“Viajar o mundo inteiro sem gastar nenhum tostão”. Esse trecho de uma música de sucesso do conjunto Paralamas do Sucesso remete à idéia do jovem que embarca em aventuras sem a devida precaução e acaba se metendo em enrascadas. Afinal, viajar para Europa e Estados Unidos, sonho de consumo da classe média brasileira, exige gastos elevados.
Hoje em dia, porém, jovens universitários estão combinando o desejo de passar uma temporada no exterior com a possibilidade de ganhar dinheiro. Trabalhando legalmente nos Estados Unidos como garçons, atendentes e babás , eles conseguem trazer de volta quantias que variam entre US$ 1.500 e US$ 6 mil.
É o caso do estudante de Farmácia, Marcelo Magalhães, de 23 anos, que se diz uma pessoa controlada quando o assunto é dinheiro. O hábito de poupar teve início aos dez anos, quando passou a receber uma pequena mesada dos pais. Na primeira quantia recebida, perguntou-se o que faria com aquele dinheiro. Resolveu pedir para a mãe guardá-lo. Aplicada na caderneta de poupança todos os meses, a mesada se transformou em uma reserva de R$ 9 mil quando Magalhães completou 22 anos.
Foi quando ele resolveu trabalhar no exterior para aprimorar o inglês. Entre novembro do ano passado e abril deste ano, Magalhães trabalhou em uma estação de esqui de uma pequena cidade localizada no estado norte-americano de Utah.
O estudante desembolsou US$ 3.500 com o programa, incluindo as taxas de aeroporto e documentos, como passaporte e visto. A presença de tantos estrangeiros e a ausência de escola de idiomas na cidade o fez perceber que dificilmente conseguiria aprimorar sua habilidade com o inglês. Decidiu então trabalhar duro para fazer valer o dinheiro investido e ainda acumular recursos para passear.
Morando em uma casa com mais de 19 pessoas de várias nacionalidades, dava expediente na padaria de um resort, onde era responsável por fatiar bolos e tortas. Magalhães também trabalhava em um hotel, no departamento de achados e perdidos.
Ao voltar para o Brasil, trazia na mala US$ 5 mil. Resultado: além de conhecer outro país, acumulou US$ 1.500. “Poderia economizar mais. Aproveitei parte do dinheiro para comprar aparelhos eletrônicos e viajar. Fui a Las Vegas, Flórida e Miami”, conta Marcelo Magalhães.
As mulheres têm a oportunidade de ingressar nos programas de au pair e trabalhar como babá por um ano. Foi o que fez a estudante de Direito Patrícia Machado, de 24 anos. Em abril do ano passado, ela deixou o emprego de assistente administrativa e viajou, em programa da Student Travel Bureau (STB), para o estado norte-americano de New Jersey.
As despesas com a viagem, incluindo o programa e a documentação, giraram em torno de US$ 1.500. Além de garantir moradia, alimentação e assistência média, a estudante recebia uma ajuda de custo de US$ 180 por semana. “Também fiz cursos gratuitos oferecidos pelo programa, como inglês e cultura americana”, conta Patrícia Machado. “Com o dinheiro da ajuda de custo, viajava nas folgas e finais de semana.”
A estudante voltou ao Brasil em abril deste ano e, além da experiência de viver em outro país, trouxe na bagagem US$ 3 mil. Como o programa reembolsa os participantes que cumprem as condições estabelecidas com US$ 500, Patrícia Machado conseguiu acumular US$ 3.500. Retirando os gastos de US$ 1.500 com a viagem, ela ficou com um saldo positivo de US$ 2 mil.
Ela pretende poupar o dinheiro, que será utilizado para custear estudos. A estudante pensa fazer um curso para aprender a investir em ações.
“Além da incrível experiência pessoal de conhecer outra cultura e a possibilidade de aprimorar o inglês, é possível juntar dinheiro”, diz Patrícia Machado.
De fato, a poupança formada a partir de uma temporada de trabalho no exterior pode ser um estímulo adicional . Imagine um jovem que, após converter os dólares, constate que acumulou com a viagem R$ 6 mil. Em vez de gastar todo o dinheiro, pode optar por investir uma parte (R$ 4 mil).
Em uma aplicação conservadora com rendimento médio de 0,8% ao mês, teria ao final de cinco anos aproximadamente de R$ 6.400. Caso mantivesse a aplicação por 10 anos, as reservas atingiriam R$ 10.400. Se poupar esse dinheiro conquistado no exterior e ainda aplicar R$ 100 por mês, em cinco anos terá acumulado R$ 14.100. Em dez anos, as reservas atingiram R$ 30.400.
Segundo o consultor Erasmo Vieira, da Planner Finanças Pessoais , como possuem um horizonte de tempo maior, os jovens podem destinar parte do dinheiro para renda variável.
“Pessoas na casa dos 20 anos não têm por que adotar somente aplicações conservadoras. É a hora de arriscar um pouco mais em busca de ganhos maiores “, afirma Erasmo Vieira.
Se correr mais riscos e obtiver uma rentabilidade média de 2% ao mês, ao final dos primeiros cinco anos o jovem terá R$ 24.500. No dobro do prazo, acumulará por volta de R$ 91.800. Dez anos pode parecer muito tempo. Mas no caso de jovens de 24 anos, isso significa contar com um patrimônio de R$ 91.800 aos 34 anos com apenas uma temporada de trabalho no exterior e aplicações de somente R$ 100 por mês. [DCI]
Universitário pode combinar viagem com investimento
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