Cotidiano

Ensino de ciência busca seu eixo

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A crise mundial do ensino de ciências pode ficar mais evidente com os resultados da maior avaliação internacional de educação, o Pisa, que será realizado em agosto em 57 países. Especialistas brasileiros e estrangeiros estão certos de que a ciência da sala de aula é abstrata e distante demais da ciência real. A curiosidade das crianças não é aguçada, há cada vez menos professores interessados em ensinar a disciplina e, conseqüentemente, cada vez menos cientistas.

O Brasil terá cerca de 12 mil estudantes de 15 anos no Pisa, que é realizado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômicos (OCDE) desde 2000 e neste ano será focado em ciência. Eles serão questionados sobre assuntos como a razão da escuridão e da claridade na Terra e clonagem. “No Brasil, os materiais são insuficientes, os professores não foram bem formados, não se incentiva o ensino de ciência na escola pública”, diz a secretária paulista de Ciência e Tecnologia, Maria Helena Guimarães de Castro.

Segundo pesquisas da Fundação Getulio Vargas (FGV), só 5,4% das escolas públicas de ensino fundamental e 37% das de ensino médio têm laboratório de ciência. No setor privado, os índices são de 31% e 66%, respectivamente. O governo federal só em 2005 passou a comprar livros didáticos para o ensino médio, mas apenas para português e matemática. Biologia deve começar no ano que vem.

“A ciência serve para desenvolver na criança a curiosidade pela informação”, diz Maria Helena. “Ela dá condições para entendermos riscos e benefícios, sem acreditar demais nas coisas ou desacreditar totalmente”, afirma o presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Ennio Candotti.

Para o vice-ministro de Educação, Ciência e Tecnologia da Argentina, Juan Carlos Tedesco, o conhecimento científico é essencial para o exercício da cidadania. “Para fazer uma decisão consciente e reflexiva é necessário ter domínio de conhecimentos técnico-científicos. Hoje, os riscos enfrentados pela sociedade estão relacionados a eles, como aids, vaca louca, buraco na camada de ozônio, destruição nuclear.”

Na sexta-feira, a Organização dos Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI) publica trabalho de Tedesco sobre o ensino de ciência. A Argentina participa do Pisa este ano e, como o Brasil, teme maus resultados. O ensino na área também preocupa os EUA (ver texto abaixo). Um documento recente do governo do país pede o recrutamente de 10 mil professores de matemática e ciência, com bolsas para aspirantes à carreira. Na Alemanha, o número de estudantes de física caiu um terço nos anos 90 e na França, tem diminuído a quantidade de candidatos a carreiras científicas nas universidades.

MAIS DISCUSSÃO

“Há falta de professores de ciência no mundo todo. Pessoas que têm conhecimentos em física, química ou biologia têm outras oportunidades de emprego que pagam melhor”, diz o educador inglês Jonathan Orborne, do King´s College, em Londres, cujos livros foram fonte para os elaboradores do Pisa e que esteve no Brasil este mês. Para ele, a ciência às vezes se torna difícil de ensinar porque os resultados são exatos, sem interpretações. “A ênfase fica em passar informações. Mas o professor pode se preocupar menos em passar a idéia correta e mais em discutir porque outra idéia está errada”, diz. “Os jovens gostam de discussão.”

A Sangari, uma multinacional inglesa que desenvolve metodologias educacionais, começou há nove anos um projeto de ensino de ciência no Brasil. Os professores são treinados a incentivar o aluno a formular hipóteses, fazer pesquisas e registrar seus métodos e conclusões, como no Colégio Stella, na Freguesia do Ó.

O programa foi avaliado positivamente pela Unesco e está em 200 escolas. “Eu acho até bom que não haja laboratórios nas escolas. A melhor maneira de fazer ciência é fora do laboratório para que a criança perceba que ela faz parte da vida dela”, diz Ben Sangari, presidente da empresa.

Foram escolhidas, por sorteio, 633 escolas públicas e privadas do País para participar do Pisa. Ele é feito pelo Instituto de Estudos e Pesquisas Educacionais do Ministério da Educação (Inep/MEC) [O Estado de S. Paulo]

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