Tanto os europeus como os americanos concluíram que as estimativas atuais do aquecimento no futuro podem ser até 75% mais baixas do que a realidade.
Os cientistas dizem que as estimativas correntes não levam em conta o aumento da emissão de gases causadores do efeito estufa em determinados ecossistemas por causa do aumento de temperaturas.
O estudo contesta o consenso adotado pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC na sigla em inglês), o orgão global que coleta e analisa a ciência do clima.
Sensibilidade climática
O IPCC prevê que a temperatura média global deve aumentar entre 1,5 ºC e 4,5 ºC se as atividades humanas duplicaram as emissões de dióxido de carbono na atmosfera.
Esta previsão, conhecida como sensibilidade climática, é resultado de uma combinação de dois fatores: o impacto direto do aumento das emissões de CO2 no efeito estufa, e vários mecanismos de retroalimentação que aumentam o ritmo do aquecimento, como as mudanças provocadas pela ação do reflexo do Sol sobre a Terra, ligados ao derretimento de geleiras, por exemplo.
Essa nova pesquisa acrescenta um terceiro componente, calculando a provável contribuição do dióxido de carbono liberado de ecossistemas naturais, como o solo, com o aumento das temperaturas.
Somada ao CO2 produzido pelas atividades humanas, esta liberação aumentaria ainda mais a temperatura.
Para calcular este “aquecimento extra”, os dois grupos de cientistas analisaram dados históricos do clima da Terra.
Regularmente, períodos de temperaturas relativamente altas produziram aumento de concentração de CO2 na atmosfera, que caíram depois, com a diminuição das temperaturas.
A teoria é que com esses momentos de aquecimento, ecossistemas como o solo, as florestas e os oceanos retenham menos CO2.
Como a superfície da Terra está se aquecendo de novo, o processo pode se repetir, com temperaturas mais altas voltando a causar uma emissão maior de dióxido de carbono na atmosfera pelos ecossistemas, que se somaria ao gás produzido por atividades humanas como casas, fábricas e veículos.
História
Para calcular a relação entre o aumento da temperatura e a emissão dos gases, os cientistas americanos examinaram um período de 400 mil anos, analisando dados da geleira de Vostok, na Antártica.
Os europeus, por sua vez, analisaram um período bem menor, a “Curta Era do Gelo”, em meados do milênio passado, quando o hemisfério norte passou por temperaturas relativamente baixas.
“Um grupo analisou períodos longos, com períodos glaciais e interglaciais, para entender esta relação entre o clima e o carbono”, explicou John Harte, da Universidade da Califórnia, em Berkeley.
“Os europeus analisaram um período muito mais moderno, e também usaram métodos de análise diferentes”, disse ele à BBC.
O grupo europeu calcula que o aumento das temperaturas no futuro foram subestimadas e elas podem chegar a ser entre 15% e 78% mais altas. A equipe americana apresentou o resultado de modo diferente, fornecendo uma sensibilidade climática entre 1,6 ºC e 6,0 ºC
“Nós não encontramos respostas muito diferentes”, disse o professor Harte.
“E o estudo de períodos diferentes ajuda bastante, porque agora sabemos que os resultados são mais confiáveis.”
Questões futuras
As duas equipes de cientistas, no entanto, admitem que o trabalho não é tão preciso quanto eles gostariam e que ainda há incertezas.
Uma questão em particular é se o passado reflete o futuro de modo preciso. Será que, por exemplo, as florestas e o solo se comportam hoje, em uma era de vasto deflorestamento e amplo uso de fertilizantes, do mesmo modo que se comportavam há 100 mil anos, ou mesmo há mil anos?
Isso ainda não foi provado; e céticos em relação a mudanças climáticas vão, sem dúvida, usar isso como evidência de que a nova pesquisa contém falhas, mas eles deverão admitir que ela é baseada em dados reais, e não nos modelos de computador, normalmente criticados.
Os pesquisadores contra-argumentam que ainda não encontraram razões para acreditar que o processo de retroalimentação dos ecossistemas seja diferente no futuro. E mesmo que haja diferenças, dizem eles, a retroalimentação pode tanto ser mais fraca quanto mais intensa.
“Na verdade, fomos conservadores em vários pontos”, disse Marten Scheffer, da Universidade de Wageningen, da Holanda, o líder dos pesquisadores europeus.
“Por exemplo, não levamos em consideração a influência do metano no efeito estufa, que também aumenta em períodos mais quentes.”
Atualmente, o IPCC está revendo seu último grande estudo, o Quarto Relatório de Avaliação, que será liberado no ano que vem.
O primeiro rascunho, ao qual a BBC teve acesso, sugere que as projeções de aumento de temperaturas em até 5,8 ºC não mudaram muito desde o último relatório, em 2001.
Fonte: BBC Brasil
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