Política

[ESPECIAL] Gravidez na adolescência: crianças que criam crianças

No Brasil, cerca de 20% das crianças que nascem nos hospitais, são filhos de adolescentes que relutam pela esperança de voltar a viver a adolescência

A incidência de gravidez na adolescência é algo crescente e preocupante para o quadro de qualquer país. Esse fato atinge diretamente o futuro da nação, pois crianças trocam a sala de aula para cuidarem de outras crianças, muitas vezes, sem ter a mínima preparação para cuidar de outro ser. A gravidez nessa fase da vida destrói sonhos e vontades de meninas que ainda poderiam brincar de bonecas. Para cada cinco mulheres grávidas, existe uma adolescente.

No Brasil, cerca de 20% das crianças que nascem nos hospitais, são filhos de adolescentes que relutam pela esperança de voltar a viver a adolescência. A maioria das adolescentes grávida, não tem condições financeiras e em muitos casos, não concluíram o ensino fundamental. Sem contar que também não possuem condições emocionais para educar outra criança.

A Pesquisa Nacional em Demografia e Saúde mostrou um dado alarmante: 14% das adolescentes já tinham pelo menos um filho e as jovens mais pobres apresentavam fecundidade dez vezes maior. Entre as garotas grávidas atendidas pelo SUS num período de cinco anos, houve aumento de 31% dos casos de meninas grávidas entre 10 e 14 anos. Nesses cinco anos, 50 mil adolescentes foram parar nos hospitais públicos devido a complicações de abortos clandestinos. Quase três mil na faixa dos 10 a 14 anos. Não se pode esquecer que em muitos casos, a jovem mãe, tem idéia de suicídio ou vontade de fugir de casa, para tentar fugir das críticas e “conselhos” de parentes e amigos.

O contexto familiar é algo muito importante para as atitudes do adolescente. O diálogo constante e a conscientização dos meios anticoncepcionais são necessários para orientar as meninas nessa fase de descoberta e onde “tudo” é válido. É na adolescência que surge o conflito familiar, a mudança física e emocional. O “não” da família bate de frente com o “sim” da mídia e acabam confundindo a cabeça das meninas mães.

A contradição

Estamos num tempo que não falta propaganda sobre os métodos anticoncepcionais, a mídia é intensa e basta ir a um posto de saúde para receber orientações e preservativos, popularmente chamados de “camisinha”. Existem vários meios para se evitar a gravidez, principalmente quando se trata de adolescentes. O quadro parece uma faca de dois gumes, nunca a população teve tantos meios para se prevenir, no entanto, nunca se registrou tantas adolescentes grávidas como hoje.

Será que a informação é insuficiente? Será que as meninas têm realmente o desejo de engravidar? Será que elas querem mesmo trocar a boneca por uma criança? São perguntas que não encontram respostas e que infelizmente é a mais pura realidade do nosso Brasil.

O drama

Depois da relação sexual, vem o exame de gravidez. É nessa hora que meninas se chocam com a realidade, estão grávidas. Nesse momento, a confusão de sentimentos a enchem de angústia, sofrimento, desilusão e aflição. O medo da reação da família, em especial, a reação do pai, que não quer aceitar que sua filha tão jovem, deixará a escola para ser mãe. Vale ressaltar que entre os sentimentos negativos, é constatada uma felicidade interior e inconsciente, por realizar o sonho de ter um filho.

Uma vez constatada a gravidez, se a família da adolescente for capaz de acolher o novo fato com harmonia, respeito e colaboração, esta gravidez tem maior probabilidade de ser levada a termo normalmente e sem grandes transtornos. Porém, havendo rejeição, conflitos traumáticos de relacionamento, punições atrozes e incompreensão, a adolescente poderá sentir-se profundamente só nesta experiência difícil e desconhecida, poderá correr o risco de procurar abortar, sair de casa, submeter-se a toda sorte de atitudes que, acredita, que “resolverão” seu problema. O bem-estar afetivo da adolescente grávida é muito importante para si própria, para o desenvolvimento da gravidez e para a vida do bebê. A adolescente grávida, principalmente a solteira e não planejada, precisa encarar sua gravidez a partir do valor da vida que nela habita, precisa sentir segurança e apoio necessários para seu conforto afetivo, precisa dispor bastante de um diálogo esclarecedor e, finalmente, da presença constante de amor e solidariedade que a ajude nos altos e baixos emocionais, comuns na gravidez, até o nascimento do seu bebê.

A escola

Outro fato preocupante é o abandono aos estudos, 98% das grávidas adolescentes, deixam a escola para se dedicarem à gravidez, e também pelo fato de não conciliarem as duas responsabilidades.

O parto na adolescente grávida

Segundo os critérios da Organização Mundial de Saúde (OMS), adolescente compreende a idade dos 10 aos 20 anos e de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente, vai dos 12 aos 18 anos. Nessa fase, o corpo passa por várias modificações e exige cuidado em caso de gravidez. As piores complicações no parto, ocorrem com meninas que ainda não completaram 15 anos de idade. A mãe adolescente tem maior morbidade e mortalidade por complicações da gravidez, do parto e do puerpério. A taxa de mortalidade é 2 vezes maior que entre gestantes adultas. Dos partos feitos no Brasil, 30% são de adolescentes.

O parto é temido pelas adolescentes porque é algo “estranho” ,por isso é necessário que tenha o diálogo das mães ou de alguém mais experiente. As palavras do médico que faz o pré-natal da menina, tem importância absoluta. É preciso falar abertamente sobre o assunto para diminuir a tensão na hora do parto.

O que tem preocupado obstetras em geral, é a possibilidade da gravidez na adolescência ser considerada “de risco”, com conseqüentes complicações por ocasião do parto. Alguns especialistas acreditam que o risco ocorre porque a estrutura óssea da bacia ainda não estaria completamente formada. Eventualmente, o risco de sangramento pode aumentar no parto normal. Quando isso ocorre em pacientes com anemia, surgem dificuldades no parto e na amamentação. Nas cesáreas, no entanto, é maior o risco de infecções.

Adolescentes grávidas na Paraíba

O Clickpb fez um levantamento na Maternidade Cândida Vargas, em João Pessoa, e constatou que é bastante alto o número de adolescentes grávidas na cidade. Não é preciso procurar muito, basta chegar na sala de ultra-sonografia, para ver as adolescentes fazendo o pré-natal. Meninas entre 12 e 17 anos procuram diariamente o Hospital para fazer os exames. São meninas que em geral, não têm condições financeiras e que mal completaram o primário.

Elas alisam a barriga e conseguem reverter o sentimento de culpa e revolta, pela nostalgia de ser procriadora. São meninas que deixaram as bonecas para viver uma realidade deficitária, onde receberão críticas da sociedade e “perderam”, talvez a fase mais importante da vida: a fase da descoberta.

Para R. L. da S., de apenas 15 anos e grávida de oito meses, a situação foi diferente. Ela disse que tinha o desejo de ser mãe e que está feliz por realizá-lo. “Eu quis engravidar mesmo”, disse. Quando perguntada sobre a reação da família, ela suspirou e disse “Minha mãe aceitou, mas meu pai não, porque disse que eu sou muito nova”.

A jovem mãe disse que ficou surpresa e feliz ao ver o exame de gravidez. Ela disse ainda, que o que a faz sofrer é ter deixado os estudos, ela estava cursando a quarta série do primário. “Me arrependi de ter engravidado, porque queria estudar, mas agora sei que não há saída”, enfatizou. Quando perguntada se estava preparada para ser mãe, Rafaela disse que sim. “Até o momento estou preparada para tomar conta da minha filha”, desabafou. Rafaela disse ter o sonho de voltar a estudar,quando a criança estiver maior.

Outro exemplo é o de A. L. , com 14 anos, grávida do primeiro filho, com seis meses de gestação. Ela confessa que a vida teve uma reviravolta quando ficou sabendo da notícia. Ana, além de ser mãe tão nova, será também mãe solteira, pois seu parceiro “fugiu” quando soube da responsabilidade que estava por vir.

A. L. diz que enfrentou os pais, os quais não aceitaram a novidade. “Meu pai quase me bateu e não fala mais comigo”, disse a jovem. “Ele disse que não me considera mais como filha”, completou. A menina deixou a escola, onde estava cursando a terceira série.

Enfim, a gravidez na adolescência é uma questão que deve ser relembrada todos os dias, pelos governantes, pelos pais e por você que está lendo esta matéria. É necessário que haja investimento em educação e diálogo por parte da família.

A falta de informação dos pais de adolescentes é um fator fundamental. Não havendo em casa alguém que possa informa-los, que sirva de modelo, que tire suas dúvidas e angústias, como esperar dos adolescentes comportamentos mais adequados? Como querer que eles aguardem o tempo mais adequado para aproveitar a sexualidade como algo bom, saudável e necessário para o ser humano?

Lembrando que a adolescente não fica grávida sozinha, é fundamental que os adolescentes homens participem de todo o processo, e nos cuidados necessários que devem ser tomados durante e após a gravidez. Estas informações podem ajudar.


Valéria Sinésio
Clickpb


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