Política

Defesas de Mattoso e Palocci divergem sobre destino de extrato bancári

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As versões apresentadas pelos dois principais personagens indiciados pela violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa contêm uma inconsistência que leva à conclusão de que Antonio Palocci ou Jorge Mattoso estão mentindo.

Enquanto o ex-ministro da Fazenda alega ter destruído os extratos bancários num triturador de papéis sem mostrá-los a ninguém, o ex-presidente da Caixa Econômica Federal sustenta que entregou a única via do documento extraído dos computadores da estatal ao ex-ministro.

Como ambos negam a responsabilidade pela divulgação dos dados, e eles vazaram à revista “Época” no dia seguinte à violação, um dos dois está mentindo.

Alberto Toron, advogado de defesa de Mattoso, insiste em que seu cliente entregou a única cópia do extrato impressa na Caixa pessoalmente ao então ministro na noite de 16 de março, uma quinta-feira. “Há um ‘gap’ (lacuna, em inglês) na versão apresentada pelo ex-ministro Antonio Palocci”, avaliou Toron. Em depoimento à Polícia Federal, Palocci negou ter pedido ou vazado os extratos.

Ao encaminhar a suspeita de movimentação atípica de Francenildo à Superintendência de Controles Internos da Caixa, Mattoso não detinha mais cópia do extrato, segundo informações colhidas em depoimentos à PF.

Essa superintendência é responsável, na estatal, por encaminhar comunicados de suspeita de lavagem de dinheiro ao Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras). O comunicado só foi encaminhado ao conselho subordinado ao Ministério da Fazenda um dia após Palocci ter recebido o extrato -e depois de a revista “Época” ter divulgado as informações de saques e depósitos na conta de Francenildo-, na noite de sexta, 17 de março.

Palocci insiste em que não mostrou os extratos a ninguém e que resolveu destruir os documentos quatro dias depois, quando soube que a estatal já havia encaminhado comunicado ao Coaf.

Um dos advogados do ex-ministro, José Roberto Batochio sugeriu que o vazamento pode ter ocorrido no banco. “Pelo menos uma meia dúzia de pessoas manusearam o documento na Caixa”, afirmou anteontem.

Outros funcionários

Segundo as investigações da PF, três funcionários da Caixa, além de Mattoso, foram envolvidos na violação: Ricardo Schumann, assessor da presidência, Sueli Mascarenhas, superintendente de recursos humanos, e o gerente Jeter Ribeiro. O extrato impresso por Ribeiro, repassado por Sueli a Schumann e entregue a Palocci por Mattoso foi o mesmo que chegou à “Época”, apuraram auditoria da Caixa e a PF.

Outro ponto do depoimento de Palocci foi desmentido por informações do banco. O ex-ministro disse que Mattoso o procurara na noite de 16 de março não para tratar dos dados do caseiro, mas para pedir apoio à abertura de escritórios da estatal no Japão.

A parceria da Caixa com o banco japonês Iwata Shinkin, selada em 26 de março, já estava negociada na ocasião. O “Diário Oficial” da União de segunda-feira, 20, publicava autorização para Mattoso se ausentar do país e assinar o convênio no Japão. Por causa da crise decorrente da violação, Mattoso mandou um substituto.

Segundo Palocci disse à PF, o tema da abertura dos escritórios no Japão e nos EUA não teria sido esgotado na reunião entre o então ministro e Mattoso na tarde daquela quinta-feira, no Planalto. Palocci afirmou que não manteve conversa reservada com Mattoso.

Auditoria

O grupo de auditores da Caixa que investiga a violação do sigilo bancário do caseiro pediu mais tempo para concluir o relatório e sugerir punições.

Instalada na segunda-feira seguinte à violação do sigilo e com prazo de 15 dias para concluir os trabalhos, a auditoria espera o retorno do consultor da presidência Ricardo Schumann de uma licença para ouvir a defesa dos funcionários. Schumann voltará ao trabalho na próxima segunda-feira.

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