Com um atraso de meio ano, a obra de rebaixamento da calha do rio Tietê será inaugurada amanhã pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB). A fim de tentar evitar enchentes, o rio foi rebaixado 2,5 metros em média com a retirada de 9 milhões de m3 de terra e lixo do seu leito.
As obras duraram quatro anos e custaram R$ 1,1 bilhão. O seu sucesso dependerá também, no entanto, de um permanente trabalho de manutenção, já que a cada ano chega ao rio entre 800 mil e 1 milhão de m3 de material.
Segundo o governo estadual, será necessário estabelecer uma parceria com a iniciativa privada para pôr em prática um projeto de remoção de lixo e terra.
“Se não fizermos nada, o problema volta. Essa é a nossa preocupação agora”, disse o secretário Mauro Arce (Energia, Recursos Hídricos e Saneamento). Segundo ele, o trabalho de manutenção será feito com barcos, pelo rio, e não pela marginal.
Arce explicou que o atraso na entrega da obra ocorreu em razão de ações judiciais que questionavam a disposição da terra e do lixo subtraídos do rio, feita em grande parte na lagoa de Carapicuíba.
Além de aprofundar o leito do Tietê, o governo fez um jardim nas margens do rio (25 km de cada lado) e 4.000 floreiras foram instaladas na área.
Em maio do ano passado, após três anos sem enchentes, a marginal Tietê voltou a alagar. Arce disse que, se a obra já estivesse concluída na época, o problema talvez não tivesse ocorrido. Mas admite que o rebaixamento da calha não é milagroso. “A obra é para reduzir a probabilidade e a freqüência de enchentes. Mas não há uma garantia. Depende da quantidade de chuva e da intensidade.”
O governo buscará parceiros também para manter o jardim e o talude. Segundo Arce, poderá ser feita a exploração de publicidade no local para propiciar a manutenção. “Mas de forma civilizada, sem causar poluição visual.”
Para a procuradora da República Rosane Campiotto, a obra traz benefícios e é boa, mas ela não concorda com o fato de que a sujeira do rio tenha sido transferida para a lagoa de Carapicuíba. Ela aguarda uma decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) sobre a questão, em que pede a recuperação da lagoa. Os réus são o Estado de São Paulo, órgãos do governo e as empresas que fizeram a retirada do material.
Sem vida
Apesar de a obra trazer muitas melhoras ao rio, o Tietê ainda pode ser considerado “morto”. Não há peixes e, para a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), até julho de 2007 é improvável que apareçam. Já existe pesca no interior do Estado, na cidade de Anhembi (perto da barragem de Barra Bonita), segundo a Sabesp. Isso ocorreu após o início do projeto de despoluição -a primeira etapa começou em 1995 e nela foram inauguradas três estações de tratamento de esgoto. Agora, o projeto está na segunda etapa -a de construção das tubulações de esgoto.
Por enquanto, as atividades de lazer também são impensáveis no Tietê na área metropolitana de São Paulo. A Sabesp afirma que a água até o próximo ano não apresentará as condições necessárias para as pessoas nadarem, por exemplo, mas terá uma melhora significativa em sua qualidade e na redução do mau cheiro. Antes do Tietê, acredita Arce, o rio Pinheiros terá peixes.
Assim como no caso do rebaixamento da calha, a despoluição do rio também requer investimento contínuo e ininterrupto na coleta e no tratamento de esgoto.
Fonte: Folha Online