O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a defender ontem o ministro Antonio Palocci (Fazenda) e assegurou sua permanência no cargo, em reunião com ministros e parlamentares da base aliada, no Palácio do Planalto.
Ontem à noite, ao chegar a uma cerimônia na Confederação Nacional da Indústria, Lula confirmou aos jornalistas que o ministro fica no cargo. Questionado se Palocci pediu demissão, fez sinal de “não” com o dedo. Na saída, novamente questionado sobre Palocci, Lula disse: “Quando eu tiver que falar, eu falo”.
Foi selada pela manhã a estratégia do PT de impetrar mandado de segurança para impedir o depoimento à CPI dos Bingos do caseiro Francenildo dos Santos Costa, que acusou Palocci de freqüentar a casa da “república de Ribeirão” no Lago Sul, em Brasília.
Lula disse a auxiliares que não demitirá Palocci por eventuais revelações embaraçosas de sua vida pessoal. A respeito das suspeitas de corrupção pela ligação com ex-assessores do tempo em que Palocci foi prefeito de Ribeirão Preto, afirmou que o ministro negou qualquer tipo de tráfico de influência no atual governo e que acredita na sua inocência.
Do ponto de vista político, Lula avalia que a saída de Palocci seria uma vitória da oposição e enfraqueceria muito o governo. O presidente costurou uma trégua com as alas mais radicais do PT para a reunião do Diretório Nacional do partido no fim de semana. O diretório não fará um documento com críticas à política econômica e a Palocci.
Um dos indicativos da disposição de Lula de manter Palocci é que o ministro já trabalha na elaboração de uma parte do plano de governo do presidente. Ele pediu a vários ministros que elaborem um resumo do que foi feito em cada pasta. As realizações serão colocadas no plano juntamente com metas para o segundo mandato.
Segundo um dos presentes no encontro, Palocci já enfrentou muita pressão, inclusive do PT, para defender o governo, e o governo enfrentará essa pressão para defendê-lo de uma questão que o presidente reputa ser pessoal.
Estiveram na reunião os ministros Márcio Thomaz Bastos (Justiça), Dilma Rousseff (Casa Civil), Jaques Wagner (Relações Institucionais), Ciro Gomes (Integração Nacional) e o próprio Palocci, além do líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), e do senador Tião Viana (PT-AC), que impetrou o mandado de segurança no STF.
A reunião começou por volta das 9h. Às 10h20, o mandado de segurança foi protocolado. A idéia de impor limites à atuação da CPI tem sido defendida por Lula e sua viabilidade jurídica tem sido debatida por Thomaz Bastos.
Defesa dos colegas
Thomaz Bastos defendeu ontem Palocci e disse ter medo de que a CPI dos Bingos esteja fazendo uma investigação seletiva.
“Acredito que a CPI é um instrumento extremamente importante da democracia representativa. Mas tenho muito medo de que esta CPI tenha perdido completamente seu foco e esteja fazendo uma investigação seletiva e uma disputa eleitoral”, afirmou Thomaz Bastos, que classificou Palocci como “o melhor ministro da Fazenda que o Brasil já teve”.
Já o ministro Jaques Wagner afirmou que a CPI está “desrespeitando a lei” ao transformar a comissão num “palanque” eleitoral. “Eles estão exacerbando claramente, promovendo uma CPI até 24 de junho sem sequer explicar o motivo. A CPI está se transformando num palanque, e como tal é desrespeito à lei”, afirmou.
Luiz Fernando Furlan, ministro do Desenvolvimento, saiu em defesa de Palocci. ” O ministro é um dos esteios do governo, uma pessoa muito serena, que demonstrou ao longo da sua trajetória muita credibilidade em tudo o que fez.” O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu também defendeu a permanência de Palocci. O ex-ministro, cassado no ano passado sob a acusação de ser o mentor do escândalo do “mensalão”, disse que Palocci deve ficar no cargo. “Essas acusações têm jeito de farsa, casuísmo, montagem. O caseiro [Francenildo dos Santos Costa] está sendo obviamente instrumentalizado pelo PSDB. Aliás, o que o PSDB está fazendo nessa CPI é claramente inconstitucional”, disse Dirceu.
Fonte: Folha Online