Os advogados Maria Cristina de Souza Rachado e Sérgio Weslei da Cunha negaram que tenham comprado ilegalmente a fita com a gravação de uma sessão secreta da CPI do Tráfico de Armas e que a repassaram a integrantes da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).
A versão detalhada dos fatos, no entanto, é considerada contraditória. Maria Cristina coloca a conta da irregularidade sobre os ombros de Cunha, enquanto o advogado afirma que quem pagou pelas cópias do CD que continha os depoimentos sigilosos dos delegados do Deic Godofredo Bittencourt e Rui Ferraz. Nesse depoimento, ambos anteciparam aos deputados que planejavam a transferência de 745 detentos para evitar uma mega-rebelião em São Paulo.
“Eu disse para ele quando estávamos saindo: Doutor, doutor, será que isso é certo? Ele disse que não tinha problema”, afirmou Maria Cristina. Questionado sobre as declarações, Cunha respondeu: “Eu desconheço isso, não é verdade”, afirmou o advogado do preso Leandro Lima Carvalho, preso por porte de arma acusado de planejar o resgate do líder do PCC, Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola.
Maria Cristina representa Marcola e também negou que tenha comprado o áudio e repassado o conteúdo ao cliente. Eles são acusados de terem comprado a gravação do técnico de som Arthur Vinicius, funcionário terceirizado da Câmara, por R$ 200.
Durante a sessão da CPI, os deputados da CPI transmitiram as gravações do sistema de segurança da Câmara e de um shopping de Brasília. As fitas mostram Maria Cristina, Cunha e Arthur entrando e saindo um de cada vez no restaurante da Casa, pegando um táxi, dirigindo-se ao shopping para fazer as cópias do áudio.
O advogado confirmou a versão mas descartou irregularidade. “Para mim, eu exerci o meu direito constitucional de ter acesso a um depoimento de meu cliente. Fiz tudo de acordo”, afirmou Cunha. Na fita havia uma parte do depoimento tomada de Leandro Lima, que nega relação com o PCC.
A advogada teve crise de chorou, estava bastante nervosa, chegou a cair antes do depoimento na CPI do Tráfico de Armas. “Eu não comprei a fita, não paguei R$ 200 para o rapaz. Nós achávamos, eu e o Sérgio, que era o áudio da parte que poderíamos ouvir do depoimento. Não sabíamos que era o áudio ilegal”, afirmou a advogada com a voz embargada.
Para os integrantes da CPI isso seria um indicativo de que houve a negociata dentro da Câmara. “Eu quero enfatizar que a Maria Cristina não está falando a verdade”, disse o relator da Comissão, deputado Paulo Pimenta (PT-RS).
O presidente da CPI, deputado Moroni Torgan (PFL-CE), criticou a postura de Cunha em relação ao cliente. “É uma ética que não consigo entender. O cliente dele nega qualquer relação com o PCC e mesmo assim entrega uma gravação para o líder do PCC, para o Marcola. Ou seja, ele mesmo fez a ligação”, disse.
Depoimento de Marcola
A CPI decidiu que ouvirá o depoimento de Marcola no fórum criminal de São Paulo, na Barra Funda. A data e a forma do depoimento serão combinadas depois com a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo.
O presidente da Comissão deputado Moroni Torgan (PFL-CE) disse que respeita a decisão do presidente da Câmara, Aldo Rebelo, de proibir o depoimento na Casa. Mas disse que discorda da decisão. “Não vejo problema de ouvir o Marcola aqui. É necessário ouvi-lo, já que ele é o chefe da maior organização de tráfico de armas, e nós somos uma CPI contra o tráfico de armas”, explicou.
Último Segundo
Com versões contraditórias, advogados negam compra de gravação de CPI
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