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[ESPECIAL]Malhação de Judas, tradição que ainda se mantém viva

Malhar o Judas é uma prática ainda muito comum no Brasil, apesar de o costume praticamente ter sido banido das grandes cidades por falta de locais adequados e d

O folclore e as tradições historicamente sofrem os efeitos do progresso, fazendo desaparecer costumes populares. Malhar o Judas é uma prática ainda muito comum no Brasil, apesar de o costume praticamente ter sido banido das grandes cidades por falta de locais adequados e de diversos outros fatores. Essa tradicional manifestação popular também sofre uma constante mutação, tão comum aos processos culturais na sociedade contemporânea.

Mas a tradição ainda continua viva, e os bonecos que geralmente são confeccionados de palha ou de pano, pendurados em postes de iluminação pública e galhos de árvores, são rasgados e queimados no sábado de Aleluia, um sábado anterior ao Domingo de Páscoa. Este ano a data será comemorada no dia 15 de abril, dentro dos rituais católicos da Semana Santa.

Aqui em João Pessoa, a Malhação do Judas, no tradicional bairro de Jaguaribe, é uma das mais antigas da Capital. A festa envolve centenas de pessoas há exatos 58 anos, e acontece na Vila dos Taxistas. Durante toda a manhã do sábado acontecem brincadeiras em torno do boneco do Judas, até a sua malhação. Uma festa que se espalha por diversos bairros e que costuma atrair adultos e crianças.

Dia de malhar Judas, a tradição – Seja na forma de um político – um repertório que este ano provavelmente será alimentado por figuras como Severino Paiva e Marcos Valério – ou qualquer pessoa que incomode, os bonecos vão subir aos mastros dos postes e, ao meio-dia, serão malhados a pauladas, explodidos, queimados, atropelados, enfim, eliminados. Como bodes expiatórios, é neles que o povo vai extravasando a sua insatisfação com a situação reinante.

O apóstolo traidor – Judas Iscariotes, oriundo de Carioth, cidade ao Sul de Judá, o apóstolo traidor, obcecado pelo dinheiro, antes de se afastar de Cristo, resolveu entender-se com os sinedritas – membros do Sinédrio, conselho supremo dos judeus. Judas assistiu ainda à última ceia, em que Jesus revelou a sua traição, mas foi logo ao encontro dos inimigos de Cristo para cumprir o que tinha combinado e receber 30 dinheiros. Consumada a traição, arrependeu-se, quis restituir o dinheiro, mas, repelido pelos sacerdotes, enforcou-se numa corda.

A história – Costume popular trazido pelos portugueses e espanhóis da Península Ibérica, para toda a América Latina, a malhação do Judas no sábado de Aleluia aos poucos vai desaparecendo das grandes cidades, restringindo-se cada vez mais ao interior do Brasil. Ainda na época da República, no Rio de Janeiro, os judas – com fogo de artifício no ventre – apareciam conjugados com demônios, ardendo todos numa apoteose multicolorida que o povo aplaudia.

O Judas queimado é uma personalização das forças do mal e constitui vestígio de cultos agrários, em muitas partes do mundo. Vários historiadores registraram o uso, quase universal, de festas de alegria no início e fim das colheitas, para obter melhores resultados nos trabalhos do campo. O manequim queimado representa nesses casos o deus da vegetação.

No Brasil, é costume antigo fazer-se o julgamento de Judas, sua condenação e execução. Em alguns locais, antes do suplício, alguém lê o ‘testamento’ de Judas, em versos, colocado especialmente no bolso do boneco. O testamento é uma sátira das pessoas e coisas locais, com graça oportuna e humorística para quem pode identificar as figuras alvejadas.

A malhação de Judas está incorporada aos costumes dos povos de quase todo o mundo. Segundo estudiosos, a queima do Judas pode estar relacionada ao rito pagão do Fogo Novo, herdado dos hebreus, sobrevivendo entre os povos civilizados. Na Córsega, no século XIX, era costume um grupo de rapazes percorrer no Sábado de Aleluia as comunas da ilha gritando “Fogo Novo”.

Na dinâmica do folclore, a figura do Judas Iscariotes foi substituída por críticas à situação reinante. Cada lugar incorporou a tradição de acordo com suas próprias tradições, num processo de aculturação. A malhação propriamente dita pode ser entendida como uma surra, o enforcamento ou a queima do boneco. Hoje é possível ver a malhação ser feita com tiros, em algumas localidades do Rio de Janeiro, por exemplo.


Lilla Ferreira
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