Medicina e direito estão entre os cursos em que haverá os maiores aumentos no número de alunos de escola pública na USP, com a aplicação do bônus de 3% para esses estudantes no próximo vestibular da Fuvest.
O benefício foi aprovado anteontem pela universidade, visando promover uma maior inclusão social na instituição.
Segundo o estudo da própria USP, ao qual a Folha teve acesso, as duas carreiras terão acréscimos superiores a 50% na quantidade de candidatos provenientes do ensino médio público em suas salas. Como regra geral, a bonificação terá maior impacto nas carreiras com maior competitividade entre os vestibulandos, em que às vezes um ponto define a classificação de um candidato.
Esse é o caso de medicina, curso com a maior nota de corte de todo o vestibular (73 em 100 possíveis). No último exame, das 375 vagas oferecidas, 22 foram ocupadas por alunos de escola pública. Com a aplicação do bônus, o número subiria para 35 -variação de 59,1%. Em direito, o aumento na aprovação seria de 52,4%.
Por outro lado, não haveria mudança em artes cênicas e licenciatura em geociências.
Considerando todos os cursos, a universidade espera que o número de alunos de escola pública convocados suba dos atuais 23,6% para 30%, variação de 27%.
O maior aumento percentual de alunos da escola pública ocorreria em artes plásticas, que teve cinco chamados da rede pública neste ano e passaria a ter dez. Porém, pesquisadores dizem que, como o universo dessa carreira é reduzido (cinco alunos), a projeção estatística pode não se repetir.
Para Glaucius Oliva, um dos autores da pesquisa, a bonificação não foi dada devido à “bondade” da universidade.
“Também estamos nos beneficiando ao trazer esses estudantes para a USP”, disse Oliva. “Se com todas as condições adversas na escola pública eles chegaram perto da nota de corte, isso quer dizer que eles têm um grande potencial.”
Como sustentação científica para essa afirmação, Oliva cita o estudo feito pela Unicamp em 2004, que apontou que os alunos da rede pública tiveram um desempenho 4% superior aos da rede particular, considerando a evolução entre a nota do vestibular e os resultados ao final do curso de graduação.
“Isso ocorre porque o nosso vestibular atrai os melhores alunos da escola pública. Privilegiamos o raciocínio, não o conteúdo”, disse o coordenador-executivo da comissão que organiza o processo seletivo da Unicamp, Leandro Tessler. Tessler considerou um “avanço” o sistema adotado pela USP. “Fico satisfeito que eles tenham privilegiado o mérito e não as cotas”, declarou.
Há dois anos, a Unicamp concede 30 pontos em seu vestibular para os alunos da rede pública, o que representa entre 4,5% e 9% da nota. Com o benefício, houve um acréscimo de 16% no ingresso desses alunos.
Na USP, a bonificação concedida será de 3%, e o acréscimo esperado, de 27%. “Torço para que a USP consiga isso, mas acho difícil”, afirmou o coordenador de pesquisa do vestibular da Unicamp, Maurício Kleinke.
Já o coordenador do Movimento dos Sem Universidade, Sérgio Custódio, afirmou que a medida da USP foi “acanhada”.
“No curso de direito, mesmo com a bonificação, menos de 15% dos alunos seriam da rede pública, sendo que 85% das matrículas do ensino médio estão nesse sistema. A comparação mostra tudo. [Folha de S. Paulo]
Bônus ajuda mais candidatos a medicina
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