Pesquisadores reunidos ontem para discutir a desigualdade social no Brasil concordaram que as políticas sociais implementadas no país desde ao menos o governo Fernando Henrique Cardoso têm melhorado sua qualidade e abrangência. Porém, dizem, os resultados são “contraditórios”.
O debate fazia parte do seminário “Pobreza, Desigualdade e Desenvolvimento”, promovido pela Folha, o Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento) e o Institute of Development Studies, da Universidade de Sussex, na Inglaterra.
Marcus Melo, da Universidade Federal de Pernambuco, e Eduardo Marques, pesquisador do Cebrap –onde ocorreu o debate–, concordaram que uma das marcas da ampliação do acesso a serviços e políticas públicas para os pobres do Brasil nos últimos anos é a ausência de “intermediação” por lideranças políticas, religiosas ou de outro tipo. Ou seja, o “clientelismo” diminui.
Marques também citou uma recente pesquisa do Cebrap que indica uma “significativa redução” nas desigualdades no acesso a serviços públicos em São Paulo e disse que a tendência nacional é de redução da pobreza nas grandes cidades.
Ainda assim, classificou os resultados como “contraditórios”, por dois motivos. A persistência de altos níveis de segregação espacial dos pobres nas metrópoles -que contribui para a reprodução da desigualdade- e o baixo crescimento da economia no período –com reflexos no nível de emprego.
Zander Navarro, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, defendeu propostas para a rápida redução da pobreza (leia texto ao lado) e disse que “se não há crescimento, não vamos a lugar nenhum”.
Marcus Melo, no entanto, classificou os resultados das políticas sociais como “pífios”. Disse que há benefícios que distribuem renda (como a aposentadoria rural e o Bolsa-Família) e outros que contribuem para manter a desigualdade.
Citou os gastos com aposentadorias de servidores públicos e o INSS e o SUS (Sistema Único de Saúde) como “concentradores”. No último caso, isso se deve ao fato de que o SUS paga por serviços prestados na rede hospitalar. Quase 80% dela se concentra no Sul e Sudeste.
Na primeira mesa de debates do dia, intitulada “Brasil: uma agenda de pesquisas sobre o desenvolvimento”, Glauco Arbix, ex-presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), e Carlos Brito Cruz, ex-reitor da Unicamp, concordaram que o governo brasileiro coordena mal seus gastos para incentivo à pesquisa e inovação de produtos na indústria, o que dificulta o desenvolvimento.
Brito Cruz afirmou que o Brasil gasta menos de 1% do PIB com pesquisa, enquanto países como EUA e Japão gastam cerca de 2%. Vera Schattan Coelho, pesquisadora do Cebrap e organizadora do evento, também participou do debate.
Fonte: Folha Online
Gastos sociais têm efeito contraditório, afirmam analistas
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