Após cinco dias de peregrinação na polícia, a faxineira Vanete da Silva Vieira, 47 anos, desistiu da ajuda oficial e desenterrou o corpo do próprio filho, na tarde desta terça-feira, no alto do Morro do Sossego, em Rio da Prata, Bangu. Wendel da Silva Vieira, 16, foi assassinado a pancadas quinta-feira, mas a família denuncia que policiais se recusaram a entrar na favela, alegando que área é de risco. Ontem à noite, a mãe levou o corpo do jovem até praça da comunidade.
O drama de Vanete começou na noite de quinta, logo após ela chegar do trabalho. Avisada por vizinhos que o rapaz tinha sido seqüestrado por bandidos, a mãe foi à 34ª DP (Bangu) para registrar a ocorrência. No dia seguinte, retornou em busca de notícias. ”Esperei de meio-dia até as 23h e não consegui ser atendida”, afirmou Vanete.
Quando retornou para casa, a faxineira recebeu a notícia de que seu filho tinha sido executado no alto do morro. ”Comecei a rodar hospitais e fui até o Instituto Médico-Legal à procura do corpo e não conseguia achar. Foi desesperador”, contou Vanete,
Na segunda-feira, outra notícia chocante. Vizinhos disseram que traficantes tinham enterrado o corpo do jovem no mesmo local do assassinato. Vanete voltou à 34ª DP e avisou aos policiais. ”Fui lá correndo e disse que tinha localizado o corpo. Mas os agentes disseram que lá era perigoso e eles não poderiam subir sem a Polícia Militar”.
Mãe pediu aos bandidos para desenterrar o filho
Desesperada, na tarde de ontem, a mãe pediu permissão aos bandidos para desenterrar o filho. O pedido foi atendido. Com pás e enxadas, ajudada pela filha e o genro, retirou o corpo. Depois de colocá-lo envolto num lençol branco, resolveu levá-lo para a Praça Lafaiete Coutinho, no Sossego. Até o fim da noite, o cadáver permanecia no local. PMs do 14º BPM (Bangu) informaram que estavam aguardando comunicado para ir até a favela.
”Sempre dei duro para criar meus seis filhos, moro no Sossego há 22 anos e nunca deixei que nenhum deles se envolvesse com bandidos. Mas por causa dessa guerra do tráfico perdi meu filho. É uma falta de respeito o que fazem com os pobres. Ele está morto desde quinta-feira e seu corpo está se desmanchando sem que eu possa enterrá-lo”, disse Vanete.
À noite, o secretário de Segurança, Marcelo Itagiba, determinou que os policiais envolvidos no caso sejam punidos exemplarmente por omissão.
O Dia
