No dia em que viu um compadre e o ministro da Justiça enfrentarem duros depoimentos no Senado e na Câmara, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que no Brasil ninguém se interessa pelos “bons acontecimentos”, mas somente por “desgraças” e “miséria”. E disse: “No Brasil é assim, o cara não te dá o direito de ser feliz”.
As declarações de Lula ocorreram no início da tarde no Palácio do Itamaraty, numa fala improvisada durante a cerimônia de formatura de turmas de mestrado em diplomacia e do curso de Formação do Instituto Rio Branco.
Em nenhum momento o presidente citou as crises políticas de seu governo. Os ataques aos pessimistas ocorreram ao tratar das ações de sua política externa.
“Tem gente que fala: “Nossa, mas esse pessoal vai investir na embaixada. Isso é gastar dinheiro. Vai mandar um diplomata para tal lugar. Vai gastar dinheiro”. É sempre assim que funcionam as coisas no Brasil. Estamos sempre nivelando por baixo, estamos sempre apostando na desgraça, estamos sempre apostando na miséria”, afirmou o presidente, sob aplausos dos presentes.
“O carro vai quebrar”
Empolgado, o presidente prosseguiu arrancando gargalhadas de ministros e diplomatas: “É como se você preparasse toda a família para sair no domingo, ir para um lugar bonito, passar um domingo numa cachoeira, e chegasse um vizinho: “O carro vai quebrar”. No Brasil é assim, o cara não te dá o direito de ser feliz”.
Lula discursou no Itamaraty no momento em que seu amigo, o advogado Roberto Teixeira, falava à CPI dos Bingos, e o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, prestava depoimento na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara dos Deputados.
Antes, atacou os “saudosistas”, ao defender as ações de sua política externa e suas viagens ao exterior, alvo de críticas da oposição. “Eu acho que o momento que estamos vivendo, de política externa, é glorioso. Alguns saudosistas não gostam. “Ah, porque tem gente que acha que nós precisamos pedir licença aos outros todo dia, nós não podemos fazer nada sozinhos, porque a nossa balança comercial está crescendo, porque a economia mundial está crescendo'”, declarou.
O presidente prosseguiu, citando o investimento que considera positivo numa feira organizada no início do governo pelo Brasil no Oriente Médio: “Como nós fomos ao Oriente Médio e fizemos uma feira que custou US$ 500 mil, não faltaram críticas, neste país, de que estávamos gastando US$ 500 mil para fazer uma feira. Ninguém perguntou quanto nós ganhamos depois daquela feira, porque não interessam os bons acontecimentos”.
Ao final, o presidente voltou a provocar risos entre os presentes, ao chamar de “coisa” as eleições de outubro. “Eu não ia fazer mais nenhuma viagem internacional até o final do ano. Não ia, eu ia ficar por aqui, porque tem coisa que vai acontecer por aqui, eu queria ficar por aqui.”
Folha Online
Presidente critica quem aposta “nas desgraças”
"No Brasil é assim, o cara não te dá o direito de ser feliz", diz Lula
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