Bolsa Família é eficiente no combate à pobreza, diz economista do Bird

O programa Bolsa Família é extremamente eficiente na redução da pobreza, mas ” não será sustentável ” se for tratado apenas como um programa de transferência de renda a curto prazo, alertou ontem François Bourguignon, economista-chefe do Banco Mundial (Bird), em seminário sobre desigualdade, promovido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Para Bourguignon, os responsáveis pelo programa social de maior visibilidade do governo Lula têm também de se preocupar com seu efeito futuro. ” O benefício do Bolsa Família é político e econômico também, pois as crianças contempladas vão freqüentar a escola por mais anos e, conseqüentemente, terão maior salário no mercado de trabalho ” , disse.

O economista do Ipea, Ricardo Paes e Barros, estudioso da pobreza, presente ao seminário, ignora se o papel do Bolsa Família na redução da desigualdade brasileira é sustentável ou não. ” Esta é uma questão para debate dos especialistas ” , avaliou. Mas destacou que o programa contribuiu com 24% para uma maior redução da desigualdade no Brasil entre 2003 e 2004, quando o índice de Gini, que mede a desigualdade, baixou de 0,58 para 0,57. Em 2000, o Gini era de 0,60%. ” A contribuição do Bolsa Família foi maior que a da educação, de 12% ” , ressaltou.

Ambos concordam que o efeito do Bolsa Família é pequeno sobre a redução da desigualdade brasileira, apesar da importância do programa que, segundo ele, teve impacto de 54% sobre a distribuição de renda no país. Bourguignon avalia que se o Bolsa Família permanecer no seu limite atual (11 milhões de famílias) seu impacto sobre a desigualdade vai continuar o mesmo por muito tempo. ” O buraco da desigualdade entre o Brasil e outros países é grande ” , disse.

Paes e Barros concorda com Bourguignon das dificuldades na redução da desigualdade, apesar do índice de Gini estar em declínio desde o início da década. Ele calcula que o Brasil, mesmo com o Bolsa Família, vai levar uns 20 anos para atingir o nível médio de desigualdade dos países do mundo. ” Continuamos entre os dez piores ” , reconheceu.

Isso não anula, na ótica de Paes e Barros, o fato de que a desigualdade no país está declinando, bem como a pobreza está se reduzindo. ” Entre 2003 e 2004, a extrema pobreza caiu de 14,5% para 12,3% da população. ” O contingente de extrema pobreza tem a renda individual de R$ 70/mês. Ele defende que a política de redução da pobreza passa pelo repasse de renda por meio de Bolsa Família ou pensões pagas pelo governo. Prega ainda a transferência de maior renda para as crianças pelo Bolsa Família. ” Não podemos dizer que o programa tenha como alvo só as crianças. Mas entre as famílias beneficiadas, 6% têm idosos e 79% têm crianças. ”

O economista-chefe do Bird defende crescimento com igualdade de oportunidades para reduzir a desigualdade. ” Aumentar a eqüidade – igualdade de oportunidades – é fundamental para ter mais crescimento. Para ele, a grande vantagem do Bolsa Família a longo prazo é contribuir para maior eqüidade no mercado de trabalho brasileiro.

Bourguignon defende em seu trabalho ” Eqüidade e Desenvolvimento ” , que acaba de ser divulgado, que a eqüidade deve ser parte integral de uma estratégia bem-sucedida de redução da pobreza nos países emergentes. A falta de oportunidades leva à perda de potencial humano e, em muitos casos, pode retardar o ritmo do crescimento econômico sustentado dos países em desenvolvimento, argumenta.

O principal executivo do Bird reconhece que o Brasil tem crescido a um ritmo inferior ao de outros países emergentes nos últimos dez anos. Para o país aumentar o ritmo de crescimento, ele sugere que se crie ” com urgência ” condições para acelerar o crescimento local, destacando como principais fatores para induzir o crescimento o investimento em educação e em obras de infra-estrutura.

Bourguignon esteve esta semana na Fiesp, onde participou do debate de sobre subsídios agrícolas, defendendo os países emergentes.

Valor Online