O poeta Vinícius de Morais não tinha a menor cerimônia ao afirmar que beleza era fundamental. Mas ele próprio, no entanto, tinha barriguinha aparente, fumava até amarelar os dentes e conseguia ser ao mesmo tempo meio careca e descabelado. Como não lhe faltavam pretendentes, ele pode ser um bom exemplo de como são duvidosos os juízos sobre a beleza, um juízo de valor.
A cultura é um dos fatores que mais influencia a percepção de beleza, principalmente no Ocidente. Costuma-se falar do aspecto físico das pessoas como se estivesse em julgamento suas qualidades. Cada ‘tribo’ tem sua leitura do que é bonito e de que atitudes são valorizadas. Mas o conceito do que é beleza tem se alterado muito nos últimos tempos, época em que os padrões estéticos sofrem cada vez mais a influência de um mundo globalizado.
Até mesmo os tradicionais concursos de beleza têm sofrido modificações. Muitas vezes o que tem contado, na escolha das melhores candidatas, não tem sido apenas o padrão de beleza, mas também outras características, como formação e capacidade de expressão. O concurso Miss Brasil Oficial este ano escolheu como a mulher mais bonita do país a gaúcha Rafaela Zanella, de 19 anos. Uma bela mulher que mede 1,80 metro e pesa 56 quilos, mas que é também estudante de Medicina.
A Miss Paraíba 2005, Lílian Vasconcelos, é também uma competente e dedicada fisioterapeuta, além de uma mulher muito bonita. E a prova de que os tempos estão realmente mudando, é o caso da atual Miss Simpatia 2006, também aqui na Paraíba, Fabíola Athayde, que também é cantora. Aos 23 anos e aluna do último semestre do Curso de Rádio e TV da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), ela desenvolve como projeto de conclusão de curso uma monografia, cujo título é “A representação da mulher: um estudo sobre as capas da revista Boa Forma”. Um estudo que pretende analisar a ditadura da beleza. Sinal dos tempos.
Padrão universal de beleza – Definir o que é belo é uma discussão que começou há séculos e parece que não vai acabar nunca. Começa com os filósofos gregos, para quem a beleza estava ligada à virtude moral, o que, bem à grosso modo, quer dizer o seguinte: se você é bonita, tem um narizinho arrebitado e aqueles olhos de que eu gosto tanto, provavelmente é também honesta, fiel e mais uma porção de boas coisas. A beleza estava no objeto. Só no século 18 foram perceber o óbvio, que a beleza está nos olhos de quem vê, o que muda significativamente de acordo com os padrões culturais de cada sociedade.
Segundo o filósofo alemão Hegel, o prazer com o belo é um deleite narcísico. Admiramos aquilo que é o reflexo de nós mesmos. Aprender a relativizar o conceito de beleza é aprender a lidar com o outro, com o diferente.
O que mudou – Algumas mudanças na economia e na sociedade ajudam a entender como chegamos até aqui. Vivemos na era pós-industrial, quer dizer, não é mais a indústria o centro da economia. Hoje, quem avança é o setor de serviços – o comércio, os bancos, o turismo, o lazer. Num mundo com menos operários de macacão e mais mocinhas atrás dos balcões, a aparência conta muito mais. Criou-se um ambiente em que a imagem é tudo, com uma crescente individualização. Passamos a ser julgados menos pelo que somos e mais pelo que, à distância, parecemos ser, e o resultado disso é que o padrão dominante de beleza contaminou todos os ambientes.
Pessoas consideradas bonitas ganham salários maiores – Beleza ajuda até a ganhar mais, e um dos motivos para isso seria o fato de que as pessoas bonitas acabam se mostrando mais confiantes nas entrevistas. Há tempos que os economistas já reconheceram que a beleza física tem influência sobre os salários, mesmo em ocupações nas quais a aparência não é relevante para o desempenho da função.
Pesquisa publicada em 1994 pela revista americana American Economic Review mostrou que pessoas consideradas bonitas ganham salários em média 10% mais altos do que as feias. Você se pergunta então se belos traços físicos significam tratamento melhor no dia-a-dia e fica sabendo do teste da moeda feito por psicólogos norte-americanos. Ao encontrarem 10 centavos intencionalmente deixados numa cabine telefônica, 87% dos ocupantes devolveram a moeda quando apareceu uma mulher bonita perguntando por ela. Só 60% fizeram o mesmo por uma mulher tida como feia.
Em março deste ano, a mesma revista publicou um trabalho intitulado “Why Beauty Matters”, ou “Porque a Beleza Importa”. Parece que homens e mulheres atraentes ganham melhores salários que as pessoas comuns para fazerem o mesmo trabalho. E dois economistas americanos resolveram pesquisar por que isso acontece. Markus M. Mobius e Tanya S. Rosenblat, das universidades de Harvard e da Wesleyan University, realizaram um experimento na tentativa de encontrar as raízes da chamada vantagem da beleza.
A experiência deles envolveu um cenário no qual os empregadores entrevistaram candidatos para um emprego que consistia em solucionar labirintos. Primeiro, os candidatos ao emprego preencheram um formulário de currículo onde constava idade, sexo, universidade, data de formatura, experiência profissional, atividades extracurriculares e hobbies.
A seguir, os estudiosos deram aos participantes um labirinto simples para solucionar. Depois de completarem a tarefa, foi perguntado aos candidatos quantos labirintos semelhantes eles conseguiriam resolver durante um período de 15 minutos. Este cálculo foi interpretado como um indicativo da confiança do participante na suas próprias capacidades.
Na seqüência, cinco empregadores avaliaram os candidatos usando uma variedade de métodos: avaliando apenas o currículo; usando o currículo e uma fotografia; e usando o currículo e uma entrevista por telefone. Em outros casos, com o currículo e entrevista cara a cara. Para obter uma estimativa imparcial sobre a beleza dos candidatos, os estudiosos pediram que fosse mostrada uma fotografia de todos os participantes a um comitê e pediram-lhes que classificassem os candidatos numa escala de beleza.
Autoconfiança é fundamental – De posse dos dados dessas experiências e levantamentos, os economistas encontraram vários resultados interessantes. Descobriram que as pessoas bonitas não foram melhores que as comuns na solução dos labirintos. Mas, apesar de terem a mesma produtividade dos outros, elas se mostraram muito mais confiantes em relação às suas habilidades. Ter uma boa aparência parece estar relacionado com autoconfiança, característica atraente para os empregadores.
Quando a avaliação foi feita apenas através da análise dos currículos, a aparência física não influenciou as estimativas, como era de se esperar. Mas todos os outros métodos mostraram estimativas de maior produtividade para as pessoas de boa aparência, e as entrevistas cara a cara renderam os números mais altos. Eles consideraram as pessoas bonitas mais produtivas mesmo quando a única interação que tiveram com elas foi por telefone. Parece que a confiança que as pessoas atraentes têm em si mesmas é transmitida por telefone assim como pessoalmente. Os economistas avaliaram que cerca de 15% a 20% da vantagem da beleza é resultado do efeito da autoconfiança, enquanto a comunicação oral contribui com 40% e a visual com outros cerca de 40%.
Encontre sua beleza – O segredo para fugir da ditadura da beleza e das armadilhas que ela costuma pregar na maioria das pessoas, parece ser não se deixar levar só pela aparência. Contrariando a primeira impressão, os atributos unicamente estéticos não são o principal quesito usado pelas pessoas para avaliar as outras. Pesquisa realizada em 37 países, procurou identificar o que homens e mulheres consideravam mais importante na hora de escolher o parceiro amoroso. E o resultado foi a boa aparência ficando no décimo lugar, atrás de estabilidade emocional, inteligência e sociabilidade, por exemplo. Entre as mulheres, ficou em 13º, ultrapassada por elegância, ambição e boa perspectiva financeira.
Experiências também demonstram que a avaliação da aparência varia com o contato interpessoal. A mesma pessoa dá notas diferentes para as características físicas de alguém antes e depois de conhecê-lo.
Uma presença agradável afeta positivamente essa avaliação, “embelezando” uma pessoa antes avaliada apenas por foto. Abuse de seu bom humor, dê asas a sua simpatia, seja positivo e coloque seu lado bom lá para cima. E não esqueça, quem não se aceita transmite uma sensação de desconforto, o que pode lhe prejudicar muito mais do que qualquer imperfeição física. A auto-estima e a autoconfiança costumam ser as armas mais poderosas na busca por esse conceito de ‘beleza ampliada’.Ambas têm um impacto direto na sua maneira de encarar o mundo e na forma como as pessoas percebem você.
A preocupação com a aparência física é um hábito saudável, uma afirmação da vida. O importante é não perder de vista que também existem outros valores em jogo.
Lilla Ferreira
ClickPB
Beleza é mais do que aparência, mas muitas vezes pode fazer a diferenç
Beleza ajuda até a ganhar mais, e um dos motivos para isso seria o fato de que as pessoas bonitas acabam se mostrando mais confiantes nas entrevistas
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