Política

Garotinho cria “10 mandamentos” para greve de fome

O pré-candidato do PMDB à Presidência Anthony Garotinho criou uma espécie de 10 mandamentos para sua greve de fome

O pré-candidato do PMDB à Presidência Anthony Garotinho criou uma espécie de 10 mandamentos para sua greve de fome. Num papel, visto através da porta de vidro que separa a sala onde o ex-governador do Rio jejua da imprensa, era possível enxergar a lista de afazeres durante o protesto. 

O primeiro é divulgar uma nota por dia; segundo, atos dos prefeitos; terceiro, pronunciamentos na Câmara/Senado; quarto, notas para jornalistas; quinto, movimentos na rua contra as Organizações Globo; sexto, nota de aliado (nome ilegível); sétimo, movimento de evangélicos; oitavo, desmentir (as denúncias) ponto a ponto; nono, processo contra a revista Veja; décimo, publicar carta.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou Garotinho. “Se eu fosse entrar em greve de fome cada vez que a imprensa fala mal de mim, eu seria natimorto”, disse. Lula admitiu que “trabalha com a hipótese de aliança com o PMDB”, mas negou pressão contra candidato da legenda a presidente. “O importante é saber o que está em jogo no Brasil. E o PMDB tem papel importante”.

Abrigado na sede do PMDB e só bebendo água mineral, o ex-governador mandou, por fax, carta à Organização dos Estados Americanos. O documento pedia ao secretário-geral da OEA, embaixador José Miguel Musso Nuzula, acompanhamento das eleições brasileiras.

Depois de longas e tensas conversa com a mulher, a governadora Rosinha, o pastor Ronaldo Fonseca, líder nacional da denominação evangélica Assembléia de Deus, o procurador-geral do estado, Francesco Conte, o chefe de gabinete do governo do estado, Fernando Peregrino, e assessores, Garotinho leu o que chamou de “Carta à Nação”.

Antes da leitura, Garotinho agradeceu o telefonema de solidariedade do bispo da cidade de Barra, na Bahia, Luiz Flávio Cappio, que também fez greve de fome contra a transposição do Rio São Francisco. O ex-governador do Rio reclamou de perseguição por parte do sistema financeiro e da mídia, citando as Organizações Globo e a revista Veja.

Garotinho pediu para sua defesa o mesmo espaço que os veículos de comunicação têm dado às denúncias de irregularidades nas doações para a pré-campanha dele. Também em nota, a governadora Rosinha Garotinho informou que determinou à Procuradoria Geral do Estado que crie uma comissão para apurar as contratações e execuções de serviços pela Fundação Escola de Serviço Público (Fesp). A comissão será presidida pelo procurador-geral do estado Francesco Conte e terá 30 dias para apresentar um relatório.

Resposta fica incompleta

O pronunciamento desta segunda-feira do pré-candidato à Presidência Anthony Garotinho ainda não foi como sua mulher, a governadora Rosinha Garotinho, esperava. Visivelmente irritada, ela reclamava com assessores e apontava para papéis, minutos antes da leitura da nota oficial.

Ela mandou que os titulares de secretarias citadas nas denúncias de irregularidades, como Gilson Cantarino, da Saúde, Marco Antônio Lucidi, do Trabalho, e o presidente da Cedae, Lutero de Castro Cardoso, elaborassem documento respondendo a cada uma das acusações veiculadas pela imprensa. Os secretários passaram o dia reunindo a papelada, mas faltaram documentos que comprovassem as respostas. Os assessores alegaram falta de tempo para juntar os contratos e dificuldade de acesso aos prédios, já que ontem foi feriado.

Rosinha chegou à sede do PMDB às 12h, acompanhada de quatro dos nove filhos do casal. A família abraçou e beijou o ex-governador e, em seguida, orou. Logo depois, às 12h20, foi liberado o primeiro boletim sobre seu estado de saúde. O médico particular de Garotinho, Abdu Neme, relatava que ele está lúcido, orientado, sem febre, hidratado e que perdera 700 gramas de peso, passando de 89,9 quilos para 89,2.

Garotinho recebeu várias visitas. Entre elas, do ex-presidente do BNDES Carlos Lessa; do presidente da Associação Brasileira de Imprensa, Maurício Azedo; do desembargador Siro Darlan; da juíza do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) Alda Soares de Castro; de pastores e políticos aliados.

Sobre as queixas de Garotinho, o presidente da ABI disse: “Os meios de comunicação, de um modo geral, têm a tendência a acusar de forma desmedida e, na hora da retratação, do oferecimento do direito de resposta, que é um direito constitucional, confinam a resposta a espaço mínimo, quando concedem”. Maurício Azedo disse que acha necessária a greve de fome de Garotinho para chamar a atenção.

Em São Paulo, o presidente do PMDB, Michel Temer informou que a decisão de Garotinho fazer greve de fome não envolve o partido. “É uma questão de foro íntimo do ex-governador. Ele não consultou o partido nem a mim”. Mais cedo, Temer considerou a atitude inadequada porque prejudica a unidade do PMDB.

Religiosos reprovam o recurso extremo

A greve de fome do pré-candidato do PMDB à Presidência Anthony Garotinho foi criticada por religiosos. Eles avaliam que o ex-governador está usando de má-fé para desviar o foco das acusações feitas contra ele. “Não é uma atitude de um verdadeiro cristão. Se está se sentindo injustiçado, deve provar sua inocência”, disse o pastor Messias Inocêncio Oliveira, da 1ª Igreja Batista da Penha. “Gosto de política, não de politicagem. Quando é de Deus, você não pode ter jogo”, afirmou o pastor Odalírio Luís da Costa, da Igreja Congregacional de Acari.

Entre os católicos, também reprovação. Para o coordenador do Centro dos Direitos Humanos de Nova Iguaçu, padre Pierre Roy, “não há as motivações essenciais de uma greve de fome”.

Nesta segunda-feira, no Hospital Estadual Rocha Faria, em Campo Grande, pacientes há muito tempo internados e funcionários que em janeiro sofreram com a falta de comida na unidade condenaram a greve de fome do ex-governador do Rio.

Empresa nega preços superfaturados

A empresa Best, locadora de veículos, divulgou nota oficial, ontem, dizendo que ganhou licitação para prestar serviços à Cedae e que apresentou o melhor preço entre cinco concorrentes. A Best negou doação à pré-campanha de Garotinho, como denunciou a Veja. Segundo a revista, a empresa estaria alugando carros à Cedae a preços acima dos praticados no mercado.

Outras denúncias veiculadas nos meios de comunicação falam sobre ligações entre empresas doadoras à pré-campanha de Garotinho e a Fundação Escola de Serviço Público. Os mesmos sócios de fundações, institutos e empresas detentoras de contratos milionários, sem licitação, com o estado, apareceriam na composição societária também das empresas doadoras à pré-campanha.

O Dia

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