A bebida mexe com o espírito, com a razão e os humores. Iras, ironias e sarcasmos afloraram em alguns comentários quando abordei o uso do álcool de forma ocasional para celebração ou relaxamento e quando em seguida escrevi sobre seu poder destruidor a partir de seu uso crônico. A citação sobre a cerveja incomodou, mexeu com algo íntimo ligado à atração e/ou repulsa. Talvez o assunto tenha remetido à situações mal vivídas, às vezes em relacionamentos próximos ou quem sabe, na própria família. O fato é que, sem dúvida, o álcool é descrito como uma droga psicoativa, depressora do sistema nervoso central, desinibidora e euforizante. Pode ser usado por quem sabe usá-lo, mas o que ocorre é que comumente, quem não sabe, pensa que sabe ou se engana dizendo saber.
Sabe beber aquele que evita os excessos, os porres, as inconvenências e os vexames. Sabe beber aquele que quando bebe não dirige. Sabe beber a maioria da população, uma vez que a maioria não é alcoólatra. Se você é adulto não alcoólatra e aprecia a cerveja ou vinho nos finais de semana, não há por que dizer não à estas bebidas, desde que não sejam em excesso e não atrapalhem a sua saúde e harmonia. O uso moderado é mediado pelo bom senso, é subjetivo. A moderação é relativa, depende da sensibilidade de cada um.
O alcoolismo é difícil de ser definido em termos numéricos ou quantitativos de ingestão alcoólica. Dependendo do referencial, a grande maioria da população européia pode ser vista como alcoólatra, por beber vinho ou cerveja, nas refeições. Por isso, prefiro a definição que diz que "o alcoolismo é toda forma de consumo de bebidas alcoólicas que ultrapassa o uso tradicional, ou que não está de acordo com as normas sociais estabelecidas dentro de um marco cultural dado". Esta definição, proposta por um comitê de especialistas da OMS-Organização Mundial da Saúde, reflete a relatividade dos conceitos sobre o alcoolismo em diferentes culturas.
O álcool é a droga mais consumida na sociedade por ser permitida e dependendo da escolha, bem barata, ao alcance de todos. É a droga mais consumida nas favelas e nos endereços nobres, entre jovens, adultos e idosos. Certamente por isso incomodou e gerou polêmica.
Fonte: O Globo