Robson Conceição prometeu o cinturão de campeão mundial à filha Stephanie, de 6 anos. No último sábado, na quarta tentativa, o lutador baiano de 35 anos finalmente realizou sua promessa. Mas a pequena ainda vai ter que esperar um pouco mais pelo novo “brinquedo”. Robson chegará a Salvador nesta segunda-feira ainda sem o sonhado cinturão super-pena (até 58,97kg) do Conselho Mundial de Boxe (WBC), conquistado em Newark ao vencer O’Shaquie Foster numa decisão dividida após 12 rounds.
– Já conversei com ela hoje (ontem) cedo, me ligou me cobrando o cinturão, porém não estou com ele porque a comissão levou só o cinturão do Foster, achando que ele ia continuar com o cinturão. Aquele cinturão que tirei a foto era o dele, então é dele para a vida inteira. Eles vão criar um cinturão novo e enviar para a minha casa no Brasil (…). (Ela) vai ter que esperar (risos) – disse o lutador.
Em 2016, nos Jogos Olímpicos do Rio, Robson Conceição conquistou a medalha de ouro em sua terceira participação na competição. No profissional precisou de quatro tentativas. Em 2021, perdeu por pontos para Óscar Valdez quando muitos viram sua vitória. Exatamente um ano depois, foi dominado e perdeu para Shakur Stevenson. Em novembro de 2023, empatou com Emanuel Navarrete e o mexicano se manteve campeão. Mas Robson não conhece a palavra “desistir”.
– É verdade. Vim de uma família humilde, de mulheres humildes, fui criado praticamente só por mulheres: vó, tia, mãe, então é sobre nunca desistir. Ter elas como guerreiras em minha vida, que nunca desistiram, nunca deixaram faltar o pão de cada dia dentro de casa, então tenho isso em mente, sempre querer buscar o melhor e nunca desistir. E não sou de prometer nada a ninguém, mas quando prometo, vou lá e cumpro. Assim foram nos Jogos Olímpicos, prometi a minha filha que iria presenteá-la com a medalha de ouro, a Sophia, e assim foi feito. E prometi também a minha segunda filha, Stephanie, que a presentearia com o cinturão mundial. Prometi e agora consegui cumprir. Mais um peso que tirei das costas. É sobre isso, é sobre nunca desistir, ter persistência, saber que é um caminho que você pode dar um futuro melhor a sua família, suas filhas, botar numa escola melhor, dar uma alimentação melhor a elas, não deixar passar dificuldades.
No sábado, antes do anúncio do resultado, o desfecho era uma incógnita. Tanto que a vitória veio numa decisão dividida. Dois juízes viram vitória do brasileiro, um marcando 116-112 e outro 115-113. Um terceiro juiz deu 116-122 para O’Shaquie Foster. Quando a vitória de Robson foi anunciada, o americano genuinamente parecia não acreditar no que via.
– Surpresa talvez sim (tenha sido normal para Foster), até porque ele não está acostumado a ver campeões mundiais perderem por pontos, e assim aconteceu dessa vez, ele perdeu na pontuação. Talvez isso tenha sido uma surpresa para ele. Por mais que ele seja um cara técnico, que meu deu muito trabalho, ele movimenta e busca a luta para trás, então não atira muitos golpes. Praticamente me acertou mais com a mão da frente, mais jabs, não combinando muitos golpes. Os golpes que ele combinava eu defendia no bloqueio, não tem como pontuar, e eu pontuei muito jab na barriga dele, jab embaixo, jab em cima, jab direto. Mesmo errando alguns golpes, consegui acertar mais e assim pontuar melhor que ele.
Para o brasileiro, Foster não queria se expor naquela que era sua terceira defesa de título. O americano mais queria amarrar a luta do que efetivamente lutar, na avaliação de Robson.
– Ele queria mais enrolar, praticamente não estava querendo lutar. Ele estava só movimentando para trás o tempo todo, não vinha para a frente em momento algum. Ele achou que ali seria um conforto para ele, manter a distância o tempo todo, só trabalhar a mão da frente uma vez ou outra. E assim ele poderia sair vitorioso, mas graças a Deus a arbitragem viu a luta de uma maneira correta, nos garantindo nossa vitória – avaliou Robson, lembrando que dessa vez a arbitragem não comprometeu o resultado.
No nono round, com a luta aberta, um choque de cabeça abriu um corte no supercílio direito tanto de Robson quanto de Foster. O brasileiro contou que a partir daquele momento teve dificuldades para enxergar na luta.
– Quando abriu o supercilio (direito) aqui, não sei se no oitavo ou nono round, sangrou muito, e com isso o sangue tapou minha visão, eu estava lutando totalmente cego. Estou com um pouco de cataratas no olho esquerdo, e como no direito partiu e o sangue estava caindo, tapou o de cá (direito) e o de cá (esquerdo) enxergando pela metade (risos). Então foi no puro instinto, o último round foi puro instinto. Mesmo sem enxergar quase nada praticamente, consegui buscar a luta, conectar bons golpes e assim venci o último round e saí com a vitória.
Assim que a luta acabou, O’Shaquie Foster pediu a revanche imediata. Robson Conceição promete não fugir de qualquer duelo, mas teria outros planos caso possa escolher. Ele quer vingar a derrota de 2021 para Óscar Valdez e desafiou o mexicano ainda no ringue.
– Sou um cara que, como sempre, não corro dos desafios. Se a Top Rank decidir de eu lutar com ele (Foster) daqui a dois, três meses, estarei com certeza pronto. Mas meu plano agora não é lutar com ele, acabou a luta e desafiei Óscar Valdez, até porque estou aqui (na garganta) com ele, engasgado com aquela luta. Lutei com ele na casa dele duas vezes, ganhei duas vezes, uma no boxe olímpico e outra no boxe profissional, só que no profissional espanquei ele, mas não me deram a vitória. Então é uma luta que sonho sim, almejo fazer mais uma vez essa luta para mostrar que fui campeão mundial desde ali.
Mas o certo mesmo é que, ao desembarcar em Salvador na hora do almoço nesta segunda-feira, a folia estará garantida no caminho até o bairro de São Caetano, onde mora Robson Conceição.
Fonte: Combate