Agradeço ao ClickPB pelo espaço para trazer minhas ideias livremente, sem qualquer intervenção editorial, e pela oportunidade de compartilhar um ponto de vista que considero essencial para a advocacia paraibana. Deixo claro que não sou candidato em nenhuma chapa, mas apoio e trabalho pela chapa 10, de Paulo Maia e Luciana Brito, pois acredito que eles representam a melhor opção para o jovem advogado que enfrenta dificuldades para se inserir no mercado; para a mulher advogada que, muitas vezes, vê suas prerrogativas serem desrespeitadas de forma mais intensa do que seus colegas homens; e para você, advogado e advogada, que sente-se afastado, desprestigiado e, muitas vezes, até excluído, pressionado pelas dificuldades financeiras e pela ausência de uma representatividade efetiva.
Falo aqui com a propriedade de quem conhece essas adversidades, pois passei por todas elas. Não venho de família com tradição no direito, não comecei minha carreira em um escritório de renome, como aqueles que hoje ocupam duas ou três posições na chapa da situação. Minha experiência é real e pessoal; falo com conhecimento de causa, pois enfrentei tudo isso e mais: vivi o peso de ter minha trajetória marcada também pela pele negra, uma condição que, a meu ver, sempre foi mais um obstáculo nesse percurso.
Cumprindo o prometido nos artigos anteriores — “Rei nu”, “Narciso” e “E agora, José?” — continuarei, até o último momento antes das eleições, a explicar o que julgo relevante, sem ofender ninguém, sem desmerecer ninguém, mas apenas criticando o que considero digno de crítica.
Como advogado negro, tenho acompanhado com atenção as movimentações políticas na Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional Paraíba (OAB-PB), especialmente com relação às propostas de inclusão e representatividade racial. Nos últimos dias, um evento específico me chamou a atenção: o “Café com a Advocacia Negra”, promovido pelo candidato à presidência da OAB-PB, Harrison Targino. A princípio, uma boa iniciativa, mas será que representa um compromisso verdadeiro ou apenas um movimento estratégico para conquistar votos?
A advocacia negra precisa de representatividade e de medidas concretas de inclusão, não apenas de palavras ou eventos pontuais. Não posso deixar de recordar que o próprio Harrison Targino, enquanto membro da OAB, foi contra a política de cotas para negros e pardos nas eleições da Ordem. Essa medida, que visa justamente corrigir a sub-representação racial na entidade, foi um passo necessário para que a advocacia se tornasse mais inclusiva e plural — e, acima de tudo, é uma reparação histórica que reconhece os séculos de desigualdade racial que perduram até hoje em nossa sociedade. Então, eu me pergunto: como é possível organizar um evento voltado para a advocacia negra e, ao mesmo tempo, ter um histórico de voto contrário a uma das políticas mais importantes para promover nossa inclusão?
Harrison Targino teve ainda outra grande oportunidade de demonstrar seu apoio à causa recentemente, na última eleição do quinto constitucional. Na ocasião, foi proposta a inclusão da cota racial ao lado da proposta da paridade de gênero. No entanto, tanto o presidente quanto seus apoiadores preferiram não incluir a cota racial, alegando que essa discussão “poderia ser deixada para depois”. Essa postura levanta uma questão importante: por que postergar algo tão fundamental? Não há “depois” quando se trata de direitos e de inclusão.
A música de Chico Buarque, “Acorda, amor!”, resume bem o sentimento que tenho diante dessa situação. É como se estivéssemos sendo convidados a “acordar” para a realidade e perceber que não são eventos isolados que vão resolver o problema da sub-representação racial na advocacia. Precisamos de uma OAB que assuma, de fato, a responsabilidade de defender a diversidade e que promova ações que façam diferença para a comunidade negra, e não apenas estratégias de campanha que parecem mais destinadas a suavizar uma imagem do que a implementar mudanças reais.
Como advogado negro, sei o quanto é desafiador conquistar espaço em uma profissão historicamente marcada por desigualdades. A política de cotas, contra a qual Harrison Targino votou, é uma ferramenta que busca amenizar essa barreira. Ela não resolve todos os problemas, mas é um começo, um sinal de que a Ordem reconhece a necessidade de caminhar em direção a uma advocacia mais justa e representativa. Quando vejo candidatos que se opõem a essa ideia e, ao mesmo tempo, promovem eventos para advogados negros, sinto uma incoerência gritante.
Para nós, advogados e advogadas negras, a inclusão não é um tema de campanha, é uma realidade que enfrentamos todos os dias. Esperamos da liderança da OAB-PB uma postura que vá além de cafés e eventos; queremos ações concretas, um compromisso genuíno com a inclusão, e políticas que realmente apoiem nossa presença e nossa voz dentro da Ordem.
É preciso mais do que uma aproximação superficial para conquistar a confiança da advocacia negra. Precisamos de representantes que estejam dispostos a lutar por nós, a defender políticas de inclusão, e a assumir um compromisso verdadeiro com a diversidade. Isso significa apoiar medidas que nos tragam para o centro das decisões e que assegurem nossa presença nas estruturas da OAB.
A advocacia negra está “acordada” para essa realidade. E é justamente por estarmos atentos que não podemos nos deixar levar por gestos simbólicos que não se traduzem em ações concretas. Queremos uma OAB-PB que seja realmente nossa, que represente a nossa pluralidade e que se comprometa, de fato, com a justiça e a igualdade.
“Acorda, amor!” — essa é a mensagem que conclamo aos advogados e advogadas da Paraíba. Desejo que possamos construir uma Ordem que realmente valorize a diversidade e que seja um espaço de todos e para todos. E que o atual presidente, que gosta de propagar que tudo é “Fake News”, pare de distorcer a verdade.
E, como adendo, presto homenagem ao então Conselheiro Federal André Luiz Costa, representante da bancada do Ceará, estado irmão, e hoje Desembargador do TJCE, por defender e idealizar a referida cota.