O real, a moeda que deu a Fernando Henrique Cardoso (PSDB) dois mandatos de presidente da República, continua sendo o instrumento eleitoral que decidirá a sucessão presidencial. A ironia é que desta vez a moeda servirá de cabo eleitoral do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que deve disputar a reeleição. “O susto moral provocado pela crise do mensalão passou, e o real tornou-se novamente o grande eleitor. Isso é a chave de tudo nesta eleição”, afirma Ricardo Guedes, do Instituto Sensus, que durante a semana apresentou Lula como candidato praticamente imbatível, com grande chances de ganhar a eleição já no primeiro turno.
Há 12 anos, quando o real foi criado, Lula não só não acreditou na efetividade da moeda como iniciou campanha nacional para denunciar o estelionato provocado pelo seu suposto uso eleitoral. Quatro anos depois, o presidente aumentou o tom e, com certa razão, atribuiu a Fernando Henrique a prática de um populismo cambial. Perdeu no primeiro turno para um adversário invisível: a estabilidade da moeda. Agora, com o real de novo sobrevalorizado, Lula já está quase lá.
Para Guedes, o PT está dando o troco no PSDB. O partido teria varrido para debaixo do tapete o escândalo do mensalão e se consagrado como o gestor de uma nova fase de estabilidade e prosperidade. “Lula conseguiu aliar a estabilidade da moeda à criação de meio milhão de empregos, ao aumento do salário mínimo e à criação de programas sociais que fazem com que Lula seja identificado como um novo pai dos pobres. Como Getúlio Vargas, Lula botou comida na boca dos pobres. Geraldo Alckmin, do PSDB, poderá ter o mesmo destino de Cristiano Machado, o candidato escolhido para perder”, exagerou.
HERANÇA
Outro instituto, o Ibope, de Carlos Augusto Montenegro, vai além. De acordo com as pesquisas de campo, depois da crise do mensalão, até o perfil do eleitor do PT mudou. “O eleitorado de Lula era composto por gente de nível cultural elevado, de classe média, formado por artistas, jornalistas, professores e universitários. Após a crise, o eleitorado de Lula passou a ser gente do povo, o mesmo tipo de eleitor que elegeu Fernando Henrique duas vezes. O Alckmin é que herdou o eleitorado perdido por Lula, aquele formado pela classe média alta.”
Essa inversão, segundo o Ibope, solidifica ainda mais a perspectiva de reeleição de Lula. “Hoje, Lula conta com os mesmos votos que tinha Fernando Henrique quando se elegeu presidente”, disse Montenegro.
Na contramão, Marcos Coimbra, do Vox Populi, opina que ainda é muito cedo para antecipar um vencedor. Nas suas contas, Lula somente lidera a corrida presidencial porque é de longe o candidato mais conhecido do eleitorado.
Pelo menos dois terços dos eleitores conhecem o presidente, enquanto os outros candidatos somente são reconhecidos por um terço. Para se ter uma idéia do nível de desconhecimento, ele lembra que apenas 35% dos eleitores sabem que Alckmin foi governador de São Paulo. Essa situação, segundo ele, mudará com a exposição dos candidatos na TV. “Junho será decisivo para Alckmin. O PSDB terá uma série de inserções nos Estados e o candidato deverá crescer dez pontos.”
Ex-cabo eleitoral de FHC, real vai ajudar Lula agora
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