Política

[ESPECIAL] Respeitável público, com vocês a história do palhaço, a alm

Os palhaços são profissionais da arte de fazer graça, que resistem ao tempo e mantém-se vivos graças à paixão pela sua arte

Antigamente, quando o circo chegava às cidades, as crianças cantavam nas ruas: “Hoje tem goiabada? Tem sim senhor! O palhaço o que é? É ladrão de mulher!”

Fonte de prazer estético, o palhaço é sinônimo de riso solto, a alma de um circo, um dos maiores espetáculos da terra. Espetáculo milenar que encanta adultos e crianças. Acredita-se que a origem do circo é chinesa, pois lá foram descobertas pinturas de cerca de 5 mil anos de acrobatas, contorcionistas e equilibristas. Eram, na verdade, treinamentos para guerreiros, pois nelas eram exigidas muita força, flexibilidade e agilidade.Também foram encontrados indícios da arte circense nas pirâmides do Egito, na Grécia, na Índia e em Roma.

O circo – A forma como conhecemos o circo, com picadeiro e lona, de forma arredondada, é a chamada forma moderna e tem origem na última década do século XVIII. Hoje em dia, além de malabarismo e contorcionismo, elementos da dança e do teatro foram incorporados ao circo. Registros históricos apontam que o circo brasileiro nasceu juntamente com a imigração dos ciganos, vindos da Europa. Mas pouco a pouco o nosso circo foi tomando um rumo próprio e isso é constatado, principalmente, na figura do nosso palhaço. O palhaço europeu é essencialmente um mímico, enquanto o brasileiro é falante e bastante humorístico.

A primeira escola de circo que se instalou no Brasil chamava-se Piolin, em São Paulo, montada no estádio do Pacaembu, em 1977. Uma homenagem a um dos maiores palhaços brasileiros de todos os tempos, que aqui em João Pessoa também inspirou um grupo de artistas a criar uma escola de arte alternativa, no bairro do Roger, e que foi responsável pela descoberta de grandes talentos, nas últimas décadas, entre eles o palhaço Xuxu, um dos nomes mais respeitados no cenário atual.

Piolin, na verdade Abelardo Pinto, nasceu em Ribeirão Preto, São Paulo, em 27 de março de 1987. Em sua homenagem, a data do seu nascimento foi escolhida como o Dia do Circo. Um dos mais queridos palhaços brasileiros, que na Semana de Arte Moderna, movimento artístico e literário realizado em fevereiro de 1922, foi reconhecido como exemplo de artista genuinamente brasileiro e popular. O nome Piolin surgiu durante um espetáculo beneficente em que contracenava com artistas espanhóis. Foi batizado de “Piolin” (barbante) por ser magro e ter as pernas compridas.

Em 1982, surgiu a Escola Nacional de Circo, no Rio de Janeiro e jovens de todas as classes sociais têm acesso às técnicas circenses. Formados, os ex-alunos vão trabalhar nos circos brasileiros ou no exterior, ou formam grupos que se apresentam em teatros, ginásios e praças. Segundo pesquisadores, atualmente existem mais de 2.000 circos espalhados pelo Brasil, sendo aproximadamente 80 médios e grandes, com trapézio de vôos, animais e grande elenco. Estima-se um público anual de 25 milhões de espectadores. Entre os problemas enfrentados nos dias de hoje estão os terrenos caros e cidades que não permitem a montagem de circos, pois seus prefeitos temem a presença de “forasteiros”.

Atualmente, paralelamente aos circos itinerantes e tradicionais que ainda existem, a arte circense também se aprende em escolas. Por uma mudança de valores, muitos circenses colocaram seus filhos para estudar e fazer um curso universitário. As novas gerações estão trabalhando mais na administração dos circos.

Surge um novo movimento, que pode ser chamado de Circo Contemporâneo. Não há uma data precisa do seu surgimento, mas pode-se dizer que o movimento começou no final dos anos 70, em vários países simultaneamente. Atualmente, a Intrépida Trupe, os Acrobáticos Fratelli, os Parlapatões, Patifes e Paspalhões, a Nau de Ícaros, o Circo Mínimo, o Circo Escola Picadeiro, as Linhas Aéreas e o Teatro de Anônimo, entre outros, formam o Circo Contemporâneo Brasileiro

O palhaço – Tradicionalmente, o palhaço brasileiro é mais malandro e conquistador, dono de um humor picante. Por causa das dificuldades enfrentadas pela maioria dos circos de médio e pequeno porte hoje em dia, eles acabam instalando-se na periferia das grandes cidades e realizando espetáculos voltados para as classes populares. A modernização dessa arte não se deu em termos de espaços e equipamentos.

Hoje, o circo que tenta resistir à concorrência de um mundo cada vez mais moderno, investe no elemento humano, suas destrezas, habilidades e criatividade. Por isso, os palhaços são as figuras centrais, e geralmente é desses artistas, desse profissional, que depende o sucesso do circo.

Com seu nariz vermelho, seu colarinho folgado, a boca enorme, as botas desencontradas, ele transforma o mundo numa bola colorida que todos podem jogar, pobres e ricos, feios e bonitos. Faz da vida um exercício de paz, um mundo de gargalhadas e fantasias em que todos ficamos iguais. E quando rimos do palhaço, estamos rindo de nós mesmos e nos perdoando de nossos tombos, de nossos erros, de nossas tristezas.

Algumas das palhaçadas mais comuns são: uma flor que solta água; vários palhaços saindo de um carro pequeno; tapa na cara; cambalhotas; e jogar água no público. Geralmente eles se valem de “reprises”, a maneira usual de se referir aos tradicionais números. O palhaço costuma trabalhar em conjunto com o Mestre de Cerimônia do circo, o apresentador, e com o Mestre de Pista, que contracena e apóia a sua performance.

O palhaço Xuxu – O famoso palhaço Xuxu é na verdade o nosso atual representante da cultura municipal, o atual Diretor-Executivo da Fundação Cultural de João Pessoa (Funjope), Luís Carlos Vasconcelos. Ator e diretor de teatro, ele é também um dos fundadores da Escola Piolin. Como diretor de teatro destacou-se com a peça “Vau da Sarapalha”, aclamada pelo público e crítica no Brasil e no mundo há mais de duas décadas.

Como ator, estreou no cinema interpretando Lampião em “Baile Perfumado”. Atuou também nos filmes “O primeiro dia”, “Eu, Tu, Eles”, “Abril Despedaçado” e “Carandiru”. Em 1983 realizou o Festival de Palhaços da Paraíba e em 2001 promoveu em João Pessoa o Encontro Mundial de Palhaços, sob o título de “O riso da Terra”. Recentemente, no início da programação do Verão 2006, Luiz Carlos trouxe para João Pessoa, como parte da programação do Projeto Estação Nordeste, o palhaço catalão Tortell Poltrona, considerado um dos melhores do mundo.

Xuxu usa malabares, monociclo e outros apetrechos em cena como uma válvula para o riso, mesclando características tradicionais dos palhaços com técnicas circenses e elementos teatrais. Um palhaço com menos clichês e mais humanidade. De cara pintada, barriga saliente e sapatos folgados, Xuxu é a caricatura do típico palhaço dos velhos circos.

Circo Escola Pirilampo – O Circo Escola Pirilampo foi fundado em 1994, localizado no tradicional bairro de Jaguaribe. Funciona como uma escola e atende cerca de trinta crianças e adolescentes em situação de risco pessoa e social. Para participar do projeto que agora faz parte do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) e passa a contar com o apoio da Prefeitura Municipal de João Pessoa, se faz necessário estar matriculado e estudando na rede pública de ensino.

A história de um outro palhaço – Djalma Alves da Cruz, é um profissional do circo à moda antiga. O palhaço Pirulito. Aos 73 anos, nos faz crer que o riso deve ser um bom remédio contra os sinais inevitáveis do processo de envelhecer. Um rosto jovem e um sorriso fácil, ele passou toda a sua vida dentro do universo mágico do Circo.

Terceira geração de uma família circense, seu avô Joaquim Buranhém, era um imigrante português que trouxe em sua mala o tradicional espetáculo “Saltimbanco”, um estilo que se vale de uma linguagem simbólica e é sinônimo de arte itinerante. Djalma afirma que o “circo é uma criança que nunca envelhece”, e perguntado sobre onde nasceu, dá uma boa gargalhada. E quem é de circo tem local de nascimento? Ele conta que “nasceu de passagem em Maceió”.

Djalma Buranhém, o nome artístico do palhaço Pirulito, um profissional que já fez de tudo um pouco sob a lona de um circo, é o coordenador das atividades do Circo Escola Pirilampo, um símbolo, como ele, de resistência. Atualmente emprega parte de seu tempo a contar a história de sua família. A memória anda passeando pela história de sua família, tradicional no mundo do circo. Ele prepara um livro cujo título será “A Terceira Geração Circense”.

O palhaço Pirulito observa que para um circo fazer sucesso é fundamental que ele seja bonito. “Tem que estar renovando sempre, ter gente bonita, movimento ao redor”, acrescenta, lembrando que “o palhaço é um artista, não basta ser engraçado. Fazer chorar é fácil, mas para fazer você rir, sair do sentimento, tem que ter um dom”.

Ele considera a profissão de palhaço como uma das mais difíceis que conhece. Lembra o dia em que estava com uma filha à beira da morte, e conseguiu forças para fazer o espetáculo. “O amor que se tem pela profissão, faz você esquecer o sofrimento, na hora que você atravessa as cortinas”, conclui o palhaço Pirilampo.


Lilla Ferreira
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