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Anderson x Sonnen: por que ex-atletas e famosos estão indo para o boxe

A não ser que você seja um fanático por lutas, daqueles que consome diariamente notícias de boxe e MMA, sua […]

Anderson x Sonnen: por que ex-atletas e famosos estão indo para o boxe

A não ser que você seja um fanático por lutas, daqueles que consome diariamente notícias de boxe e MMA, sua reação ao saber da despedida de Anderson Silva do Brasil, em novo confronto com o americano Chael Sonnen, foi provavelmente algo como: “mas eles vão lutar boxe? Por que?”

De fato, a rivalidade entre o “Spider” e o “Gângster de West Linn” se desenrolou toda no MMA, e teve seu capítulo derradeiro há 12 anos. Anderson até já vinha lutando boxe nos últimos três anos, com vitórias sobre Julio Cesar Chavez Jr. e Tito Ortiz e uma derrota para Jake Paul, mas Sonnen jamais competiu profissionalmente no ringue da “nobre arte”.

– Todo lutador de MMA quer ser boxeador e nenhum boxeador quer fazer MMA. Tem algumas coisas na vida que não dão certo. Todo atleta quer ser ator e todo ator quer ser atleta, é uma coisa estranha. A propósito, não tenho nada contra! Eu sempre quis lutar boxe também. Eu gosto de tudo no boxe. Gosto do robe, estou tentando arrumar um, ainda não tenho. Talvez eu use uma camiseta, mas não quero, quero usar um robe! – conta o lutador americano em entrevista.

Os dois são exemplos de uma tendência que tomou o boxe de assalto desde a pandemia da Covid-19: as lutas entre famosos, que têm ou não relação prévia com o esporte. Confrontos especiais entre celebridades acontecem há muitas décadas – um exemplo foi o duelo beneficente entre o campeão mundial de boxe Éder Jofre e o cantor Nelson Gonçalves em 1967 – mas decolaram depois que Mike Tyson anunciou um retorno aos ringues em 2020, aos 54 anos de idade, contra Roy Jones Jr.

Aquela luta gerou mais de 80 milhões de dólares (cerca de R$ 448 milhões no câmbio da época) e vendeu 1,6 milhão de pacotes de pay per view. Naquele mesmo evento, um nocaute imposto pelo youtuber Jake Paul ao ex-jogador da NBA Nate Robinson viralizou. A partir daí, os torneios entre celebridades ganharam projeção e assiduidade maiores. O irmão de Jake, Logan Paul, encarou Floyd Mayweather Jr, outro aposentado do boxe, em uma luta de exibição em 2021. Outro youtuber, KSI, fundou no mesmo ano a Misfits Boxing, uma liga especializada em combates de boxe entre influenciadores digitais.

E Jake mergulhou fundo no mundo do boxe. Inicialmente, com duelos contra outros influenciadores; depois, contra ex-lutadores de MMA, incluindo Anderson Silva, a quem impôs um knockdown e venceu por pontos. Agora, quatro anos depois de despontar nas preliminares de uma luta de Mike Tyson, ele vai enfrentar o próprio ex-campeão mundial dos pesos-pesados, agora com 58 anos de idade, em um mega evento programado para 15 de novembro.

No Brasil, a onda chegou de vez em janeiro de 2022, com a realização do primeiro Fight Music Show, ou FMS. A luta principal, entre o tetracampeão mundial de boxe Acelino “Popó” Freitas e o humorista Whindersson Nunes, foi um sucesso estrondoso. Segundo dados oficiais da organização, o evento gerou vendas de 200 mil pacotes de pay per view (números que não incluem a venda de assinaturas do canal Combate, que também transmitiu a luta) e lucro de mais de R$ 13 milhões.

Popó, que não lutava profissionalmente havia cinco anos, engatou um “revival” de sua carreira, agora com seguidores mais jovens que passaram a acompanhá-lo após o confronto com Whindersson. Ele virou o rosto do Fight Music Show, com outras três lutas desde então: contra o ex-lutador de MMA José “Pelé” Landi, o youtuber Junior Dublê e o ex-BBB Kléber Bambam. O tetracampeão mundial explana por que optou por esses desafios contra influenciadores sem experiência prévia.

– Porque não tenho mais nada a provar pra ninguém pra estar fazendo lutas oficiais. Quatro títulos mundiais, supercampeão do mundo, campeão mundial unificado… Provar o que, para que, para quem? Lutar com esses caras está dando mais ênfase. Vou lutar com quem hoje aqui no Brasil, a nível internacional como eu fui, que tem o mesmo respaldo que eu, que fez o mesmo que fiz pelo boxe? Com 48 anos? Não tem por que eu lutar com caras de 20, 25 anos, até porque minha era passou. Essa é a era agora de eu brincar e bater. Quem quiser desafiar, venha! – diz Popó.
Já lutadores de MMA veem no boxe uma possibilidade de estender a carreira sem o desgaste extra de treinar múltiplas modalidades – afinal, MMA é uma sigla em inglês para “artes marciais mistas”. O boxe é apenas um dos seus elementos, que podem incluir desde o jiu-jítsu e a luta livre até o muay thai e o caratê, entre outras.

– É um pouquinho mais fácil por quê? Porque quando você está treinando pra um camp de MMA, você precisa de um pouquinho mais de atenção em algumas coisas. Você precisa ter os treinadores certos pra não passar do limite. E é legal porque no MMA você treina diversas modalidades, né? Você treina muay thay, boxe, jiu-jitsu, wrestling, diversas modalidades e é um pouco mais complexo. Então você tem que ter um time muito bem centrado, todos os professores muito bem conectados, todos na mesma sintonia pra você não se lesionar. E no boxe, não. No boxe, você tem o professor (Luiz) Dórea e dois auxiliares que fazem a mesma coisa. Então você não muda muito – destrincha Anderson Silva.

E para os famosos, por que se expor a um esporte tão brutal quanto o boxe? Segundo Mamá Brito, presidente do FMS, o motivo vai além da bolsa paga pelo evento e passa pela fantasia de viver a experiência de ser atleta profissional por um dia.

– Não necessariamente dinheiro, mas a gente gera conteúdo. No mundo dos influenciadores, eles precisam de geração de conteúdo e ainda mais o desafio. Tem gente que não quer só gerar conteúdo, ele quer realmente se testar. Por isso eles vão para o boxe, porque quando você sobe lá dentro, num ringue, você vai ter que fazer alguma coisa, o cara vai te bater! Então se você não treinou pra fazer alguma coisa, vai ficar feio pra você – explica.

Para fazer um combate desses vingar, porém, não é questão de simplesmente colocar dois famosos no ringue e esperar que o público apareça. Mamá frisa que é importante que haja uma narrativa, um motivo para que os dois estejam no ringue.

– Geralmente nós temos o radar ligado para ver o que está acontecendo no mundo do entretenimento e treta. Nós temos um profissional que é especialista nisso, em ficar vendo o que está acontecendo e depois a gente fomenta o que já existe. A gente não cria do zero – detalha o dirigente.

Bambam estava atento a isso. Após assistir ao combate entre Popó e Whindersson e perceber o interesse nos duelos internacionais dos irmãos Paul, o ator e fisiculturista decidiu embarcar na ideia. Para isso, passou a provocar intensamente o pugilista baiano nas redes sociais e em programas de TV e rádio.

Deu resultado. A luta entre eles, em fevereiro, trouxe alcance inédito para as redes sociais do FMS: 19,1 milhões de contas atingidas no Instagram e 15,4 milhões no Facebook.

– Eu me denominei o rei da marketing porque eu fiz a venda da luta. Eu que fiz o trash talk, eu que fiz a polêmica, eu criei a situação. (…) O cara polêmico vende. Eu sou um cara polêmico. O (Conor) McGregor é um cara polêmico, vende. O Chael Sonnen, que vai lutar agora com Anderson Silva, é um cara polêmico, vende. Muhammad Ali vende, é um cara polêmico. O polêmico vende. Só que você tem que ser polêmico com solidez e ter uma identidade, não adianta você ser polêmico sem ser uma pessoa pública – ensina o ator e fisiculturista.

Com a ampla atenção midiática e do público, vêm grandes ganhos financeiros. Bambam afirma que ganhou mais de R$ 10 milhões em função da luta com Popó, número que, segundo ele, inclui contratos a longo prazo firmados após o combate.

– Eu assinei contrato em janeiro pra até janeiro do ano que vem. Não foi a luta só, foi o montante do ano inteiro. Eu não fiz na luta R$ 10 milhões. No montante, até passa, vai passar mais até. Recente agora eu fiz R$ 240 mil numa semana, só em publicidade e em lançamento de filme – diz Bambam.

Para a luta principal do Spaten Fight Night, no próximo sábado, a organização conta com todos os elementos: ex-lutadores famosos, narrativas envolventes – a despedida de Anderson Silva, a trilogia com o arquirrival – e a personalidade provocadora. Chael Sonnen não luta há cinco anos, mas quando pega num microfone, parece se teletransportar para o passado e reassume a persona do “vilão”.

– Eu vou trapacear! Não sei como. Eles têm luvas de 14 onças, vou tirar o acolchoado delas, ou vou enfaixar minhas mãos como um gesso, vou trapacear nesta luta. Mas ele sabe que vou trapacear! Ele sabe muito bem disso! Por que eles diriam as regras para mim? Por que eu quero saber das regras? Eu não sigo regras! – dispara o “Gângster de West Linn”.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fonte: Combate

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