Sergio Cabral, o ex-governador condenado a mais de 400 anos de prisão, nos oferece uma nova modalidade de “prisão domiciliar”: o SPA penthouse com piscina. Filmado com sua tornozeleira eletrônica à beira d’água, ele parece mais um personagem saído de “Blade Runner”. Não do filme original, mas de uma versão tropical e distorcida, onde os replicantes são políticos corruptos e o futuro distópico é hoje, aqui, no Brasil.
Cabral não é apenas uma metáfora da nossa impunidade. Ele é a encarnação tragicômica dela. No país onde o trabalhador mal consegue pagar a conta de luz, ele se banha no luxo, como se estivesse em “Cinema Paradiso”, mas sem a poesia ou o romantismo italiano. Só a cafonice dos milhões desviados e o deboche que escorre da piscina como cloro.
Talvez devêssemos renomear sua biografia para “Eles não usam black tie”, porque o Brasil da elite corrupta não se incomoda com formalidades. É bermuda, Havaianas e pulseirinha eletrônica. Enquanto o povo sofre com a violência, os ônibus lotados e os salários atrasados, os Cabrais da vida flutuam nas bolhas de privilégio, como se a Justiça fosse um conceito opcional, uma coisa exótica que não se aplica a quem tem dinheiro e bons advogados.
A cena é tão surreal que parece escrita por algum roteirista de sitcom, mas é real e, pior, aceitável para muitos. Essa indignação que nos toma deveria explodir como um Carnaval às avessas, sem samba, só com panelaço e cartazes. Mas, ao invés disso, vamos afundando, rindo e chorando, porque neste Brasil Cabralístico, a piada somos nós.
Se o cinema reflete a vida, talvez a próxima produção nacional seja “Tornozeleira nas Alturas”. Porque a impunidade aqui não apenas anda solta: ela nada de costas na piscina de uma cobertura com vista pro mar.
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