Aos 45 anos de idade e com uma formação escolar mínima, a sertaneja Francisca Vicente da Silva enfrenta dificuldades para se integrar ao mercado de trabalho e sua família de sete pessoas sobrevive com uma renda média de R$ 200,00 mensais, correspondentes aos seus ganhos como lavadeira e aos rendimentos do marido agricultor. Moradora do município de Coremas, Francisca participou do curso de Beneficiamento e Conservação de Pescados, promovido entre os dias 21 e 23 de abril pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural – Senar/PB para 16 integrantes do Programa de Organização Produtiva de Comunidades (Produzir).
O Produzir, que é mantido pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação (FAO) e pelo Ministério da Integração Nacional, tem o Senar como entidade executora na Paraíba e já desenvolve um projeto na área de Piscicultura junto a 31 pequenos produtores de Coremas, desde outubro de 2005. A capacitação faz parte de uma segunda etapa do Programa que visa a comercialização do pescado, envolvendo assim toda a cadeia produtiva do peixe, do criatório ao consumidor final, explica Múcio Monteiro, interlocutor do Produzir no Estado e engenheiro agrônomo do Senar.
“Práticas de processamento, conservação, aproveitamento de resíduos e industrialização de pescados”; Mercado Consumidor”; e “Manejo Sanitário” foram os temas abordados no curso, ministrado pela consultora do Parque Tecnológico da Universidade de Campina Grande (UFCG), Maria do Carmo Carneiro. A capacitação teve uma duração de 24 horas, entre aulas práticas e teóricas, nas quais a instrutora expôs aos participantes uma variedade de produtos que podem ser obtidos do aproveitamento adequado do peixe.
De acordo com Maria do Carmo, a região apresenta um grande potencial para o desenvolvimento de, pelo menos, três empreendimentos importantes na área de Pesca, além da Produção em Tanques-Rede já realizada pelo Produzir. São elas: Unidade de Processamento, Unidade de Beneficiamento do Couro (Curtume) e Unidade de Artesanato. “A proposta maior é conscientizar os pescadores a se tornarem piscicultores, ou seja, não apenas retirar da natureza, mas agregar a ela em produtividade por meio de técnicas racionalizadas de manejo e comercialização”, explicou.
A instrutora salientou, ainda, que o apoio dos poderes públicos é fundamental para a evolução neste tipo de atividade. “A experiência em Coremas tem tudo para dar certo, pois a cidade tem o maior açude da Paraíba, incentivo do Governo Federal e apoio do Senar. O que falta é um gerenciamento direto por parte do Governo Estadual e Municipal, pois no fundo o pescador quer “sair da rede” e progredir para um empreendimento mais arrojado”, declarou Maria do Carmo.
Capacitação profissional e melhoria nas condições de vida
Fiat panis! A expressão, que em latim quer dizer “faça-se o pão”, está na marca da FAO e aplica-se bem à proposta do treinamento que trouxe aos participantes a oportunidade de uma renda extra para garantir o sustento de suas famílias. De acordo com o engenheiro de Pesca, Celso Duarte, um quilo de tilápia, cujo custo de produção é estimado em torno de R$ 1,80, é vendido in natura por aproximadamente R$ 3,00, enquanto um quilo do filé pode chegar a R$ 12,00.
Da cabeça às escamas é possível beneficiar todas as partes do peixe para confecção dos mais diversos produtos, segundo a ministrante da capacitação do Senar. Além dos tradicionais filés, os pedaços de peixe com aspectos menos apresentável podem ser utilizados para produção de lingüiças, almôndegas, empanados, croquetes, presunto de peixe, dentre outros. Os resíduos que ficam na cabeça, por sua vez, podem gerar um patê e os ossos e espinhas do animal podem ser ainda usados na produção de uma farinha para consumo humano e animal de alto valor nutritivo.
Entretanto, não é apenas na alimentação que o peixe pode ser aproveitado e gerar emprego e renda. O couro beneficiado pode ser matéria-prima para a confecção de artefatos como bolsas e cintos e até as escamas podem ser empregadas em objetos de artesanato. As vísceras do animal também não precisam ser desperdiçadas, já que, transformadas em ensilado biológico, servem como ração ou fertilizante.
“Um curso como esse é uma oportunidade de libertação da pobreza e dos programas assistencialistas que pode transformá-los em cidadãos produtivos e independentes”, falou Zilca Nitão Diniz, coordenadora da Pastoral da Criança em Coremas, que esteve presente na abertura da capacitação e também colaborou com a realização do evento.
Fonte: Secom PB
Beneficiamento do pescado pode trazer melhorias para moradores de Core
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