Washington – O Partido Democrata conquistou a maioria dos assentos na Câmara de Representantes dos Estados Unidos pela primeira vez desde 1994, após tirar dos republicanos 28 cadeiras nas eleições legislativas nas eleições desta terça-feira (7).
O resultado, ainda parcial, é uma derrota política para o presidente do país, o republicano George W. Bush, e revela a insatisfação dos norte-americanos com sua administração -principalmente com relação à guerra no Iraque, que já matou quase 3.000 soldados.
A disputa pelo Senado segue indefinida até a manhã desta quarta-feira. Ainda há dois estados em que a contagem continua apertada. E os democratas precisam ganhar nos dois para obter o controle da Casa.
Como a diferença de votos entre republicanos e democratas é muito pequena (de menos de 2.000 votos em Montana e cerca de 8.000 votos em Virgínia), analistas prevêem que haverá pedidos de recontagem de votos. Se isso ocorrer, a definição sobre o controle do Senado pode se arrastar até dezembro.
Veja fotos dos democratas comemorando a vitória na Câmara dos Representantes (o equivalente à Câmara dos Deputados no Brasil) e outras imagens da eleição nos Estados Unidos.
A vitória democrata na Câmara será importante para o partido tentar impor sua agenda política nos próximos anos -o que deve incluir uma retirada de parte das tropas norte-americanas do Iraque a curto ou médio prazo. Também terá grande impacto nas eleições presidenciais de 2008.
Às 2h50 (horário de Brasília) a Casa Branca admitiu oficialmente a vitória da oposição democrata na corrida pelo controle da Câmara de Representantes. E destacou sua vontade de trabalhar com a nova maioria sobre temas como o Iraque, a guerra contra o terrorismo e a questão econômica.
O presidente dos Estados Unidos, o republicano George W. Bush, disse estar decepcionado com a vitória democrata.
Já os democratas receberam os resultados parciais com satisfação. A líder do partido na Câmara de Representantes, Nancy Pelosi, que deverá ser a presidente da Câmara, fez uma breve aparição numa festa democrata, num hotel de Washington. "Obrigado por nos trazerem aqui", disse ela a seus partidários, enquanto a audiência cantava: "Presidente, presidente".
Em discurso para os democratas, ela disse que os americanos foram muito claros nesta eleição: é necessário uma mudança de direção no Iraque. "Continuar com a atual política não tornou nosso país mais seguro, não honrou nosso compromisso com nossos soldados e não reforçou a estabilidade na região do Oriente Médio", afirmou.
Além da Presidência da Câmara de Representantes, os democratas também comandarão as comissões que elaboram os projetos legislativos e supervisionam áreas como o funcionamento das Forças Armadas, a política externa e o orçamento.
Uma vitória democrata representa um grande abalo no governo Bush que terá duas conseqüências diretas.
Em primeiro lugar, e a curto prazo, os republicanos serão forçados a fazer mudanças em sua política interna (rever o corte de impostos e as restrições às liberdades individuais adotada na guerra contra o terrorismo) e externa (principalmente em relação ao Iraque, com uma provável retirada de parte das tropas de volta aos Estados Unidos).
Em segundo lugar, terão mais dificuldades para manter a Presidência nas eleições de 2008, já que um Congresso majoritariamente democrata deve levar a um desgaste maior da atual administração.
As mudanças de rumo são inevitáveis dada a força do Parlamento na democracia norte-americana. Lá, o sistema é o presidencialismo, assim como no Brasil. Mas, diferentemente daqui, onde o presidente consegue governar por medida provisória, independentemente da vontade dos deputados e senadores, nos Estados Unidos o poder dos parlamentares é maior. E eles podem, sim, amarrar as decisões presidenciais.
Destaques
Dois dos candidatos mais famosos nesta eleição se elegeram. O republicano Arnold Schwarzenegger se reelegeu governador da Califórnia. O resultado da Califórnia é relevante por se tratar do estado mais povoado e rico do país.
Já a democrata Hillary Clinton, mulher do ex-presidente Bill Clinton, é a nova senadora por Nova York. Ela é cotada para a disputa presidencial de 2008.
Os norte-americanos também elegeram seu primeiro deputado muçulmano (Keith Ellison, advogado que propôs a retirada das tropas americanas do Iraque) e o segundo governador negro da história do país (Deval Patrick, em Massachusetts).
Governadores
Os democratas também superaram os republicanos no número de governadores eleitos e, pela primeira vez em 12 anos, terão a maioria dos estados.
Com as vitórias em Massachusetts, Ohio, Nova York, Arkansas, Colorado e Maryland, os democratas terão o controle dos governos de pelo menos 28 estados, ou seja, a maioria do país. A posição representa uma vantagem para as eleições presidenciais, daqui a dois anos.
O outro grande vencedor do dia foi o procurador-geral de Nova York, Eliot Spitzer. "De agora em diante, precisamos de uma política que nos una, que pense no futuro", disse ele em comunicado, após a confirmação de sua vitória, já esperada.
Jeb Bush, irmão do presidente George W. Bush, encerrou seu ciclo à frente do Estado da Flórida. No entanto, ele deixou o estado nas mãos de um companheiro de partido, o procurador-geral Charlie Crist.
Além de Nova York, os candidatos democratas venceram nos estados de Ohio e Massachusetts. Foram vitórias muito relevantes, levando-se em conta que seus governadores eram republicanos desde 1986.
Em Massachusetts, o democrata Deval Patrick será o o segundo governador negro da história dos EUA. Patrick, que foi diretor do Escritório de Direitos Civis durante o mandato do ex-presidente Bill Clinton, superou o vice-governador, o republicano Kerry Healey.
Em Ohio, Ted Strickland venceu o republicano Ken Blackwell.
No Colorado, um Estado de maioria republicana nas três últimas eleições presidenciais, o democrata Bill Ritter venceu seu adversário, o republicano Bob Beauprez.
Em Michigan, onde a disputa estava praticamente empatada, a governadora Jennifer Granholm venceu o empresário Dick DeVos. Ele investiu boa parte de sua imensa fortuna pessoal na campanha, culpando a situação pela deterioração econômica do Estado, berço da indústria automobilística.
Wisconsin, outro Estado do norte, também ficará com os democratas, graças à vitória do atual governador, Jim Doyle, sobre o republicano Mark Green. Arkansas também optou por um democrata, o procurador-geral Mike Beebe.
Texas, grande reduto conservador e terra do presidente Bush, continuará com um republicano à frente. Rick Perry venceu o músico e escritor Kinky Friedman.
Fonte: Globo.com