para criticar partido ou político, mas requer a reestruturação de um modelo de segurança arcaico”. Ressalta que se trata de iniciativa própria dos moradores do bairro e revela que o governador “entrou em contato com o Padre Marcondes, da Paróquia Menino Jesus de Praga, e garantiu que é de interesse dele (Ricardo) colocar um Distrito Integrado de Segurança Pública (Disp)” no Bancários.



Pronto. Resolvido


Vamos torcer pelo sucesso da marcha. Mesmo dando tremenda ré nos seus objetivos fundadores, mobilização do tipo quase sempre enseja oportunidades para críticas, denúncias, queixas e aflições da população. Será um bom espaço para cobranças e reivindicações. Com, sem ou apesar da possível instrumentalização que desviou o foco, pasteurizando o sentido da manifestação. Oremos ainda para que o Disp do Bancários não seja mais uma promessa de ocasião nem tenha o mesmo destino daquele que o Tribunal de Contas do Estado (TCE) construiu, equipou lá em Jaguaribe e entregou aos cuidados do Governo do Estado. Passados quase dois anos da entrega, o que era para ser um Disp serve, no máximo, de guarita. Guardada por apenas dois PMs em horário e ritmo de uma repartição qualquer.

 

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