Trânsito caótico. Eis uns dos grandes problemas de qualquer metrópole. São Paulo que o diga. A falta de uma estrutura viária adequada e o excesso de veículos são alguns dos fatores que constroem um cotidiano de engarrafamentos monstruosos. Neste cenário, é muito comum pessoas ficarem, em média, duas ou três horas diárias no trânsito paulistano.
Supondo que um indivíduo que trabalha de segunda a sexta-feira e encara todos os dias duas horas de engarrafamento para ir e voltar do trabalho, ele perde cerca 40 horas por mês de seu tempo dentro do carro. É como se alguém ficasse quase o fim de semana inteiro parado e submetido ao estresse provocado pelas poluições do ar, sonora, visual e pela dor provocada pela fadiga muscular. Estresse esse que pode transformar-se em transtornos psicológicos e, talvez, em doenças do coração. Portanto, saber lidar com esse problema já não é apenas mais uma questão de tempo, mas de saúde.
O sociólogo José Fernando Puccini leva, todos os dias, cerca de uma hora para ir da sua casa, que fica no bairro da Lapa, zona oeste de São Paulo, para ir à faculdade onde cursa jornalismo, que fica na Vila Olímpia, zona sul. “Sem trânsito, levaria 20 minutos para chegar à faculdade. Mas já cheguei a ficar até duas horas para fazer o caminho” conta.
Por isso, para evitar o trânsito carregado, Puccini tem de sair de casa às 17h, sendo que a aula começa às 19h30. “Às vezes eu prefiro fazer um caminho mais longo, onde em sei que não vou pegar trânsito, do que ficar horas parado no mesmo lugar” diz. Assim, ele reserva aproximadamente duas horas por dia para chegar à faculdade apenas para fugir dos engarrafamentos. “Se saísse de casa às 18h30, só ia aparecer na faculdade lá pelas 20h30. Além de perder aula, acho que não conseguiria enfrentar uma situação dessa todos os dias” completa.
Quando não consegue escapar dos congestionamentos, Puccini é do tipo que deixa toda a sua irritação dentro do carro. “Sempre que chego em casa irritado por causa do trânsito, procuro fazer alguma coisa que me agrade pra aliviar a tensão. No meu caso eu gosto muito de cozinhar. Não acho justo descarregar um problema tão comum como esse em cima de outras pessoas” afirma.
No entanto, nem todos agem como o sociólogo. É comum o motorista descarregar a tensão em alguma coisa ou alguém, provocando os outros motoristas e realizando “barbeiragens” pelas ruas. Um comportamento como esse prejudica o relacionamento no trabalho e na família, além de aumentar o risco de acidentes.
Segundo a psicóloga, Adriana de Maio, em uma situação como essa uma pessoa pode desenvolver um nível de estresse que vai acabar influenciando em todas as áreas de sua vida.
Se uma pessoa chegar ao trabalho ou em casa todo o dia estressada, qualquer outro estímulo negativo será um agravante para gerar mais estresse. “Não existe um padrão para o comportamento das pessoas, pois cada um carrega sentimentos, conflitos, traumas que são bastante particulares. Dependendo de cada caso, o indivíduo pode desenvolver fobia, Síndrome do Pânico, estresse, TOC (transtorno obsessivo compulsivo), entre outros” explica.
No caso do taxista Antonio Ribeiro, o trânsito faz parte do seu dia-a-dia. Experiente, ele dá a receita de como suportar o problema. “Por mais que tenha trânsito eu consigo escapar. Quando a gente faz a saída, já tem um caminho em mente e no decorrer do trajeto vai imaginando onde o trânsito pode estar fluindo melhor. Desse jeito, a gente sempre acaba conseguindo dar uma escapadinha” diz.
De acordo com Ribeiro, pesquisar caminhos alternativos e utilizar um guia de ruas atualizado é uma boa forma de se preparar. “Tenho que contar com meu conhecimento, com a sorte e sempre pedir também a Deus que abra os caminhos, pois Deus tem o poder de guiar e nos dar a sorte de pegar o melhor caminho” relata o religioso taxista.
A dor provocada pelas horas sem se mexer também é um forte agravante para a irritabilidade e o estresse. Depois de algumas horas ao volante a pessoa fica tensa, e sem perceber começa a contrair o pescoço e outras partes do corpo.
Uma dica é fazer exercícios quando o trânsito estiver parado. Mexer os pés e o pescoço, e espreguiçar-se ajuda a relaxar os músculos tencionados. Ligar o som para ouvir notícias ou música ajuda a relaxar. Além disso, evite manter o pé no pedal da embreagem sem necessidade, pois isso evita que as pernas fiquem mais cansadas.
Já para casos em que o trânsito carregado é inevitável, a ajuda médica não está descartada. “Para esses casos, a melhor seria a Terapia Comportamental, que vai ajudar o paciente a lidar com as situações que tem que enfrentar. É sempre bom pessoas que costumam passar por momentos de grande tensão, procurar uma terapia. Isso vai ajudá-la a saber lidar com o momento de estresse”, alerta Adriana. A Terapia Comportamental é uma abordagem aos problemas psicológicos baseada análise experimental do comportamento humano.
Fonte: Carsale