A América Latina vive uma crise de governabilidade sem precedentes, conseqüência do esgotamento dos partidos políticos, afirmaram hoje ex-presidentes e acadêmicos reunidos em São Paulo no IV Encontro do Grupo de Biarritz.
Os participantes do fórum discutiram a governabilidade na América Latina, o futuro dos partidos e dos movimentos sociais, e destacaram que as instituições políticas vivem um dos momentos mais difíceis da história porque não se adaptaram às mudanças sociais.
“A crise dos Governos na América Latina é a crise dos partidos políticos, que têm sido incapazes de liderar propostas de mudança”, disse o ex-presidente colombiano Ernesto Samper (1994-1998), que dirige a Corporação Palcos, uma das organizadoras da reunião.
Samper declarou que enquanto em alguns países, como o Brasil, há excesso de partidos, em outros, como a Venezuela, há ausência deles.
Para o ex-presidente colombiano, as principais legendas de seu país natal estão em decadência. Ele referia-se aos partidos Liberal e Conservador, que durante mais de um século foram hegemônicos.
O Partido Liberal ficou em terceiro lugar no pleito do último domingo, no qual foi reeleito o presidente Álvaro Uribe, do movimento Primeiro Colômbia, enquanto o partido Conservador nem sequer apresentou candidato, optando por apoiar a candidatura do governante.
“Em termos de governabilidade, estamos atravessando um momento extraordinariamente difícil devido ao desmoronamento dos partidos tradicionais e o surgimento de movimentos sociais não necessariamente ideológicos”, disse à Efe o ex-presidente boliviano Carlos Mesa.
Mesa, que governou a Bolívia de outubro de 2003 a junho de 2005, um dos períodos mais turbulentos da história recente do país, assinalou que a crise dos partidos “debilita o Poder Executivo perante os movimentos sociais”, algo que ele próprio constatou durante seu curto mandato.
Também participam do IV Encontro do Grupo de Biarritz, que terminará amanhã, os ex-presidentes Eduardo Duhalde (Argentina), Jaime Paz Zamora (Bolívia), Rodrigo Carazo (Costa Rica), Rodrigo Borja (Equador), Ernesto Pérez Balladares (Panamá) e Mário Soares (Portugal).
O sociólogo francês Alain Touraine, presidente da Escola de Altos Estudos de Ciências Sociais, opinou que as instituições políticas da América Latina estão em uma “crise profunda”, por causa do que chamou de “fraqueza dos componentes da democracia”.
“Não há sistema democrático sem fortes conflitos, sem união nacional e sem capacidade de negociação e mudança”, opinou Touraine.
A necessidade de que as instituições políticas se adaptem às mudanças impostas pela sociedade também foi afirmada pela socióloga e ex-primeira-dama brasileira Ruth Cardoso, que declarou que “os partidos têm dificuldades para responder e dialogar com os movimentos sociais”.
“Os movimentos sociais incorporaram conflitos latentes não assumidos na linguagem das instituições e, com isso, se transformaram em atores do cenário político”, afirmou a ex-primeira-dama.
O mexicano Cuauhtémoc Cárdenas declarou à Efe que os dirigentes políticos têm que “tomar consciência das mudanças que estão ocorrendo nas relações entre movimentos sociais, partidos e Governos” para poder resolver os profundos problemas sociais e econômicos da América Latina.
Como saída à crise de governabilidade e dos partidos, Ernesto Samper propôs que a América Latina adote um modelo “semi-parlamentarista”, que diminua o poder dos presidentes.
“A América Latina tem o pior do presidencialismo dos Estados Unidos sem os benefícios do sistema parlamentarista europeu, como a antecipação de eleições e o voto de censura”, sustentou.
O Grupo de Biarritz tem como objetivo o debate de assuntos relacionados à governabilidade na América Latina.
As conclusões da reunião de São Paulo serão debatidas no VII Fórum de Biarritz, que acontece nos dias 5 e 6 de outubro na cidade francesa de mesmo nome.
Agência EFE
Crise de partidos políticos enfraquece Governos latino-americanos
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