Os presidentes do Brasil e da França, países que tiveram interesses ameaçados pela nacionalização do setor de gás na Bolívia, em maio, defenderam nesta quinta-feira a negociação com o presidente boliviano, Evo Morales, como caminho para um entendimento.
O brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva e o francês Jacques Chirac disseram a jornalistas que compreendem a iniciativa boliviana. “As conversas que tive com Morales me levaram a constatar que é um homem que quer devolver a honra um povo machucado”, disse Chirac em entrevista no Palácio da Alvorada, depois de assinar acordos bilaterais com Lula.
“Confio nos dois presidentes (Morales e Lula) para levar essa questão a um entendimento”, acrescentou Chirac, referindo-se às negociações entre Brasil e Bolívia para rever os preços do gás fornecido pelo país andino para consumo brasileiro.
Lula, por sua vez, declarou que “não discutimos que o gás é da Bolívia mas, ao invés de ser truculento, acreditei no poder da conversa para resolver a questão”.
“A Bolívia sabe que é dona do gás, mas também sabe que precisa vender para o Brasil. Temos que encontrar um preço que atenda aos interesses da Bolívia e aos interesses do consumidor brasileiro”, completou.
SEM LUTA ARMADA
Lula acredita que atitudes nacionalistas tomadas recentemente pelos governos sul-americanos não devem afetar a avaliação de risco de investidores sobre a região, pois têm ocorrido num quadro de consolidação da democracia.
“Sabemos que a construção da democracia e a paz são a única possibilidade de nos tornarmos uma região rica”, disse Lula.
“Todos precisamos atrair investimentos e tecnologia e só pode fazer isso quem está pensando na paz”, frisou. “Os Estados Unidos e a Europa vão investir (na região) na medida em que merecermos, com a busca da paz, respeito aos contratos e com segurança jurídica e política consolidadas.”
Lula recordou que há 20 anos quase todos os países da América do Sul eram governados por ditadura e que, até 10 anos, em todos havia grupos que defendiam a luta armada como caminho para o poder.
“Todos os grupos abandonaram a luta armada, com exceção das Farc (guerrilheiros colombianos) e estão na luta democrática”, disse Lula. “Até o presidente (venezuelano, Hugo) Chávez tentou, não conseguiu e depois ganhou a eleição pela via democrática”, lembrou, referindo-se à fracassada tentativa de golpe do então coronel Hugo Chávez na Venezuela, em 1992.
“Temos de aprender a viver com determinadas turbulências que só existem quando há democracia”, declarou Lula. “Se tivéssemos feito no Brasil uma Revolução Francesa há 200 anos, quem sabe tivéssemos hoje uma democracia mais forte?”
Chirac, falando depois de Lula, disse que concordava com a análise do brasileiro sobre a situação na América do Sul.
Reuters
Lula e Chirac defendem entendimento com Morales sobre gás
Os presidentes do Brasil e da França, países que tiveram interesses ameaçados pela nacionalização do setor de gás na Bolívia, em maio, defenderam nesta quinta-f
Política
Política
Política
Política
Política