Política

Conselho de Ética vive crise após absolvição de mais dois

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A absolvição de dois deputados ontem, no plenário da Câmara dos Deputados, gerou a maior crise desde o início das denúncias do “mensalão” entre os deputados que integram o Conselho de Ética. Acusações, ameaças de renúncia e um inédito racha entre os membros do conselho foram as conseqüências das duas votações.

Antes mesmo do início da sessão do conselho rodinhas de deputados se formavam para reclamar de “humilhação”, “falta de respeito” e “escárnio”, em referência às absolvições dos deputados Professor Luizinho (PT-SP) e Roberto Brant (PFL-MG). Deputados chegaram a defender o fim do voto secreto em julgamentos de colegas.

O conselho, composto por 15 membros titulares e 15 suplentes de vários partidos, havia dado pareceres pelas cassações dos dois deputados. O mesmo havia acontecido na absolvição de Romeu Queiroz (PTB-MG). Além deles, também escapou em votação o líder do PL, Sandro Mabel (GO).

O deputado Júlio Delgado (PSB-MG), que relatou o processo contra José Dirceu (PT-SP), chegou a falar em renúncia coletiva do conselho, como forma de protesto. Depois, recuou, dizendo que os conselheiros deveriam repensar sua participação no órgão. “Isso aqui está virando encenação.” Cezar Schirmer (PMDB-RS), que relata o processo contra João Paulo Cunha (PT-SP), respondeu: “Encenação, não! Eu não me prestaria a esse papel”. “Estamos fazendo papel de bobos”, insistiu Delgado.

No final da tarde, aconteceu a primeira renúncia. O deputado Colbert Martins (PPS-BA), suplente no conselho, anunciou seu afastamento. “Para que vou fazer uma avaliação que depois é desconsiderada pelos meus pares?”

Ressaca

O nervosismo aumentou após uma trapalhada do presidente do conselho, Ricardo Izar (PTB-SP). “Estamos frustrados, de ressaca. A grande maioria dos deputados não conhecia os processos. Não é fácil trabalhar meses e meses e ver isso desconsiderado”, disse.

Assim mesmo, Izar, sem maiores explicações, decidiu que a leitura do relatório do processo contra o petista José Mentor (SP) seria feita na semana que vem e não ontem, como era o previsto.

Isso apesar de a pauta distribuída aos deputados e à imprensa dizer que a reunião de ontem era para “apresentação, leitura, discussão e votação do parecer”. Tudo pronto, os parlamentares foram surpreendidos com a informação de que a sessão não ocorreria. Pressionado, Izar disse que atendia a um pedido de Mentor.

Deputados desconfiaram de uma manobra do petista para jogar seu processo para o final da fila e evitar ter o caso votado “a quente”. “Alguém está querendo esfriar o caso”, disse Orlando Fantazzini (PSOL-SP). “Estamos sob o impacto dos eventos de ontem. Cachorro mordido por cobra tem medo até de lingüiça”, disse Chico Alencar (PSOL-RJ).

Foi preciso o próprio Mentor aparecer para oferecer uma explicação. “O acerto é votar na semana que vem por problemas de agenda de meu advogado”, disse. A inclusão na pauta de ontem seria por uma firula regimental: caso contrário, venceria o prazo de cinco sessões para isso, o que poderia anular o processo.

Em tom exaltado, o deputado Edmar Moreira (PFL-MG) inquiriu Julio Delgado a respeito de uma declaração em que censurava o fato de o pefelista ter apoiado a absolvição dos deputados. Delgado repetiu a crítica: “Costumávamos votar juntos, mas V. Exa. ultimamente tem adotado outras posições. O nosso povo conterrâneo de Juiz de Fora é que vai julgar isso”. Moreira explodiu: “Não faço desse conselho palanque eleitoral e não aceito recado político!”

As absolvições dos envolvidos com o “mensalão” foram criticadas pelo senador Delcídio Amaral (PT-MS): “Respeito o posicionamento do plenário, mas nessa batida vai ficar cada vez mais difícil andar nas ruas”.

Comemorações

Professor Luizinho e Roberto Brant optaram pela companhia de amigos e familiares para celebrar, na madrugada de ontem. O petista se reuniu com pessoas próximas num apartamento funcional na Asa Sul. Entre os que passaram por lá estavam o ministro Luiz Marinho (Trabalho), a assessora especial da Presidência da República Miriam Belchior, e o prefeito João Avamileno (PT), de Santo André, base eleitoral do deputado, além de parlamentares.

O evento foi fechado à imprensa porque, segundo Luizinho, não era uma comemoração. “Não vou querer ficar fazendo festa com algo que não se pode festejar. Seria uma falta de sensibilidade”, disse. Já o colega pefelista estava no bar com sete irmãos, entre eles Fernando Brant, que é compositor e um dos integrantes do “Clube da Esquina”.

Ontem pela manhã, Brant e Luizinho se encontraram rapidamente no Salão Verde da Câmara, onde se cumprimentaram. O deputado petista chegou a dizer a Brant que o discurso do pefelista o havia ajudado.

Fonte: Folha Online

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